Pesquisa da Embrapa com bioprodutos no feijão aponta retorno econômico de até 214%
O estudo foi realizado em municípios produtores dos estados de Goiás e Minas Gerais e comparou resultados do uso da tecnologia em lavouras comerciais e na agricultura familiar
Um estudo econômico realizado pela Embrapa Arroz e Feijão sobre o uso de produtos biológicos em coinoculação, substituindo fertilizantes nitrogenados na produção de feijão nos estados de Goiás e de Minas Gerais, apontou taxas de retorno sobre o investimento que variaram entre 190% e 214% para lavouras comerciais; e de 113% para agricultura familiar.
O estudo mostrou ainda que o custo total de produção quando do uso de fertilizante nitrogenado foi superior em 5% para lavouras comerciais e em 8,5% para a agricultura familiar em comparação aos tratamentos realizados com coinoculação.
A pesquisa abrangeu três safras com as cultivares Pérola e Notável e foi conduzida em sistema de cultivo irrigado por pivô central nos municípios goianos de Cristalina, Itaberaí e Santo Antônio de Goiás; e em Paracatu e Unaí, no estado de Minas Gerais. Na cidade de Goianésia (GO), foi conduzido o experimento em área de agricultura familiar com irrigação por aspersão.
De acordo com a Embrapa, a coinoculação é a adição de mais de um microrganismo benéfico às plantas, com o objetivo de maximizar sua contribuição. “Nesse caso específico do feijão, nós usamos uma bactéria que fixa o nitrogênio, ou seja, ela fornece nitrogênio para a planta, tornando a planta independente da adubação nitrogenada. Essa bactéria é conhecida como rizóbio. E uma outra bactéria que é o Azospirillum que consegue promover, através da síntese de fitormônios, o crescimento do sistema radicular da planta, fazendo com que a planta absorva mais águas e nutrientes”, explica o pesquisador da Embrapa, Enderson Ferreira.
O rizóbio foi usado na forma de inoculante turfoso (pó contendo a bactéria) preparado em solução para o tratamento de sementes, sendo aplicadas duas doses por hectare. No caso do Azospirillum, utilizou-se o equivalente a uma e duas doses de produto por hectare aplicadas na semente; e duas e três doses por hectare via pulverização foliar na fase vegetativa da lavoura. A fim de comparar com a adubação nitrogenada, foi adotado fertilizante nitrogenado na forma de ureia (80 quilos por hectare), distribuídos 20 quilos por hectare na semeadura e 60 quilos por hectare aos 25 dias após a emergência das plantas.
Retorno econômico
Um dos coordenadores do trabalho, o socioeconomista e pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão Alcido Wande, destacou que o retorno financeiro sobre o investimento em coinoculação em substituição aos fertilizantes nitrogenados foi positivo.
“A coinoculação consegue suprir uma boa parte do nitrogênio que as plantas do feijão vão precisar para conseguir desenvolver bem e produzir bem. Isso a um custo muito mais baixo do que com o fertilizante nitrogenado convencional que é a uréia. Somente com uréia é comum o produtor gastar de R$ 500,00 a R$ 700,00 por hectare, aplicando uréia em feijão de terceira safra, que é o mais intensivo do ponto de vista tecnológico. Com a inoculação ele não vai usar nem R$ 50,00 por hectare. O investimento necessário é muito menor do que se ele utilizar o fertilizante nitrogenado convencional”, disse ele.
Ainda segundo o pesquisador, os adubos nitrogenados representam um percentual expressivo dos custos de produção, pois são produtos importados, cotados em dólar. Estima-se que o custo com esse insumo alcance cerca de 14% do custo operacional total de produção.
O estudo considerou como ponto de partida o custo total de produção dos agricultores, tanto nas lavouras comerciais, quanto na agricultura familiar. A partir disso, os pesquisadores compararam o custo por hectare com o preço de venda e multiplicaram pela produtividade para chegar a uma relação de custo e benefício e também à taxa de retorno do investimento.
“Essa taxa de retorno, na melhor condição, chegou a 214%. O que significa dizer que para cada um real que o produtor investiu na lavoura, ele teve um retorno com a venda do produto final de R$ 2,14. Esse foi o melhor resultado em uma lavoura comercial. Na realidade de agricultura familiar, nós tivemos uma taxa de retorno de 113%”, conta o pesquisador Alcido Wander.
Vale destacar que a coinoculação já é uma técnica consolidada na cultura da soja. No cultivo do feijão o uso é bem menor, segundo a Embrapa, devido a vários fatores. Para os pesquisadores, uma maior divulgação dos benefícios do uso de bioprodutos na cultura depende do desenvolvimento de políticas públicas que possam facilitar o acesso dos produtores a tecnologia.
Com informações da Embrapa