O futuro da agricultura passa pela tecnologia e ele já chegou ao campo paulista. Um novo projeto, batizado de Centro de Ciência para o Desenvolvimento Smart B100, promete levar inteligência artificial e conhecimento agronômico aplicado direto ao agricultor. A iniciativa foi aprovada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e vai oferecer, gratuitamente, uma plataforma digital para auxiliar na tomada de decisões sustentáveis, especialmente no uso de fertilizantes e bioinsumos.
A proposta foi apresentada pelo pesquisador Dirceu Mattos Jr, coordenador do projeto, durante entrevista ao programa Planeta Campo. O centro será responsável pela criação de um sistema inteligente, baseado no famoso Boletim 100 — referência nacional em recomendações técnicas de adubação e calagem. Com base nesse conteúdo, a plataforma permitirá que o produtor rural “bata um papo” com a IA e receba orientações personalizadas.
Plataforma vai focar primeiro em citros e cana-de-açúcar
Inicialmente, a tecnologia será testada em duas culturas estratégicas: citricultura e cana-de-açúcar, importantes para a economia agrícola paulista. Segundo Dirceu, o objetivo é usar a IA generativa para interpretar as necessidades do solo, o tipo de cultivo e as condições de produção, propondo boas práticas de manejo que levem ao aumento da produtividade e à redução do desperdício de insumos.
“O agricultor vai poder bater um papo e estabelecer a melhor estratégia para sua propriedade, com base na qualidade física, química e biológica do solo”, explicou Dirceu.
A ferramenta será gratuita e terá acesso aberto a todos os produtores, com atualizações constantes e possibilidade de expansão para outras culturas após a validação inicial.
Como funciona a inteligência artificial na prática?
A plataforma Smart B100 funcionará como um chatbot: o agricultor insere dados básicos sobre sua propriedade e tipo de solo, e a IA indica as melhores práticas de correção de acidez, adubação e uso de bioinsumos. A recomendação será baseada em informações científicas validadas e atualizadas pelos pesquisadores.
Essa aplicação direta da ciência tem como base a chamada tripla hélice da inovação: integração entre pesquisa científica, setor produtivo e poder público. O projeto conta com apoio da Secretaria de Agricultura de São Paulo e participação da iniciativa privada.
Além da plataforma, o projeto também prevê a criação de “laboratórios vivos” no campo, locais onde as práticas recomendadas poderão ser testadas e acompanhadas em tempo real, ampliando a curadoria dos dados e melhorando o sistema continuamente.
Impactos ambientais e econômicos positivos
O uso mais eficiente de insumos tem efeitos diretos na produtividade, rentabilidade e sustentabilidade das propriedades. Para o coordenador do projeto, o impacto vai além da produção:
“Vamos alcançar novos níveis de produtividade com menos insumos. Isso gera impacto econômico, social e ambiental. E futuramente, a plataforma vai incorporar também ferramentas para decisões sobre economia de carbono”, destacou Dirceu.
Com isso, a tecnologia contribui também para que o produtor esteja alinhado com as exigências ambientais do mercado e com as metas globais de governança climática e ESG.
Tecnologia acessível para transformar o agro brasileiro
O diferencial do Smart B100 é justamente democratizar o acesso à tecnologia. O produtor não precisa investir em softwares caros ou contratar consultorias específicas: a inteligência artificial será gratuita e adaptada à realidade do campo brasileiro.
O lançamento da plataforma está previsto para os próximos meses. A equipe do projeto continuará atualizando os dados e ajustando os algoritmos conforme o feedback dos usuários e os resultados obtidos nos laboratórios a céu aberto.
O futuro da agricultura passa pelo uso estratégico da informação — e, nesse cenário, a IA deixa de ser uma promessa distante e se torna ferramenta real de gestão sustentável para o agricultor do dia a dia.