Brasil: um celeiro de inovação a base de ativos naturais
Quando o assunto é biodiversidade, o Brasil ganha os holofotes do mundo
Quando o assunto é biodiversidade, o Brasil ganha os holofotes do mundo. Isso não acontece à toa, pois o país detém quase 20% da fatia global. Conta com uma variedade gigantesca de bioinsumos presentes em vários biomas, cujo potencial de serem transformados em produtos de alto valor agregado é imenso.
Esse universo tem chamado a atenção do mercado, que vem buscando formas de explorar essas possibilidades de forma sustentável, gerando estímulos importantes para o avanço da economia brasileira. Apesar de ainda estar engatinhando no Brasil, há um grande volume de startups envolvidas na produção de inovação com esses ativos naturais.
O país se tornou o segundo maior mercado das chamadas deep techs, startups que estão focadas no desenvolvimento desse tipo de inovação. De acordo com um relatório feito pelo Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB Lab), o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países com mais deep techs, que, no continente sulamericano, movimenta cerca de US$ 8 bilhões ao ano, cujo montante tem a possibilidade de crescer ainda mais.
Dos laboratórios de empresas, como a Beeotec, têm surgido inovações que podem ganhar escala e revolucionar mercados. Do nosso lado, estamos trabalhando incansavelmente no desenvolvimento de uma plataforma tecnológica de baixa toxicidade feita a partir de bioinsumos que pode originar diversas formulações em segmentos como pecuária, alimentos, veterinário, saúde, beleza, entre outros.
Para promover escala a esses produtos, acreditamos na força da inovação aberta, tendo a indústria como parceira para o fornecimento dos insumos e licenciamento da tecnologia. Isso coloca os bioinsumos locais em um patamar superior, com mais valor agregado – até então eram, na maioria, exportados como commodities – gerando royalties, renda e emprego no Brasil.
Sei que ainda estamos no começo da caminhada. A estrada é muito próspera para um futuro não tão longínquo, mas para que ela se torne ainda mais, é preciso fazer alguns ajustes de rota.
Brasil ainda carece de melhorias
Estamos em um país que atualmente investe pouco em ciência, tem um arcabouço regulatório que precisa de ajustes, entre outras pedras que continuam no caminho. A demora para aprovar uma inovação localmente ainda é significativa – pode levar anos para o sinal verde e mais alguns anos para ganhar escala na indústria – o que para uma startup pode significar a sua vida. Ela pode fechar as portas antes de ver seu produto aprovado.
A colaboração entre academia, mercado e órgãos reguladores tem evoluído – ainda que mais lentamente do que poderia, diferentemente da Europa e Estados Unidos. Crescentes iniciativas no sentido de fomentar essa aproximação são louváveis, mas ainda esbarram na falta de alinhamento, recursos, infraestrutura e foco em pesquisa aplicada além dos centros de excelência.
Isso limita a aplicabilidade prática de resultados de estudos, pesquisas e testes realizados junto à Academia em processos de aprovação regulatória, por exemplo, que poderiam baratear e acelerar o surgimento de soluções para demandas reais, dando origem a produtos que poderiam ser patenteados localmente, reforçando nossa vocação como importantes atores nessa jornada.
Para garantir que o Brasil ganhe status de grandeza na geração de inovação local, é fundamental que essas barreiras sejam superadas. Acelerando a superação a esses entraves, vamos conseguir gerar negócios sustentáveis com forte impacto econômico. Todo mundo ganha, inclusive o consumidor.
Por Erlei Guimarães. Fundador e CEO da Beeotec, startup que utiliza química verde para criar ativos para os setores de saúde, agropecuária, cuidados pessoais e sanitização médico-hospitalar.