Adaptação climática na agropecuária: Embrapa aposta em inovação tecnológica para enfrentar extremos climáticos

Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, compartilha sua visão sobre o papel da tecnologia na adaptação da agropecuária às mudanças climáticas e destaca as inovações que podem transformar o setor nos próximos anos

Adaptação da agropecuária às mudanças climáticas: tecnologia como aliada

Em um cenário marcado por extremos climáticos, como incêndios, secas e inundações, a agropecuária enfrenta o desafio de se adaptar rapidamente. Em entrevista ao programa Planeta Campo, Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, destacou como a tecnologia está se tornando uma peça-chave nesse processo, permitindo ao setor não apenas lidar com as adversidades, mas também prosperar em um ambiente de incertezas.

Segundo Silvia, a Embrapa tem investido em tecnologias que possibilitam aos produtores rurais otimizar a gestão de dados, melhorar a tomada de decisões e aumentar a resiliência climática. “Temos hoje uma vasta base de dados acumulados ao longo de décadas, que podem ser utilizados para demonstrar como nossa agricultura é sustentável e, mais importante, como podemos nos preparar para os desafios climáticos”, destacou.

O papel dos dados e da Inteligência Artificial

A utilização de dados climáticos históricos e a aplicação de novas tecnologias, como Inteligência Artificial (IA), estão entre as principais apostas da Embrapa. Silvia explicou que a combinação de informações heterogêneas, como dados de microclima, imagens de satélite e simulações digitais, pode fornecer previsões mais precisas aos produtores. “Isso permite que o agricultor planeje melhor seu sistema de produção e diminua os riscos associados às mudanças climáticas”, afirmou.

Além disso, a presidente da Embrapa enfatizou a importância de tecnologias de edição gênica e bioprodutos para aumentar a resiliência das culturas e reduzir a dependência de insumos externos. O Brasil, segundo Silvia, está à frente nesse campo, liderando o uso de bioinsumos, com 61% dos produtores já utilizando esses produtos.

Pegada de carbono e COP 30

Um dos grandes desafios mencionados por Silvia é a mensuração da pegada de carbono na agropecuária. Com aproximadamente 5 milhões de produtores no Brasil, o cálculo preciso das emissões de carbono por fazenda ainda é complexo. No entanto, a Embrapa desenvolveu uma calculadora de pegada de carbono, que já está sendo aplicada em cadeias produtivas como cana-de-açúcar, milho e soja.

A expectativa é que até a COP 30, em 2025, o Brasil consiga apresentar dados mais robustos que demonstrem a sustentabilidade de suas práticas agrícolas. “Estamos trabalhando para criar referências específicas para a agricultura tropical, o que será crucial para as negociações internacionais”, afirmou.

Bioenergia e a transição energética no agronegócio

Outro ponto alto da entrevista foi a discussão sobre a transição energética no agronegócio. Silvia ressaltou que o Brasil possui grande potencial para liderar a produção de bioenergia, sem comprometer a produção de alimentos. “O etanol de segunda geração e os biocombustíveis são alternativas que já estão sendo amplamente exploradas no país, com políticas públicas baseadas em ciência, como o RenovaBio, incentivando a produção sustentável”, destacou.

Com o aumento da demanda global por combustíveis sustentáveis, especialmente na aviação, o Brasil tem a oportunidade de se tornar um dos principais fornecedores de biocombustíveis. Para Silvia, o grande desafio será expandir essa produção em escala, garantindo que ela contribua tanto para a transição energética quanto para a sustentabilidade agrícola.

Inovações para uma agricultura mais resiliente

Por fim, a presidente da Embrapa compartilhou as inovações que estão em desenvolvimento para tornar a agricultura brasileira mais resiliente às mudanças climáticas. Tecnologias como a edição gênica e o uso de bioprodutos prometem transformar o setor, aumentando a tolerância das culturas a estresses hídricos e reduzindo custos de produção.

“A ciência é a base de tudo. O que estamos colhendo hoje é fruto de décadas de pesquisa. Com essas inovações, podemos garantir uma agricultura mais sustentável e preparada para os desafios do futuro”, concluiu.