Projetos de lei mundo afora querem proibir produtos de áreas desmatadas
União Européia, Estados Unidos e Reino Unidos analisam legislações que afetam a produção agrícola brasileira
O último dia da série de lives Agropecuária do Futuro abordou os riscos e oportunidades com as legislações ao redor do mundo para a produção de alimentos. A União Europeia, por exemplo, está analisando um projeto de lei que tem a intenção de proibir a importação de produtos agrícolas produzidos em áreas desmatadas após o ano de 2020.
De acordo com Silvia Fagnani, sócia-fundadora e CEO da ThinkBrasil, o projeto visa a produção brasileira tanto por questões de concorrência quanto por preocupações ambientais. “A gente bem sabe que a União Europeia fez esse projeto focando no Brasil, o Brasil é um dos poucos países citados no texto. Os Estados Unidos também vem com uma resolução paralela, com um projeto de lei paralelo, e o Reino Unido também. Então a gente vê que existe esse movimento e são vários os fatores: primeiro, um grande receio desses países com a agropecuária brasileira, isso a gente não tem dúvidas. (…) Então existe sim uma grande preocupação, já que toda a agricultura da União Europeia é subsidiada pelo governo e não consegue competir com a nossa. Mas existe também uma grande preocupação com o desmatamento e o Brasil está nesse foco, está com dificuldade de garantir essa narrativa, de mostrar que está sim preservando as nossas matas, principalmente na região amazônica, e com dificuldade de derrubar a narrativa de que a fronteira agropecuária está indo para a Amazônia. A gente bem sabe que essa não é a realidade, mas não está conseguindo mudar esse perfi”.
Silvia também comentou sobre os projetos de leis em tramitação nos Estados Unidos e Reino Unido. “Nos Estados Unidos eles vão um pouco além [da União Européia], tanto importador lá quanto exportador aqui tem que estar certificados e não pode ter produtos de áreas desmatadas, mas não estabelece critérios para dizer quais são as áreas desmatadas. Na minha opinião, a mais preocupante [das leis] é a do Reino Unido. A do Reino Unido traz um outro componente, o produtor rural não pode ter infringido nenhuma lei ambiental do seu país de origem. Então quer dizer que quando a gente está concorrendo com a Índia, por exemplo, que tem pouquíssimas leis ambientais, que é pouquíssimo rigorosa, é muito fácil não infringir as leis ambientais. E aqui no Brasil a gente tem uma lei muito rigorosa, que qualquer coisinha a gente está correndo esse risco. Então a gente vai ser penalizado por ter uma excelente lei de proteção ambiental”, esclareceu ela.
Confira o painel dedicado aos debates sobre as legislações internacionais que podem afetar a produção agrícola no terceiro dia do evento Agropecuária do Futuro:
Sendo assim, é importante que os agricultores e pecuaristas estejam atentos a essa crescente tendência mundial de conservação ambiental, que pode abrir mercados para quem estiver alinhado a essas políticas. “O produtor precisa estar preparado para isso se ele quer fazer essa venda, então não deixa de ser uma excelente oportunidade para destacar o nosso produto como um produto sustentável porque ninguém preserva tanto quanto a gente”, observou Fagnani.
Devido a valorização das práticas de preservação ambiental mundo afora, Silvia defendeu que o setor agropecuário deveria se unir contra as ilegalidades que ameaçam a maior floresta tropical do mundo. “Será que a gente não poderia juntar todos os produtores e fazer um seguro contra queimadas na Amazônia e mostrar para o mundo que a gente realmente não quer? Que o agro não quer queimada? Porque o primeiro prejudicado é o agro”, argumentaram Silvia Fagnani e Pablo Valler, apresentador do Planeta Campo.
Confira o terceiro dia do evento Agropecuária do Futuro na íntegra: