CARAVANA REDE ILPF RS: Quais os desafios para implementação do componente florestal?
A seleção do componente florestal em sistemas integrados depende de uma série de fatores, incluindo as características do meio ambiente local, os objetivos de produção e os aspectos econômicos.
A 6ª edição da Caravana Rede ILPF etapa Rio Grande do Sul teve início nesta segunda-feira, 15, em Porto Alegre. A primeira discussão técnica aconteceu na sede da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sobre o assunto: adubação de sistemas.
Pesquisas conduzidas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) destacam os benefícios significativos da adubação em sistemas integrados em comparação com a adubação convencional na agricultura moderna.
Para a professora de ciência do solo da UFRGS, Amanda Amanda Posselt Martins, os sistemas integrados, como a Integração Lavoura Pecuária oferecem uma abordagem mais sustentável e eficaz para o manejo dos nutrientes do solo. “Pastagem com ILP bem conduzida, de altura de uns 15 cm ao longo de todo o ciclo irá perfilhar mais, enraizar mais, ou seja, vai criar bioporos no solo para levar partículas do calcário a camadas mais profundas”, afirmou.
A professora citou ainda os experimentos realizados na Universidade. “ Em áreas com ILP acrescentamos o calcário. Um ano e meio depois, esse calcário estava a 40 cm de profundidade. Sem ILP, não passou de 10 cm’, observou.
A especialista ainda reforçou que os benefícios físicos e biológicos para o solo são muito ampliados com o pastejo entre safras de grãos. “Auxilia muito, inclusive aumentando a produtividade da lavoura. Nos experimentos, houve um incremento de 10 sacas de soja quando temos o animal no inverno e a adubação de sistema”, ressaltou.
Segundo a Embrapa, o campo brasileiro vem passando por uma grande transformação, com a adoção de tecnologias mais sustentáveis. O país já possui 15 milhões de hectares com sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). A meta é dobrar a adoção até 2030.
Os sistemas integrados promovem a ciclagem de nutrientes dentro do próprio sistema, aproveitando resíduos de culturas, esterco animal e restos de poda para enriquecer o solo de forma natural. Essa prática não apenas reduz a dependência de fertilizantes químicos externos, mas também melhora a qualidade do solo ao longo do tempo, resultando em culturas mais saudáveis e resilientes.
Além disso, a presença de árvores nos sistemas integrados desempenha um papel crucial na absorção e redistribuição de nutrientes, contribuindo para a fertilidade do solo e a sustentabilidade do sistema agrícola. Essa abordagem holística não apenas aumenta a produtividade agrícola, mas também promove a conservação dos recursos naturais e a resiliência dos sistemas agrícolas frente a desafios climáticos e ambientais.
Em contrapartida, a adubação convencional muitas vezes resulta na degradação do solo devido à sua dependência excessiva de fertilizantes químicos, que podem causar desequilíbrios nutricionais e poluição ambiental. Portanto, os resultados da pesquisa da UFRGS destacam a importância crescente da adoção de práticas de adubação em sistemas integrados como uma alternativa sustentável e eficaz para a agricultura do futuro.
Solos no RS
Qual a situação dos solos no Rio Grande do Sul? Essa provocação fez parte da palestra do professor do departamento de solos da UFRGS, Tales Tiecher. Primeiro, é necessário entender o que é acidez do solo. A acidez é uma condição bioquímica resultante, principalmente, da ausência de quantidades adequadas dos elementos cálcio (Ca), magnésio (Mg) e potássio (K). Com isso, na solução do solo, observa-se a presença de íons de hidrogênio (H), cuja quantidade caracteriza uma maior ou menor acidez.
A quantidade de íons hidrogênio é avaliada pela medição de seu pH, o chamado potencial hidrogeniônico. Quanto mais baixo for o valor do pH do solo, maior a sua acidez. Ao contrário, quanto maior o pH, menos ácido é o terreno, estando a neutralidade no valor 7,0. Solos muito ácidos trazem grandes prejuízos à saúde da lavoura e constituem forte obstáculo à produção agrícola.
A calagem serve para diminuir a acidez do solo, ou seja, aumentar seu pH, além de fornecer cálcio e magnésio para as plantas. É uma etapa de preparação para o cultivo agrícola em que materiais de caráter básico, como o calcário, são adicionados ao solo para neutralizar sua acidez.
Para o professor do departamento de solos da UFRGS, Tales Tiecher, a correção dos solos no estado com calagem é fundamental. A justificativa para essa acidez tem vários motivos. “Grande parte das áreas cultivadas para grãos são arrendadas. Assim, não há interesse nem meios para investir em calagem nesses solos”, explicou. Além da calagem, um fator importante para a recuperação dos solos são os chamados sistemas integrados, ou seja, as variações da Integração Lavoura Pecuária Floresta.
Desafios de inserção do componente florestal nos sistemas ILPF no RS
Na parte da tarde aconteceu na sede da Emater RS o painel de debates com o tema: Desafios da inserção do componente florestal nos sistemas ILPF no estado. Esses sistemas integrados promovem a sinergia entre atividades agrícolas, pecuárias e florestais, visando maximizar a produtividade e a sustentabilidade. Uma decisão fundamental na implementação desses sistemas é a escolha do componente florestal, que desempenha um papel crucial na diversificação da produção e na promoção da resiliência dos ecossistemas.
De acordo com Adelaide Juvena Kegler Ramos, engenheira florestal da Emater-RS, a seleção do componente florestal em sistemas ILPF depende de uma série de fatores, incluindo as características do meio ambiente local, os objetivos de produção e os aspectos econômicos. “Aqui no RS o que predomina é a integração Lavoura-pecuária. Quanto à floresta, há maior evidência em regiões do estado com calor extremo, o que pode estar relacionado ao conforto térmico dos animais”, explicou.
A engenheira florestal ainda destacou alguns desafios para implementação do componente florestal no estado. “Quando a gente se propõe ao ILPF, é necessário entender cada um desses componentes. Com esse sistema, é preciso manejar a lavoura, a pecuária e o fator florestal”, completou.
Espécies nativas como araucária, erva-mate e angico são frequentemente escolhidas por sua adaptação às condições regionais e seus benefícios ambientais, como a promoção da biodiversidade e a conservação do solo. No entanto, espécies exóticas também podem ser consideradas, especialmente aquelas com potencial comercial, como o eucalipto e o pinus, que podem diversificar as fontes de renda dos produtores.
Além da escolha da espécie, é essencial considerar o manejo adequado do componente florestal dentro do sistema ILPF. Práticas como o espaçamento adequado entre árvores, a poda regular e a manutenção da cobertura vegetal são fundamentais para garantir o sucesso do sistema e otimizar os benefícios mútuos entre os diferentes componentes. A integração inteligente da floresta com as atividades agrícolas e pecuárias promove a ciclagem de nutrientes, o controle de pragas e doenças e a mitigação dos impactos ambientais negativos.
À medida que os desafios ambientais e econômicos se intensificam, os sistemas ILPF se destacam como uma solução promissora para os produtores gaúchos. A escolha cuidadosa do componente florestal desempenha um papel fundamental na viabilidade e na eficácia desses sistemas, influenciando não apenas a produtividade agrícola e pecuária, mas também a saúde dos ecossistemas locais e a resiliência das propriedades rurais frente às mudanças climáticas. Em um estado conhecido por sua agricultura inovadora, a integração lavoura-pecuária-floresta emerge como uma estratégia essencial para o futuro sustentável do Rio Grande do Sul.
Objetivos da Caravana Rede ILPF
Este foi o primeiro dia da Caravana Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), uma realização da Rede ILPF e Associadas (Bradesco, Cocamar, John Deere, Soesp, Syngenta, Suzano e Embrapa), que tem como objetivo difundir os sistemas Integrados, avançar em novas áreas de Integração no Brasil, além de realizar diagnósticos regionais e avaliar desafios e oportunidades para ILPF nas regiões produtoras do país.
A equipe do Planeta Campo está acompanhando a expedição nesta primeira edição no estado do Rio Grande do Sul. Serão palestras técnicas, dia de campo, painel de debates para diferentes públicos, como universitários, professores, produtores rurais, técnicos agrícolas, empresas do setor agropecuário e agricultores familiares.