CARAVANA REDE ILPF RS: a aliança sustentável entre o bioma pampa e os sistemas integrados
Nos sistemas em que ocorre a integração da produção pecuária com a floresta, a implantação da pastagem pode ser realizada antes ou após o plantio das árvores.
São pelo menos 350 km entre a capital Porto Alegre e Bagé, onde está localizada a sede da Embrapa Pecuária Sul, local onde aconteceu a rodada das estações do segundo dia da Caravana Rede ILPF, edição Rio Grande do Sul.
Nesse trajeto é possível perceber as características de um bioma que só existe nesse estado brasileiro. Nos pampas, a principal característica é seu relevo pouco acidentado e sua vegetação composta por plantas herbáceas, arbustos e árvores pequenas. Um bioma naturalmente propenso a atividade de pecuária de corte.
Projeto Silvipastoril da Região da Campanha
A caravana ILPF chegou à unidade da Pecuária Sul para participar de um dia de campo dividido em três estações temáticas: implementação de sistemas florestais, escolha do componente florestal e palestra sobre Integração Lavoura Pecuária Floresta.
Com o investimento de 320 mil reais do Ministério da Agricultura e Pecuária, MAPA, a Emater RS implantou o projeto silvipastoril na região. Rodolfo Perske, engenheiro florestal da Emater-RS, explica que foram 21 unidades implantadas em 17 instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão e pessoas da agricultura familiar.
Controle da formiga
Antes da implantação do sistema na propriedade, o controle de formigas é primordial. Inclusive, o engenheiro florestal da Emater-RS explicou que essa foi a primeira atividade desenvolvida na área experimental, pois é necessária para a sobrevivência das mudas. “No controle, se utilizou isca granulada distribuída em toda a área plantada, evitando solos com excesso de umidade e sem previsão de chuva para os 2 dias seguintes”, observou.
O especialista reforçou que o monitoramento das formigas deve continuar alguns meses até as mudas atingirem a altura de uma pessoa ou uns dois metros.
Para implementar o sistema é preciso planejamento. Gilmar Deponti, engenheiro florestal da Emater- RS, ressaltou que nos primeiros 12 meses não há pastejo de animais. “A preocupação é proteger e não prejudicar as mudas”, disse. No caso do experimento da Embrapa a espécie escolhida foi o eucalipto.
São vários os motivos que definem essa escolha: rápido crescimento, espécie bastante difundida no meio rural, diversificação do uso da madeira entre outros motivos. Vale reforçar que o eucalipto apresenta vantagens para o produtor por ser uma espécie com pesquisa científica com manejo, melhoramento genético, além de possibilitar boa sombra e abrigo contra os extremos climáticos aos animais.
Deponti ainda detalhou os arranjos escolhidos na pesquisa: linhas simples, espaçadas em 8 m, 16 m e 24 m entre si, respectivamente com 625, 312 e 208 árvores/ha. “Na linha de plantio, o espaçamento adotado foi de 2 metros entre plantas em todos os projetos”, afirmou.
Manejo das pastagens
Nos sistemas em que ocorre a integração da produção pecuária com a floresta, a implantação da pastagem pode ser realizada antes ou após o plantio das árvores. A preferência é para que a pastagem seja implantada antes do componente arbóreo, o que permite uma maior facilidade de realização de operações mecanizadas na área e antecipação do uso das forrageiras.
O pastejo na fase inicial de desenvolvimento das árvores é possível, desde que sejam tomadas iniciativas para evitar danos dos animais às mesmas. Assim, no primeiro ano de estabelecimento, pode-se utilizar uma cerca elétrica para manter os animais pastejando a uma distância segura das plantas.
Outra alternativa é o uso exclusivo da área para a produção de feno ou silagem nos primeiros anos, enquanto as mudas não atingem o porte ideal para a integração com os animais. Mesmo com tantos benefícios para o produtor, o Rio Grande do Sul tem tradição na adoção de sistemas de Integração Lavoura Pecuária. O componente florestal ainda é pouco implementado.
Capim-annoni à agricultura de precisão
O pesquisador da Embrapa, Naylor Perez, palestrou sobre o tema “Integração lavoura-pecuária na Região da Campanha: do controle do capim-annoni à agricultura de precisão”, demonstrou como a infestação de capim-annoni pode representar baixo potencial produtivo.
De acordo com experimento relatado no encontro técnico organizado pela Rede ILPF, pastagens com esta infestação produziam entre 44 a 78 quilos de peso vivo por hectare/ano; mas com Integração Lavoura Pecuária, apresentou estratégia de controle para áreas infestadas.
Os dados experimentais demonstram ganhos médios de 310 quilos de peso vivo por hectare/ano. “Isso é importante na renda do sistema em si e na estabilidade do empreendimento, que se torna menos arriscado quando comparado à utilização somente da agricultura, sujeita às frustrações de safras, sobretudo pelo déficit hídrico, que se configura em quase 60% dos anos”, disse.
O produtor rural Paulo Brisolla acompanhou o dia de campo da Caravana para entender melhor os manejos.” Temos Integração Lavoura Pecuária. Estamos estudando a possibilidade de incluir o componente florestal”, comentou. Para o produtor, além dos aspectos positivos financeiros de diversificação de renda quando adotado os sistemas integrados, há a preocupação com o meio ambiente. “ Colocando em prática esses manejos somos mais sustentáveis e isso pode ser um diferencial competitivo interessante. por exemplo, o selo de carne carbono neutro”, observou.
*Imagem eucalipto crédito: Marcelo Muller