
O agronegócio brasileiro conseguiu se posicionar “como parte da solução” na COP30. Em entrevista à COPTV do Agro, o deputado Arnaldo Jardim (Solidariedade-SP) avaliou a posição do Brasil na conferência do clima, que entra na reta final esta semana. Segundo ele, o país deixou de ser “vidraça” no debate climático e passou a apresentar propostas ancoradas em ciência e inovação.
Durante a conversa com a diretora de conteúdo do Canal Rural, Jaqueline Silva, o parlamentar avaliou a mudança de percepção internacional sobre o Brasil, impulsionada por estudos científicos, anúncios de empresas globais e pela articulação política do setor. Ele citou avanços em biocombustíveis, recuperação de áreas degradadas, irrigação e crédito de carbono como eixos que devem guiar a transição até a próxima edição do evento.
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Biocombustíveis no centro do debate
Jardim citou como um dos momentos mais importantes da conferência uma apresentação que reuniu os 200 principais estudos sobre segurança energética e segurança alimentar. Segundo o deputado, o material “derruba a narrativa” de que biocombustíveis competem com a produção de alimentos.
Ele relatou interesse crescente da comunidade internacional em combustíveis de origem vegetal. A Organização Marítima Internacional (IMO) recebeu o estudo e sinalizou apoio ao uso de etanol em embarcações. O deputado também mencionou que a Maersk, uma das maiores companhias de navegação do mundo, já anunciou encomendas de navios com motores preparados para etanol.
Para ele, essa mudança reforça que o Brasil “faz escola” ao combinar produção agrícola, energia limpa e redução de emissões.
Reação a protocolo sobre fim do diesel
Jardim revelou ainda que uma das discussões que mobilizou o setor durante o evento foi a assinatura de um protocolo internacional que previa o fim do uso de diesel, estimulando exclusivamente caminhões e ônibus elétricos.
Segundo o deputado, o documento ignorava alternativas como biodiesel e biometano — ambos com produção crescente no país e forte participação de pequenos e médios produtores. Após pressão do setor e manifestações contrárias, o Ministério dos Transportes recuou e retirou a assinatura brasileira.
“Foi uma reação da sociedade. O agro mostrou que tem alternativas reais e sustentáveis”, afirmou.
Escala, inclusão e tecnologia
O parlamentar, que é vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), reforçou que o avanço dos biocombustíveis deve vir acompanhado da ampliação da participação dos agricultores familiares. Ele citou o selo social do biodiesel e o desenvolvimento de novas tecnologias para etanol a partir de culturas como milho e trigo.
Jardim também destacou a expansão do biometano, com aplicações diretas em transporte pesado e em sistemas produtivos que adotam economia circular. Para ele, o agro brasileiro já demonstra na prática que “nada se desperdiça”.
Três prioridades para a COP31
Ao projetar os resultados para a COP31, o deputado apontou três temas que o Brasil deve levar adiante. A recuperação de áreas degradadas, como resposta eficaz às críticas sobre desmatamento; o reconhecimento dos biocombustíveis como solução climática prioritária; e a regulamentação internacional do mercado de carbono, permitindo que o país seja remunerado pela preservação ambiental.
Jardim afirmou que o Brasil precisa tratar a COP como processo contínuo, não como evento único. Ele citou a atuação do embaixador André Corrêa do Lago e do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, na articulação de propostas que deverão ser mantidas até a conferência do próximo ano.
Protagonismo do agro na Amazônia
O deputado ressaltou o papel da AgriZone, que pela primeira vez levou grandes discussões sobre agro e clima para dentro da COP. Para ele, realizar o evento em Belém reforçou a importância de mostrar que é possível produzir e preservar na Amazônia.
“A natureza não é um relicário para ser admirado de longe. O homem interage, cuida e gera riqueza de forma harmônica. Essa é a mensagem que o agro brasileiro deixou”, concluiu.