COP 29 firma acordo histórico, mas países em desenvolvimento pedem mais recursos
Com 300 bilhões de dólares anuais prometidos até 2035, o novo acordo da COP 29 gera debates sobre sua viabilidade e suficiência para enfrentar a crise climática. Especialistas destacam desafios e oportunidades para o Brasil.
Na última semana, a COP 29 chegou ao fim com o anúncio de um acordo histórico: os países ricos comprometeram-se a transferir 300 bilhões de dólares anuais aos países em desenvolvimento até 2035. O montante triplica os 100 bilhões anuais prometidos no período de 2020 a 2025, mas ainda está aquém do valor defendido pelos países mais vulneráveis, que pedem 1,3 trilhão de dólares anuais para enfrentar as mudanças climáticas.
Daniel Vargas, professor de economia da FGV, analisa que o acordo é um passo importante, mas ainda insuficiente para atender às necessidades globais. “Para manter as emissões dentro do teto de segurança de 1,5°C até 2100, o mundo precisa de pelo menos 1 trilhão de dólares por ano. O valor acordado não cobre os desafios da transição verde e da adaptação climática, nem compensa os países já severamente impactados pelas mudanças climáticas”, explica.
Desafios para os países em desenvolvimento
Uma das principais críticas ao novo acordo é a condição de parte dos recursos serem disponibilizados por meio de financiamentos, o que pode aumentar a dívida externa de países em desenvolvimento. Vargas destaca que muitas metas climáticas assumidas por essas nações são condicionais, ou seja, dependem do apoio financeiro e tecnológico dos países ricos. “Se esse apoio não vier na escala necessária, estaremos longe de cumprir as metas exigidas pela agenda climática”, alerta.
O Brasil e a meta de neutralidade climática
Durante a COP 29, o Brasil reafirmou sua meta de neutralidade climática até 2050 e anunciou um compromisso ousado: reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 67% nos próximos 10 anos, com base nos níveis de 2005. Segundo Vargas, o desafio está em desdobrar essas metas para os setores produtivos e encontrar fontes de financiamento. “O Brasil lançou metas ambiciosas, mas precisa esclarecer de onde virão os recursos. Caso contrário, o peso recairá sobre os setores produtivos nacionais”, afirma.
O papel do mercado de carbono
Vargas também comentou sobre a regulamentação do mercado de carbono, destacando sua importância como ferramenta para canalizar investimentos privados em iniciativas sustentáveis. “O mercado de carbono pode tornar atividades antes pouco atrativas economicamente em opções viáveis, ao conectar recursos financeiros às necessidades ambientais locais. Porém, desafios como a dupla contagem e a burocracia excessiva podem comprometer sua eficácia”, pondera.
Olhando para a COP 30
Com a próxima conferência climática marcada para ocorrer no Brasil, em 2025, Vargas acredita que o país terá uma oportunidade única de liderar discussões sobre financiamento climático e promover padrões de sustentabilidade tropical. “O Brasil pode ser o elo que une o crescimento sustentável dos países em desenvolvimento e o compromisso financeiro dos países ricos. É o momento de construir um modelo que atenda às nossas necessidades produtivas e contribua para a agenda global”, conclui.