Aprovada para tratamentos de saúde, edição genética também é aliada para produção sustentável de alimentos
A edição genômica é uma técnica que permite fazer pequenas alterações no genoma de um ser vivo para um propósito específico, sem a inserção de genes de outros organismos
No fim de 2023, Reino Unido e Estados Unidos foram os primeiros a aprovar um novo tratamento de saúde que tem como base a técnica de edição genética conhecida como CRISPR-Cas9, que permite “reescrever” parte do código do DNA para corrigir erros.
A terapia será usada para casos graves das doenças anemia falciforme e talassemia beta, dois distúrbios do sangue. As aprovações dão sinal verde para que a edição genômica se popularize e abra uma nova fase de estudos, buscando a cura de doenças graves.
Além da saúde, a técnica CRISPR também tem aplicação na agricultura. Uma das biotechs brasileiras que usa esta tecnologia para mudar o cenário da produção global de alimentos é a InEdita Bio, empresa de inteligência em Life Science que utiliza a engenharia molecular e a edição genômica para produzir alimentos de forma mais sustentável.
O que é a edição genômica?
De maneira simplificada, a edição genômica é uma técnica que permite fazer pequenas alterações no genoma de um ser vivo para um propósito específico, sem a inserção de genes de outros organismos – como acontece nos transgênicos.
“Comparo a edição genética a editar um texto. Você não o reescreve ou promove grandes mudanças, apenas corta as partes com problemas, acrescenta uma vírgula e aprimora alguns aspectos para que o todo funcione melhor. A edição genômica é uma “nature-based solutions” (solução baseada na natureza), pois reproduz alterações naturais que acontecem nos genomas de todas as espécies vivas. Ou seja, não é um Organismo Geneticamente Modificado (OGM)”, resume Paulo Arruda, CEO da InEdita Bio.
No caso do CRISPR, a técnica de edição genômica foi desenvolvida pelas cientistas Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier, que se inspiraram no mecanismo natural de defesa da bactéria Streptococcus pyogenes contra vírus para criar a chamada “tesoura genética” – que permite fazer pequenas alterações em uma sequência de DNA em um ponto exato para, por exemplo, corrigir uma mutação genética causadora de uma doença.
Na agricultura, a edição genômica permite corrigir e realizar pequenas modificações no genoma de uma planta, adicionando elementos reguladores que alteram a expressão de genes de bactérias, fungos e insetos, eliminando esses microorganismos e pragas. Assim, desenvolve-se plantas resistentes a pragas e doenças, reduzindo o uso de pesticidas químicos, beneficiando o meio ambiente e tornando a produção de alimentos mais sustentável.
Impacto na agricultura e produção de alimentos
A InEdita Bio criou plataformas de edição genômica para o desenvolvimento de biotech traits de alto valor, incluindo cultivares resistentes a pragas e doenças e mais resilientes a mudanças climáticas. Essas cultivares demandarão menos água, fertilizantes e pesticidas químicos. Hoje, a InEdita Bio tem como foco a soja e o milho, duas culturas de maior impacto global na produção de alimentos. Mas as plataformas InEdita podem ser aplicadas para o desenvolvimento de qualquer ‘trait” em qualquer cultura agrícola.
“Nossa plataforma permite a edição de genes-chave da própria planta, envolvidos no metabolismo celular e no desenvolvimento da mesma, possibilitando a melhoria de qualquer característica agronômica desejável. Ela pode ser utilizada com qualquer método de transfecção celular incluindo tecnologias que utilizam ferramentas biológicas como a Agrobacterium tumefaciens, ou ferramentas físicas como o bombardeamento com micropartículas ou o uso de nanotubos de carbono”, afirma Viviane Silva, Chief Scientific Officer da InEdita.
O impacto das plantas geneticamente editadas para o meio ambiente será imenso.
Hoje, 70% da água doce consumida no planeta é utilizada na produção de alimentos, segundo dados da ONU. No Brasil, onde a atividade agrícola é muito intensa, esse número pode ser ainda mais expressivo. Além disso, a produção de grãos tem, atualmente, um alto custo por conta dos insumos utilizados.
O Brasil, por exemplo, faz uso intensivo de pesticidas químicos para produção da soja, que somam um custo próximo dos 3 bilhões de dólares por ano. Nesse cenário, a edição genômica entra como aliado para a sustentabilidade da agricultura, como uma das soluções que levam em consideração a preservação do meio ambiente, a produtividade e a eficiência no campo.
“As técnicas de edição genômica representam uma das mais promissoras ferramentas para garantir a produção sustentável de alimentos para uma população global crescente. Não temos muitas alternativas que não o uso da biotecnologia para aumentar a produção agrícola sem aumentar o desmatamento. É por meio dessas novas tecnologias que poderemos garantir a segurança alimentar de toda a população e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente e minimizar o impacto das mudanças climáticas. A aprovação do CRISPR-Cas9 é mais uma aliada na popularização do conceito de edição genômica, evidenciando a importância desta técnica para avanços na saúde e na produção de alimentos, além da democratização da biotecnologia como um todo”, finaliza Arruda.