Painel 2: Como ser sustentável e rentável ao mesmo tempo?
Especialistas e produtores dialogaram sobre soluções de manejo e tecnologias sustentáveis na pecuária
Carlos Saviani deu a largada no segundo painel. O produtor precisa mensurar o que acontece na sua fazenda e precisa participar destas discussões. O especialista focou na necessidade de mensurar a pegada de carbono na propriedade. ” É preciso ter as métricas e coloca-las em prática nas propriedades, leva-las para o produtor. Sabendo das emissões, conseguiremos atuar sobre elas, reduzindo-as. “Existe uma série de tecnologias como o manejo de pastagens, aditivos nutricionais para ração com redução de 30, 40 até 90% da emissão. O Brasil é pioneiro nesse sentido. Com as tecnologias que existem e com outras que irão surgir, conseguiremos reduzir as emissões de metano”, concluiu.
“Com mais de 60% do território destinados à conservação, enorme biodiversidade, um Código Florestal moderno e conservacionista e praticando uma pecuária tropical e com potencial de baixas emissões, temos todas as condições para oferecer ao mundo nossa contribuição com uma pecuária sustentável, que leve em conta os limites dos sistemas naturais, para atender à crescente demanda dos mercados e o combate ao desmatamento ilegal”. A afirmação é do produtor rural e presidente do Instituto Mato-Grossense da Carne (IMAC) Caio Penido, um dos presentes no segundo painel do Fórum Planeta Campo.
Pecuária tropical sustentável
Penido faz parte do Conselho Administrativo do Grupo Roncador, complexo empresarial cujos negócios estão divididos em agricultura, pecuária e mineração. Além disso, é responsável pela Liga do Araguaia, gerenciando projetos voltados à adoção de práticas de pecuária sustentável na em Mato Grosso. “Através do trabalho na fazenda pude perceber que só com a atuação integrada de toda a cadeia de produção da pecuária será possível avançar na direção de um modelo sustentável de produção e, principalmente, no acesso a mercados que reconheçam atributos de sustentabilidade somados aos de qualidade da carne (sabor, suculência e maciez), transformando nossa biodiversidade em valor e vantagem competitiva”, contou.
O produtor falou ainda de manejos já adotados em uma pecuária tropical a pasto, como a brasileira, com elevados níveis de remoção de Gases do Efeito Estufa (GEE) pelo solo na recuperação de nossas pastagens degradadas, em um ciclo virtuoso de neutralização das emissões entéricas de nossos bovinos, modelos de Integração Lavoura-Pecuária e Lavoura-Pecuária-Floresta desenvolvidos no Brasil e servindo de exemplo de pecuária sustentável.
“Preservar é um bom negócio para a produtividade da fazenda, além de ser bom para todos aqueles que são beneficiados pela preservação de nossos recursos naturais: biodiversidade, carbono e água. Mas o mundo não valoriza e não paga pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas e, por isso mesmo, é urgente a rápida regulamentação dos chamados PSAs – Pagamentos por Serviços Ambientais, que reconhece isso através do pagamento pelos serviços ambientais prestados pelas florestas cuidadas pelo produtor rural. A possibilidade de sua implantação representa a justa compensação financeira àqueles que prestam tais serviços gratuitamente até hoje em benefício de toda sociedade. Assim, serão mais estimulados a manter as Reservas Legais e Áreas de Preservação em suas propriedades, adotando boas práticas agropecuárias e respeitando os limites naturais”, afirmou.
Para Caio, a adoção de tecnologias, boa gestão, nutrição adequada e manejo correto do solo, além do cumprimento da legislação, são os principais fatores para o aumento da produtividade e da eficiência, contribuem para a sustentabilidade do setor. “Adiciona-se a isso os avanços no desenvolvimento de aditivos utilizados na alimentação animal com propriedade de reduzir as emissões de metano dos processos metabólicos dos ruminantes, a utilização da suplementação mineral, treinamento e tecnologia, o Brasil está abatendo seu rebanho cada vez mais cedo e, assim, reduzindo as emissões de GEE por quilo de carne produzida. Isso é sustentabilidade”, finalizou.
Produtividade, tecnologia e responsabilidade
“O agronegócio brasileiro se sente preparado para esta nova era. Isso porque combinar produção agropecuária e preservação do meio ambiente não é uma possibilidade, é uma realidade em diversas regiões do Brasil, tudo baseado em ciência e responsabilidade”, afirmou Tereza Vendramini, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Para Tereza, ao longo de mais de 40 anos da história do agronegócio, o Brasil deixou de ser importador de alimentos e hoje aparece como um dos maiores exportadores do mundo. A evolução segue cada vez mais no caminho da sustentabilidade. Por exemplo, o mercado de biodefensivos, produtos que ajudam a preservar a água e o solo, vem crescendo com o passar dos anos.
Outro exemplo é a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) que, segundo dados da Embrapa, já é adotada em 11,5 milhões de hectares no Brasil, garantindo ganhos ambientais como redução das emissões de gases de efeito estufa, controle da erosão, fixação de carbono, bem-estar animal, além de benefícios sociais e econômicos.
O resultado desta nova realidade no campo se expressa em números: a produção brasileira de grãos cresceu 300% entre 1997 e 2020, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Neste mesmo período, a área plantada avançou apenas 60%, demonstrando o aumento da produtividade, o maior uso de tecnologia nas fazendas e contribuindo para a preservação de milhões de hectares.
Futuro ainda mais promissor
A presidente de sustentabilidade da JBS, Liège Correia, participou das discussões argumentando sobre a disseminação de tecnologias que cheguem a todos os produtores. “Não queremos selecionar produtores, queremos que todos estejam aptos a fazer parceria com o setor. O carbono era um assunto voando antes da COP. O Brasil entendeu seu papel para as futuras gerações”, concluiu.
Assista o segundo painel na íntegra: