Tecnologia transforma carvão em fertilizante
A ferramenta pode auxiliar a promover a segurança alimentar no Brasil e reduzir os custos para os produtores, já que o país importa mais de 87% dos fertilizantes usados nas lavouras
O Brasil importa mais de 87% dos fertilizantes usados nas lavouras, o que causa uma dependência externa e representa diversos riscos ao país.
A boa notícia é que alguns projetos estão sendo desenvolvidos para mudar essa realidade. A indústria do carvão mineral vem trabalhando na pesquisa e desenvolvimento de soluções para produção do insumo no Brasil, com o objetivo de reduzir a dependência do país das importações e ainda com a possibilidade de diminuir as emissões de carbono.
Um desses projetos, é uma tecnologia inovadora vinda diretamente da China que usa aplicação de amônia na limpeza de metais pesados e gases emitidos pelas termelétricas, transformando o carvão em fertilizante.
Como o carvão vira fertilizante?
Fernando Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), participou do programa Planeta Campo e explicou como funciona o processo de criação do insumo, que ocorre em duas etapas da produção e resulta em dois tipos de fertilizantes.
“A primeira fase gera sulfato de amônia, já utilizado como fertilizante. A segunda acontece com a reutilização da amônia que captura o CO₂ (CCFU) transformando-o em bicabornato de amônia, produto já testado na China, Espanha e Portugal. É simples assim, você reage amônia com o CO₂ e produz o bicarbonato de amônio, que pode ser usado como fertilizante pelo produtor”, disse.
Qual sua importância?
Com a fase de testes já iniciada, pela Emater e Embrapa para mensurar a eficácia do produto, a tecnologia pode se tornar uma solução para o gargalo do Brasil em relação aos fertilizantes.
“A situação geopolítica atual, como a guerra na Ucrânia, destaca a importância de reduzir a dependência de importações, especialmente de produtos essenciais como fertilizantes. Com uma alta dependência de importações, o país fica vulnerável as flutuações nos mercados internacionais e a interrupções no fornecimento devido a conflitos geopolíticos ou outros eventos imprevistos. Portanto, investir na produção nacional de fertilizantes é fundamental para garantir a segurança e a estabilidade do fornecimento, além de proteger os produtores rurais, que dependem desses insumos para manter a produtividade de suas culturas”, destacou.
O presidente da ABCS ainda trouxe a questão da sustentabilidade à tona, já que, por utilizar do CO₂ para a produção do fertilizante, o produto retira gases de efeito estufa da atmosfera.
“O que se faz com o CO₂? Você tem que dar um uso para ele, e seu principal uso é através do fertilizante. Ao invés dele contribuir para o aquecimento global, você o coloca como um insumo importante para a produção. Isso é economia circular, onde você está pegando um resíduo, como a cinza de uma termoelétrica, e transformando-o em um produto que reduz os custos do setor agrícola”, finalizou.