Mais de 70% dos produtores já observam efeitos do aquecimento global nas fazendas
A pesquisa Farmer Voice questionou os produtores sobre quais eventos climáticos eles vivenciaram nos últimos anos com mais intensidade em suas propriedades do que em anos anteriores
Um levantamento conduzido pela empresa global de comunicação estratégica Kekst CNC com 800 produtores do Brasil, Austrália, China, Alemanha, Índia, Quênia, Ucrânia e Estados Unidos revela que 71% dos agricultores ouvidos já observam impactos expressivos do aquecimento global em suas propriedades. A pesquisa também aponta que 76% deles estão preocupados com os efeitos futuros das mudanças climáticas para seu negócio.
A “voz dos produtores”
Outros efeitos das alterações climáticas apontados pelos entrevistados foram mudanças de um extremo a outro (31%), ventos muito fortes (27%), chuvas com grande intensidade ou inundações (24%), temperaturas muito baixas (14%) e longos períodos de baixas temperaturas (12%). Somente 10% deles disseram que não passaram por nenhuma das situações acima. A pesquisa revela ainda que os efeitos foram sentidos de forma mais aguda no Brasil, Índia e Quênia.
O levantamento mostra que os produtores já registraram perdas econômicas nos últimos dois anos decorrentes das mudanças do clima. Em média, pelas estimativas dos entrevistados, sua renda diminuiu 15,7% no período, sendo que um em cada seis identificou perdas de receita superiores a 25%. Também foi reportada, por 73% dos agricultores ouvidos, aumento da pressão de pragas e doenças nas lavouras.
A maioria dos produtores entrevistados, 84%, disse que já adota ou vai adotar medidas para reduzir o impacto ambiental da atividade agrícola e recuperar áreas naturais.
Práticas sustentáveis
Questionados sobre quais práticas que reduzem emissões de gases de efeito estufa, de uma lista sugerida, eles já executam, 43% disseram que usam culturas de cobertura sobre as plantações; 37%, energias renováveis ou biocombustíveis nas operações; 33% empregam sementes inovadoras para diminuir aplicações de fertilizantes e agroquímicos; 25% usa alguma ferramenta digital que ajude a reduzir o uso de insumos agrícolas; 24% adotam o sistema do plantio direto; 22% participam de algum programa relacionado a captura de carbono. Na outra ponta, 16% disseram que não pretendem adotar nenhuma medida a respeito.
Como aumentar a renda?
A pesquisa também buscou levantar quais medidas poderiam ajudar a aumentar a renda das fazendas. Entre três fatores apresentados que mais beneficiariam a atividade agrícola, o acesso a sementes e tecnologias desenvolvidas para enfrentar situações climáticas extremas foi colocado em primeiro lugar por 53% dos entrevistados; o acesso a defensivos melhores foi citado por 50% dos produtores; e melhores tecnologias de irrigação, por 42%.
Dentre os fatores que mais podem contribuir para ganhos de receita, a diversificação de culturas foi mencionada por 58% dos agricultores; inovação em sementes, biotecnologia e defensivos, por 57%; aumento de área plantada, 47%. O sequestro de carbono e ganhos relacionados ao mercado de carbono receberam apenas 18% dos votos.
Futuro
A pesquisa buscou captar também qual é o sentimento dos produtores em relação ao futuro: 71% deles se disseram otimistas em relação ao futuro da atividade agrícola, sendo que 37% se declararam muito otimistas e 34%, “um tanto” otimistas.
Além disso, 88% afirmaram que se consideram essenciais para garantir a segurança alimentar mas não recebem o reconhecimento devido. Entre os 800 entrevistados, 46% disseram que desejam transferir a fazenda para a próxima geração da família, 24% já têm planos concretos para isso e 19% ainda não pensaram no assunto.
Desafios econômicos ainda falam mais alto
Apesar do foco na percepção dos produtores sobre as mudanças climáticas, a Farmer Voice identificou que os desafios econômicos são a maior prioridade dos produtores nos próximos três anos. Mais da metade (55%) deles apontou os custos de fertilizantes entre os três principais desafios do setor, seguidos pelos custos de energia (47%), volatilidade de preços e renda (37%) e o custo com a proteção de culturas (36%).
A importância dos custos dos fertilizantes é mais evidente no Quênia, na Índia e na Ucrânia, conforme a pesquisa. A volatilidade climática ou eventos extremos aparece depois destes fatores, apontada por 35% dos entrevistados. Na Ucrânia, 70% dos participantes indicaram os custos com fertilizantes como um dos três principais desafios, mostrando as consequências da guerra para a agricultura do país.
O Farmer Voice foi conduzido de forma independente pela Kekst CNC e os produtores foram selecionados aleatoriamente em cada mercado.
As entrevistas ocorreram entre abril e julho de 2023. Outros 2.056 pequenos produtores rurais na Índia participaram com um questionário reduzido, entre maio e junho de 2023.
Entre eles, 97% disseram que o clima mudou nos últimos anos, 82% afirmaram ser otimistas quanto ao futuro, 42% esperam redução de produtividade nos próximos anos em virtude das mudanças climáticas e 60% informaram que o que mais beneficiaria sua propriedade seria ter acesso a tecnologias digitais e melhores defensivos agrícolas.
Por Estadão Conteúdo