
Os pomares de laranja do cinturão citrícola brasileiro têm se revelado aliados importantes no combate às mudanças climáticas. Uma pesquisa inédita, conduzida pela Embrapa Territorial em parceria com o Fundecitrus e a empresa britânica Innocent Drinks, uma das principais envasadoras de suco da Europa. quantificou o carbono que é capturado e estocado pelas laranjeiras cultivadas na região — que compreende o estado de São Paulo e parte de Minas Gerais, especialmente o Sudoeste e o Triângulo Mineiro.
Segundo o levantamento, cada hectare de pomar pode remover, em média, até 2 toneladas de carbono da atmosfera por ano. Essa remoção acontece por meio da fotossíntese, quando as árvores absorvem o dióxido de carbono (CO₂) para transformar em energia e, assim, crescer e frutificar. Além disso, parte do carbono é fixada de forma duradoura nas estruturas das plantas, como galhos, folhas, troncos e raízes.
“É quase uma floresta de laranja”, resume o pesquisador Lauro Rodrigues Nogueira Jr. da Embrapa Territorial. A comparação não é exagerada. De acordo com os dados levantados, cada laranjeira sequestra cerca de 4,28 kg de carbono por ano, acumulando em média 52 kg em sua biomassa viva. Quando se considera a densidade dos pomares, isso representa cerca de 25 toneladas de carbono estocadas por hectare. Valores próximos aos registrados em áreas de vegetação nativa do Cerrado.
O estudo envolveu medições detalhadas em campo. Foram selecionadas 80 árvores em diferentes estágios de desenvolvimento. A primeira etapa consistiu em determinar o peso úmido de cada planta. Em seguida, amostras de folhas, galhos, troncos e raízes foram levadas ao laboratório, onde passaram por secagem em estufa para obter o peso seco. Depois, as amostras foram submetidas à análise em equipamento especializado, capaz de medir a proporção de carbono em cada parte da planta.
“Fazemos uma transformação: quanto tinha de biomassa úmida no campo, quanto ficou de biomassa seca e quanto disso é carbono. Isso nos permite calcular com precisão quanto cada árvore está armazenando”, explica o pesquisador.
Os modelos matemáticos desenvolvidos a partir desses dados permitiram estimar, de forma robusta, o volume de carbono retido não só nas árvores, mas também no solo e na vegetação nativa que muitas vezes é preservada nas propriedades citrícolas. Com isso, foi possível extrapolar os resultados para o conjunto do cinturão citrícola.
A estimativa é que, somando todas essas fontes, os pomares da região estocam cerca de 36 milhões de toneladas de carbono. Quando convertido para a forma equivalente em dióxido de carbono, esse valor representa 133 milhões de toneladas de CO₂ que deixaram de ser emitidas na atmosfera.
Práticas sustentáveis
Além do impacto direto na redução de gases de efeito estufa, a pesquisa também mostra caminhos para ampliar ainda mais esse benefício ambiental. Práticas como a manutenção da cobertura do solo entre as fileiras de plantas, o uso de leguminosas, a fertirrigação e o manejo racional da adubação nitrogenada podem aumentar tanto o crescimento das árvores quanto sua capacidade de capturar e armazenar carbono.
De acordo com os autores do estudo, os pomares mais antigos — com 40 a 50 anos de idade — apresentaram maior capacidade de acúmulo de carbono. Isso reforça a importância da longevidade das lavouras e da adoção de boas práticas agronômicas ao longo do tempo.
Pagamento por serviços ambientais
Com a realização da COP30 no Brasil, em novembro deste ano, os pesquisadores acreditam que o setor citrícola ganha ainda mais relevância no cenário internacional. Há potencial para que a citricultura entre de forma mais efetiva nos mercados de crédito de carbono e em programas de remuneração por serviços ambientais.
“O setor citrícola tem condições muito grandes de acessar o mercado de carbono, ou até mesmo abrir espaço em programas de serviços ambientais”, afirma Lauro. “A laranja já é uma commodity importante, especialmente no mercado europeu. Esse diferencial ambiental pode agregar ainda mais valor.”