Programa Felinos Pantaneiros busca criar selo para constatar preservação da biodiversidade
Objetivo do Programa Felinos Pantaneiros é estudar forma de vida dos animais e como preservar o bioma da região sem prejudicar a produção de gado
O Programa Felinos Pantaneiros, que tem por objetivo entender como os animais da região vivem no bioma, começa a render os primeiros frutos.
Ângelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), conversou com o Planeta Campo sobre os desafios do programa e como conseguir conciliar a relação pantaneiro-animal.
O que os felinos causam
Apesar de não existir um levantamento sobre o tema, não é raro ver agropecuários reclamando que bezerros e outros animais são atacados pelos felinos nas regiões do Pantanal.
Rabelo cita um exemplo de uma fazenda de grande porte, que, de um rebanho de 50 mil cabeças de gado, perdeu quase 1 mil animais por ano por causa dos ataques — o número considerado “normal” para perda é de 1% a 2% do rebanho.
“O Pantanal tem uma das maiores populações de onças-pintadas do mundo. Por isso o proprietário tem que lidar com isso”, afirma.
Nem tudo é culpa da onça
O presidente do IHP explica que o Programa Felinos Pantaneiros defende ainda que os dados sejam esmiuçados, para que as onças não “levem toda a culpa” pelas mortes, quando elas podem acontecer por vários outros motivos.
“Temos procurado desenvolver junto ao produtor, cada vez mais, que ele descubra qual é a real causa da morte do gado. Em outra fazenda, em que 300 cabeças de gado foram furtadas de forma recorrente, e o problema estava sendo atribuído aos felinos”, exemplifica.
Como o produtor deve lidar com isso?
O principal desafio levantado pelo Programa Felinos Pantaneiros é como conseguir lidar com essa questão sem prejudicar os animais que vivem naquele bioma, e fazer a convivência ser pacífica.
São várias questões que podem ser adotadas, desde o conhecimento até as medidas de prevenção.
Ângelo Rabelo considera que o Instituto Homem Pantaneiro tem hoje o domínio do uso da cerca elétrica, mantendo altura e tensão de forma que não machuque os felinos.
Luzes de alerta, que não causam nenhum ferimento nos animais, também estão sendo usadas, especialmente após o registro do aparecimento de onças perto de comunidades.
“Essa experiência também já alcançou a área de grãos. O próximo passo é levar às propriedades que estão sofrendo esses ataques para buscar a conciliação da produção com a conservação”, disse.
Esforço também tem lógica de mercado vinculada
O custo de produção no Pantanal é alto, segundo o presidente do IHP, e o pantaneiro geralmente arca com isso sozinho.
Por isso, Rabelo defende o compartilhamento desses custos de conservação ambiental usando a pastagem nativa e fazendo poucas transformações para manter o negócio.
Mas, acredita também que é possível fazer disso um diferencial, com um selo de biodiversidade, que contaste que a produção da carne não fere o bioma da região.
Esse é um dos objetivos do Programa Felinos Pantaneiros a partir de agora.
“A ideia é que esse produto seja reconhecido pela sociedade com algo que faça lembrar que há preservação das espécies. Falamos da onça-pintada, mas existem muitas outras. E, se a onça-pintada gera faturamento na casa dos milhões de dólares para o turismo, porquê não trazer isso para o campo”, complementa.
Programa Felinos Pantaneiros
O Programa Felinos Pantaneiros foi desenvolvido pela Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável em parceria com o Instituto Homem Pantaneiro, e tem quatro pilares fundamentais:
- Coexistência humano-fauna
- Ecologia
- Educação ambiental
- Saúde única
Além de atuar nas propriedades privadas, também há um segundo objetivo na Serra do Amolar, onde estima-se que a quantidade de onças-pintadas seja maior do que a conhecida, devido à rede de proteção ambiental existente por lá.
O projeto também faz o monitoramento de onças-pintadas por meio de câmeras, colocadas em pontos estratégicos, e também em colares com GPS e busca ativa na mata.