Histórias

Projeto Fruto Resiliente leva boas práticas e sustentabilidade à citricultura no noroeste paulista

Cerca de 500 produtores recebem acompanhamento técnico para fortalecer a produção sustentável de laranja na região Perguntar ao ChatGPT

Elton Sentinello mantém a produção de laranja no Sítio Reunidos com foco em qualidade e sustentabilidade. – Foto: Renato Medeiros
Elton Sentinello mantém a produção de laranja no Sítio Reunidos com foco em qualidade e sustentabilidade. – Foto: Renato Medeiros

O projeto Fruto Resiliente, da Fundação Solidaridad, vem promovendo uma transformação na citricultura do noroeste paulista. Com assistência técnica contínua, treinamentos e orientações práticas, a iniciativa já alcançou mais de 800 produtores e atualmente acompanha de perto cerca de 500 propriedades da região.

Voltado para a promoção de cadeias produtivas mais sustentáveis e inclusivas, o Fruto Resiliente parte de um diagnóstico técnico em cada propriedade. Esse levantamento considera tanto a legislação brasileira quanto práticas internacionais reconhecidas de sustentabilidade. A partir daí, os produtores recebem apoio personalizado com materiais didáticos, cartilhas, vídeos e acompanhamento direto no campo.

Uma das coisas fundamentais é a análise de solo. No começo, aqui no noroeste paulista, só de 10% a 20% dos produtores faziam. Hoje, praticamente 100% querem realizar a análise para melhorar o pomar”, afirma o analista de campo Lucas Fim Torres.

Polo de produção

A região do noroeste paulista é um dos polos da produção de laranja no Brasil. E junto com o crescimento da produção, aumentou também a adoção de boas práticas agrícolas, mesmo entre os pequenos produtores.

É o caso de seu Jerônimo Antônio Segala, que aos 71 anos continua cultivando laranja e tomate em uma pequena chácara de 3 hectares em Cosmorama (SP). Ele destaca que a citricultura exige persistência, cuidado e apoio técnico para seguir em frente. “Um pé de laranja leva três ou quatro anos para produzir. Depois vem a doença, o tempo. É tudo uma luta. Mas com ajuda a gente consegue resolver”, afirma.

Seu Jerônimo enfrentava perdas significativas com doenças como o cancro e a leprose. Com a assistência do Fruto Resiliente, passou a fazer análise do solo e da água usada na pulverização. O pH da água, que estava em 7,6, foi ajustado para 5 — patamar ideal para o controle do ácaro da leprose, o que reduziu o impacto das pragas.

Além do manejo nutricional e fitossanitário, o projeto também orienta sobre o uso e o descarte correto dos defensivos agrícolas.

“Antigamente diziam que era pra enterrar. Eu nunca achei certo. Hoje a gente guarda os vasilhames, depois devolve. Ficou muito melhor. Mais seguro pra gente e pro meio ambiente”, conta o produtor.

Legado na citricultura

No município de Estrela do Oeste (SP), o Sítio Reunidos é um exemplo de como o conhecimento técnico pode se aliar à tradição familiar. Elton Sentinello, que herdou a paixão pela terra do avô italiano, cultiva laranja da variedade pera rio — indicada tanto para o consumo in natura quanto para a indústria de sucos.

Ele lembra que começou a plantar ainda criança, ajudando o pai no pomar. “Em 1980 foi o primeiro talhão que nós plantamos. Começamos com mil pés. A gente começou cedo, mas hoje é gratificante ver tudo que foi construído”, afirma.

A dedicação ao campo segue em família. A poucos quilômetros do sítio, o cunhado de Elton, ex-tesoureiro Fábio Martin, trocou a cidade pela zona rural e hoje cultiva mais de 4 mil pés de laranja. Ele conta que já havia participado da formação de pomares antes, o que serviu de base para tocar a nova propriedade. “Nos alegra muito acordar e trabalhar praticamente no quintal de casa”, destaca.

Expansão do trabalho

A equipe do Fruto Resiliente realiza visitas constantes, identificando as necessidades específicas de cada propriedade e oferecendo soluções práticas. O trabalho de formiguinha, de porteira em porteira, é o que faz a rede crescer.

O projeto também reforça que o cumprimento das exigências legais e o uso de boas práticas não são mais diferenciais, mas condições básicas para manter a produção e o mercado.

“Produzir com responsabilidade, respeitar a legislação e buscar as melhores práticas não é mais escolha. É obrigação se o produtor quiser continuar vendendo”, reforça o gerente de programas da Fundação Solidaridad Guilherme Margarido Ortega.

Marcius Ariel
Repórter do Planeta Campo, do Canal Rural. Produz conteúdo multiplataforma sobre sustentabilidade, com trabalhos realizados nos seis biomas do Brasil.