Brasil deve fomentar ferramentas para mitigar efeitos de mudanças climáticas atuais e futuras

Práticas sustentáveis já existentes devem ser cada vez potencializadas, visando resiliência e produtividade

Estratégias possíveis para aumentar a resiliência da produção brasileira frente às mudanças climáticas, que já têm provocado secas, inundações e incêndios com alta frequência e intensidade, foram debatidas no Fórum Planeta Campo nesta quarta-feira (30/10). Com o aumento das temperaturas no mundo, dados apontam que os eventos extremos devem ficar cada vez mais recorrentes, o que preocupa o setor, uma vez que os prejuízos já são significativos.

Segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), feito com base em dados do Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, eventos climáticos extremos causaram prejuízos de R$ 287 bilhões à agropecuária brasileira entre 2013 e 2022. Somente as secas foram responsáveis por 87% dos prejuízos na agropecuária no intervalo do estudo.

Em escala global, relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que as produções agrícola e pecuária tenham sofrido perdas de US$ 3,8 trilhões devido a desastres nos últimos 30 anos. 

Soluções sustentáveis dentro de casa

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Chefe do portfólio de mudanças climáticas da Embrapa, Giampaolo Pellegrino

Para debater sobre as alternativas possíveis para mitigar riscos e tornar a agropecuária brasileira ainda mais resiliente, os convidados do primeiro painel do Fórum Planeta Campo abordaram as ferramentas sustentáveis que já estão sendo colocadas em prática no país. 

O chefe do portfólio de mudanças climáticas da Embrapa, Giampaolo Pellegrino, colocou em perspectiva o papel da ciência para mitigar os riscos dos extremos climáticos. Segundo o representante, é necessário questionar: “o futuro que estamos desenhando, é o que desejamos para nós? E se não é, como usamos o conhecimento científico que já temos para mudar esse cenário?”. 

Segundo Giampaolo, o trabalho da sua unidade na Embrapa está focado em entender a emergência climática que já está acontecendo e impactando a agricultura. “É necessário saber o quão exposto somos. Temos trabalhado para identificar qual é a situação da agricultura, o quão vulnerável estamos e o quanto ainda ficaremos. A ideia é termos capacidade de estarmos preparados para quando essa realidade chegar”, destacou, citando a importância da adoção de práticas conservacionistas já conhecidas pelo viés sustentável, além de práticas de manejo, restauração e conservação na agricultura e pecuária. 

Em outra unidade da Embrapa, há mais possibilidades sendo construídas. Foi o que mostrou a chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, Roberta Carnevalli, com o projeto “Soja Baixo Carbono”. A iniciativa está sendo desenvolvida com diversos parceiros da indústria para estimular a adoção de boas práticas. 

“É um protocolo de certificação mensurável e verificável, voluntário, reconhecido por terceira parte, com embasamento técnico e científico. E já estamos trabalhando pelo reconhecimento internacional, porque queremos que essa certificação seja reconhecida por quem compra a nossa soja”, afirmou Roberta. 

A Chefe De Pesquisa E Desenvolvimento Da Embrapa Soja, Roberta Carnevalli, Falou Sobre O Papel Da Inovação Brasileira No Combate Às Mudanças Climáticas

Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, Roberta Carnevalli

O presidente da Aprosoja SP, Azael Pizzolato, levou ao painel a importância da superação de desafios e a adaptação nas cadeias de soja e milho. Segundo o representante, a agricultura brasileira já é, de fato, adaptada, resiliente e sustentável. “Adaptamos os animais, a soja, o trigo, e passamos de país importador para exportador para mais de 200 países”, ressaltou. 

Ao apresentar algumas iniciativas apoiadas pela associação, Pizzolato afirmou que a agricultura é a chave para potencializar a segurança energética e a segurança alimentar. Para ele, para os próximos anos, é essencial abordar a questão do seguro rural como prioridade, além da armazenagem da produção. “Seria uma irresponsabilidade crescer produção de grãos sem infraestrutura logística no país. Antes de aumentar a área, precisamos nos preparar”, frisou. 

Ferramentas brasileiras já marcam o campo

Além dos órgãos de pesquisa, a iniciativa privada da cadeia do agronegócio também já está organizada com projetos pioneiros para alavancar o cenário sustentável e mitigar impactos. Nesse sentido, a diretora de sustentabilidade da JBS Brasil, Liège Correia, compartilhou algumas estratégias da pecuária para superar os desafios climáticos atuais e futuros.

Com a estruturação de uma política de compras responsável, a diretora afirmou que a JBS vem monitorando zonas de desmatamento ilegal e áreas que tem embargo ambiental, afim de contemplar sustentabilidade de ponta a ponta na cadeia produtiva. Além disso, Liège também apresentou uma ferramenta de chatbot que verifica questões socioambientais da cadeia de fornecimento dos pecuaristas. 

O “Cowbot Friboi”, como é chamado, já conta com mais de 12 mil análises registradas, e pode ser usado por pecuaristas que fornecem ou não à JBS. “A agricultura e pecuária brasileiras fazem parte da solução da mudança climática. É com ciência e informação que chegamos em algum lugar e prova que o Brasil é, de fato, o celeiro do mundo”, destacou. 

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Gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, Mário Ferraz de Araújo

Trazendo a cafeicultura para o debate, o gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, Mário Ferraz de Araújo, abordou as inovações para fortalecer a cadeia produtiva do café. Araújo reforçou que é essencial promover a ciência quando o tema envolve mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. 

“Assim como o cafeicultor, o extensionista também é muito pragmático, e precisa ter certeza do ganho em sustentabilidade com uma prática ou outra”, destacou, citando as práticas já desenvolvidas na cooperativa, como acompanhamento de condições meteorológicas, criação de equipe de desenvolvimento técnico e geoprocessamento.