CARAVANA REDE ILPF RS: Bem-Estar animal e pastagens de Inverno na produção de leite
Nos sistemas ILPF, as pastagens tradicionais são combinadas com culturas de inverno, como aveia, azevém e trigo, proporcionando uma dieta diversificada e equilibrada para o gado leiteiro.
“Eu acho que, se eu não tivesse adotado o sistema de integração ILPF, eu seria como as outras propriedades. Os nossos ganhos seriam através dos adubos químicos, que têm um custo mais alto. A integração lavoura pecuária tem essa vantagem de diminuir o custo, quando bem manejados”, reconheceu o produtor de leite João Kurtz.
O depoimento foi feito na Faculdade de Medicina Veterinária, de Passo Fundo, após o Painel de Debates sobre o tema: “Produção de forragens e culturas de inverno para gado leiteiro”, que encerrou a viagem da Caravana Rede ILPF edição Rio Grande do Sul.
Os olhos claros e o sorriso fácil do produtor escondem seus 83 anos de idade e 26 deles dedicados ao campo. Ele também é médico veterinário. João Kurtz Amantino é uma referência no município de Passo Fundo quando o assunto é a produção de leite em sistemas integrados.
E tudo começou despretensiosamente e de forma empírica. Em 1969, o médico veterinário recolhia a palhada de soja que ficava no pasto para alimentar o gado complementando com a aveia. “O pasto era muito verde, precisava de uma matéria mais seca e mais fibrosa. Assim eu fui descobrindo que o consórcio entre lavoura pecuária era muito bom e extremamente importante”, explicou.
O produtor disse ainda que procurou saber mais sobre o sistema Voisin. “Achei que o sistema era fantástico e já comecei a manejar com voisin. A ideia era melhorar áreas para depois transformar em lavoura. E assim, seguir melhorando áreas com o manejo de gado bovino no sistema de rotação”, disse.
O Sistema Voisin é um método intensivo de manejo do pasto e do rebanho. Existe desde 1957 e no Brasil começou a ser implantado em 1963. É definido como agroecológico, por buscar o equilíbrio entre solo – pastagem – gado, de modo que cada um tenha efeito positivo sobre os outros dois. Sua característica mais marcante é o manejo do gado em rotação por piquetes, que terão tempo variável de descanso de acordo com a estação do ano.
Após a divisão das terras com os irmãos, João migrou da pecuária de corte para a leiteira em sistema voisin. Depois disso, graças à observação do acaso, o João Amantino descobriu e desenvolveu sua produção leiteira com os sistemas integrados.
Redução do custo de produção
Nos sistemas ILPF, as pastagens tradicionais são combinadas com culturas de inverno, como aveia, azevém e trigo, proporcionando uma dieta diversificada e equilibrada para o gado leiteiro. Além disso, a presença de árvores nas áreas de pastagem não apenas oferece sombra e abrigo para os animais, mas também contribui para a ciclagem de nutrientes e a melhoria da qualidade do solo.
A adoção de sistemas integrados na produção leiteira traz uma série de benefícios para os produtores. A integração da lavoura de inverno, por exemplo, possibilita o cultivo de culturas como aveia e azevém, que servem como forragem de qualidade para o gado durante os meses mais frios do ano. Isso não apenas reduz os custos com alimentação, mas também contribui para a manutenção da produtividade do rebanho.
Jaime Ries, Assistente Técnico Regional ASCAR -EMATER/RS, explica que a integração lavoura pecuária é um sistema onde se trabalha de forma integrada em diferentes culturas, criações e componentes florestais. “Cada componente procura criar sinergia entre elas, de forma que uma atividade possa beneficiar e trazer ganhos para outra”, observou.
O representante da Emater/RS aproveitou para reforçar alguns aspectos da ILPF no sistema de produção. “A sombra para o rebanho leiteiro aumenta o conforto térmico dos animais, o que garante maior consumo de alimento pelas vacas, maior produção e melhor qualidade do leite”, explicou.
Além disso, Ries argumentou que o aproveitamento dos cereais de inverno para produzir parte do alimento conservado, que hoje é baseado quase que exclusivamente no milho. E, por fim, a antecipação da safra de produção de leite no estado. “Os melhores preços são nos meses de julho, junho e maio. Então, se a gente conseguir fazer o pico de produção em junho ou aumentar a produção nos meses de maio e junho, vamos fazer com que o preço médio recebido pelo produtor de leite do Rio Grande do Sul seja maior”, afirmou.
O João Amantino está feliz com os frutos colhidos na propriedade, tanto no aspecto financeiro, social e ambiental. “As análises de solo foram feitas. Os solos são extremamente mais produtivos do que o solo que não é manejado dentro desse espírito de integração lavoura pecuária floresta. O que está aprovado aqui no nosso trabalho é que o gado sequestra mais carbono que o mato, que as árvores. Então a integração lavoura pecuária especificamente é fundamental’, refletiu.
Todos os depoimentos fizeram parte da Caravana da Rede ILPF. Os trabalhos foram finalizados em Passo Fundo, Rio Grande do Sul.