
O potencial do Brasil para liderar modelos de produção agropecuária sustentáveis esteve no centro do painel “Agropecuária Regenerativa como Padrão Global”, realizado na tarde desta terça-feira (11) durante o Fórum Planeta Campo, na COP30, em Belém. Pesquisadores, representantes do setor produtivo e do governo debateram caminhos para ampliar práticas regenerativas e reduzir a vulnerabilidade da agricultura às mudanças climáticas.
Solo saudável e aumento de produtividade
O diretor-presidente da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, destacou que o primeiro grande desafio histórico da agricultura brasileira foi a degradação do solo. Ele lembrou que o país se tornou pioneiro na adoção do plantio direto, da rotação de culturas e do manejo conservacionista, o que permitiu reverter cenários de erosão e baixa fertilidade.
Segundo ele, a evolução do manejo se reflete na produtividade. “Nos últimos 50 anos, a produtividade agrícola no Brasil cresceu, em média, 3% ao ano, enquanto a média global ficou em 1,5%. Isso só foi possível porque construímos solos mais saudáveis e sustentáveis”, afirmou.
Pavinato disse ainda que a chamada agricultura regenerativa surge agora como uma síntese de três frentes: saúde do solo, controle sustentável de pragas, com crescente uso de biológicos e economia circular, para reduzir resíduos.
Ele ressaltou que o uso de defensivos biológicos aumentou 17% na última safra, e que a agricultura digital permitiu reduzir em 9% o uso de herbicidas. A SLC já opera 11 fazendas com modelos de economia circular, segundo o executivo.
Inclusão social e certificação no campo
Para Gisela Introvini, superintendente da Fapcen, pensar agricultura regenerativa também significa ampliar o olhar social e comunitário.
Ela lembrou que o conceito de agricultura sustentável evoluiu ao longo do tempo, da produtividade pura à agricultura de precisão, certificação e rastreabilidade , mas ainda há desafios básicos, como a persistência de práticas como a “roça de fogo” em regiões onde há limitada assistência técnica.
Gisela defendeu que modelos regenerativos precisam incluir povos e agricultores invisibilizados, como comunidades tradicionais e pequenos produtores, e envolver toda a cadeia, produtores, estudantes, governos e empresas. “Não é apenas uma técnica produtiva. É uma construção coletiva de território”, afirmou.
Governo vê chance para liderança tropical
O diretor do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Bruno Brasil, afirmou que a consolidação da agricultura regenerativa passa por reconhecer o modelo tropical como referência global.
“O Brasil sempre defendeu que os padrões internacionais considerem a realidade do Sul Global. No passado, o debate era orientado por climas temperados. Hoje, a segurança alimentar depende da agricultura tropical”, disse.
Ele citou o ‘Programa Caminho Verde’, que prevê a recuperação de 40 milhões de hectares degradados em dez anos, e reforçou que financiamento internacional precisa ser compartilhado entre países do Norte e do Sul.
“Ser sustentável na agropecuária tropical é ser mais eficiente. E o Brasil pode liderar pelo exemplo”, afirmou.
Agricultura é vulnerável às mudanças climáticas
O pesquisador de políticas globais Gustavo Moser destacou que a COP, desde sua origem, tem como objetivo orientar um modelo de desenvolvimento que una economia, ambiente e inclusão social.
Segundo ele, a agricultura é altamente sensível às mudanças do clima, sofre com extremos ambientais e exige planejamento de longo prazo.
“A agricultura é uma tecnologia essencial para a segurança alimentar mundial. O desafio é garantir que ela se desenvolva sem ampliar emissões e mantendo a resiliência climática”, afirmou.