Agropecuária do Futuro discute tecnologias para otimizar o uso da água
Benefícios da irrigação, bem como as técnicas de dessalinização utilizadas em Israel, foram algumas das possibilidades abordadas
No Dia Mundial da Água, a primeira live do evento Agropecuária do Futuro começou falando sobre o uso responsável desse recurso natural tão essencial para a produção de alimentos, bem como de tecnologias que podem otimizar o seu uso e aumentar a produtividade.
Uma dessas tecnologias é a irrigação, que evita a abertura de área e o desmatamento porque aumenta a produtividade. Alguns dados da Embrapa mostram que, na cultura do arroz, por exemplo, quando há irrigação, a produtividade aumenta em até 3,7 vezes por hectare.
No entanto, a técnica ainda precisa ser mais difundida no Brasil. “Hoje no país, parece um paradoxo com a quantidade de água que a gente tem, o tanto que a gente irriga, a gente irriga muito pouco, daria para dobrar tranquilamente a área de irrigação no Brasil, facilmente. Não precisaria de muita coisa para fazer isso, a água existe. Existe muita água no Brasil. (…) São ferramentas [como essa] que a gente tem que usar e dobrar a produção na mesma área, a gente tem que crescer verticalmente dentro da área, não crescer em área, mas crescer em produtividade por hectare”, afirmou Rogério Vian, que é presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS).
Ele acredita que um sistema de irrigação mais presente nas lavouras do país poderia ter evitado boa parte das perdas da última safra ocasionadas pela estiagem. “A gente não esperava um La Niña tão violento como foi esse ano e poderia ter sido mitigado, e muito, se a gente tivesse investido em irrigação. A gente não fala de irrigação em área total, mas a gente podia fazer uma irrigação de salvamento, uma irrigação de salvamento poderia ter salvo 90% dessas lavouras”, disse Vian.
O presidente do GAAS também acredita em um rápido retorno do investimento para a implantação de um sistema de irrigação. “Eu considero a irrigação um ponto-chave para a agricultura e também eu a considero muito parecida com a armazenagem. Quando você faz a conta de você montar uma estrutura de armazenagem, ela se paga muito rápido. Eu lembro que quando eu construí o meu armazém e quando eu mesmo fiz o projeto do meu armazém, em três anos ele se pagava. Então hoje existem linhas de [crédito para pagamento em] até 12 anos para armazém. E a irrigação também, tranquilamente, você paga aí dentro de três a cinco anos, dependendo do modelo de irrigação. Você paga o investimento principalmente pelo aumento de produtividade, e produzindo mais culturas por ano também e o aumento de produtividade é muito grande. E o risco climático, você mitiga o risco climático. Quanto você pode perder numa safra? Tiveram várias [lavouras] aí que perderam 100%. Então quanto custa isso? Essa é uma conta que não é feita, normalmente. As pessoas mostram `ah, você paga em tantos anos´, mas e se você perde a safra inteira? Você paga numa safra só. Olha, em um ano igual esse com a soja quase batendo R$ 200, você não pagaria em um ano só, dobrando a produtividade?”, questionou ele.
Dessalinização da água
O doutor Yair Mau, que é professor de ciências ambientais da Universidade Hebraica de Jerusalém, também participou do evento direto de Israel para contar sobre a experiência do país com a utilização e dessalinização da água. “Aqui em Israel a dessalinização da água começou há cerca de 15 anos. Há 15 anos não tinha nada e se começou a construir as primeiras usinas de dessalinização. Hoje já são cinco usinas ao longo da costa mediterrânea de Israel. E hoje cerca de 1/4 da água do país, da água de todo o país, é água dessalinizada”, disse ele
No entanto, Yair também explicou que a técnica de dessalinização da água é muito cara e utiliza muita energia. Por conta disso, o uso dessa água na agricultura é inviável. “No final das contas, ela acaba não chegando na agricultura, ela vai quase que inteiramente para o uso doméstico (…) Cerca de 55% da água de uso doméstico em Israel é essa água dessalinizada e depois que a água passa pelo uso doméstico o esgoto é tratado. Então mais da metade do esgoto de Israel é tratado e depois do tratamento ele vai chegar na agricultura. Então Israel quase que dobra a quantidade de água que tem para usar a primeira vez dessalinizando e depois tratando esgoto e levando para a agricultura. Então isso aumenta muita a capacidade de Israel, que tem um clima árido, semiárido, e dá para a gente uma segurança que a gente precisa”, detalhou.
Devido ao alto valor e as dificuldades para fazer a dessalinização, o doutor israelense acredita que a prática é inviável para a maioria dos países e que outras técnicas deveriam ser prioridade para preservar e otimizar o uso da água. “Nenhum país deveria começar pela dessalinização, tem coisas muito anteriores a dessalinização que a gente tem que fazer, só que, infelizmente, não são coisas tão `sexys´ como ´vamos pegar água do mar e dessalinizar. Tem coisa que não chama tanta atenção, mas que na prioridade deveria chegar muito antes. (…) Algo que se fala pouco é consertar o encanamento. É difícil saber, mas em todas as cidades do mundo uma quantidade absurda de água é perdida por rachaduras nos encanamentos. É difícil saber exatamente quanto, mas de 30% a 50% da água é perdida nos canos. Israel consertou todo encanamento do país e tem um sistema avançado de monitoramento dos canos. Então, muito antes de você dessalinizar qualquer água, tanto para uso doméstico quanto para agricultura, você tem que consertar os canos. Você não vai pagar muito dinheiro e [nem investir tanto em] energia para deixar a água sair pelo cano”, defendeu.
Rogério Vian também ressaltou que o desperdício de água é um grande problema e falou sobre como seria importante a captação de água da chuva no Brasil. “A gente tem que captar água da chuva, a gente tem telhados, a gente tem barracões, a gente tem em casa. Acho que todo projeto deveria ter já no próprio projeto de construção a captação de água da chuva. Olha, o que a gente perde de água de chuva é impressionante”, afirmou.
Confira o painel dedicado aos debates sobre preservação da água no primeiro dia do evento Agropecuária do Futuro:
A série de lives Agropecuária do Futuro continua nesta quarta-feira, dia 23, falando sobre os caminhos para a redução do metano na pecuária. Então, acompanhe ao vivo pelo site do Canal Rural, a partir das 17 horas.
Confira o primeiro dia do evento na íntegra: