Bioinsumos podem ser alternativa a fertilizantes importados da Rússia
Em meio a guerra na Ucrânia, produtos biológicos tendem a ser uma boa opção para os produtores rurais
A guerra promovida pela Rússia contra a Ucrânia pode trazer diversas consequências para o agronegócio brasileiro. Uma das principais está relacionada aos fertilizantes, já que, no ano passado, 23% dos produtos usados no Brasil para adubação das lavouras vieram do país comandado por Vladimir Putin. Sem essa opção de compra, os concorrentes devem aumentar ainda mais os preços, que já subiram 155% desde o início da pandemia. Neste cenário, os bioinsumos podem ser uma alternativa para os produtores rurais, é o que afirma Jerri Zilli, pesquisador da Embrapa Agrobiologia.
“Sem dúvida nenhuma estamos com uma preocupação neste momento por conta de todo o cenário internacional que se impõe. E também, sem dúvidas, os bioinsumos, de uma forma geral, podem ser utilizados para tentar amenizar esses problemas da nutrição de plantas, do fornecimento de nutrientes, como já acontece com a cultura da soja. Nós, no Brasil, não necessitamos usar uréia, fonte nitrogenada, para o seu cultivo e sim utilizamos um insumo que é um inoculante a base de bactérias fixadoras de nitrogênio. Então é uma boa alternativa, com certeza”, afirmou Jerri em participação no programa Planeta Campo.
O pesquisador também falou sobre a capacidade da indústria de bioinsumos de atender a alta demanda da produção nacional de alimentos. “Nós temos uma indústria bastante forte no Brasil nessa parte toda de produção de biológicos, a gente precisa dividir porque se coloca no mesmo pacote, mas na verdade nós temos uma parte muito forte que é a de nutrição de plantas e aí a fixação de nitrogênio se destaca. E também temos o controle de pragas, doenças, e aí também é um outro ramo, principalmente relacionado a substituição de agrotóxicos. Então quando falamos da nutrição de plantas, nós temos um parque industrial bastante importante, que já supre muito bem o mercado nacional”, destacou Zelli.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, a entidade já tem registro de mais de 200 empresas que atuam no mercado de bioinsumos aqui no Brasil e que o setor já deve conseguir atender a demanda para a próxima safra.
Produção on farm
Outro aspecto importante citado por Jerri Zelli diz respeito a produção de bioinsumos on farm, que precisa de atenção dos agricultores, uma vez que essa opção representa oportunidades, mas também riscos para o produtor rural. “Nós temos a crescente demanda, o crescente interesse, melhor dizendo, pela produção dos bioinsumos na própria fazenda, a chamada produção on farm, que vem crescendo. E aí é uma forma que o produtor tem encontrado, de certa forma, de baratear o preço. Mas temos uma série de precauções para que se tenha êxito no final”.
A produção de bioinsumos dentro da porteira ainda está em análise e precisa de atenção para não ser prejudicial às lavouras. “A gente ainda tá convivendo, está tentando entender até onde vai esse interesse e essa capacidade dos próprios produtores (…) de multiplicar um microrganismo e ter um produto final de qualidade. Não é algo simples, não é semelhante, por exemplo, a multiplicar uma semente na propriedade, que já é algo que tem o seu rigor. Então os microorganismos são, muitas vezes, nocivos, são patogênicos né, se não soubermos quais estamos efetivamente multiplicando”, alertou o pesquisador.
Ao optar pela produção de bioinsumos na fazenda, o produtor precisa avaliar os prós e contras, já que é necessário investir em estrutura para obter um produto de qualidade. “É muito difícil você ter uma assistência técnica adequada, o produtor sozinho dificilmente consegue chegar ao ponto de ter um produto com qualidade. Então, a gente recomenda, especialmente quando estamos falando de nutrição de plantas, que cada produtor procure um técnico especializado e avalie se faz sentido montar uma estrutura na sua própria propriedade ou mesmo adquirir no mercado. Quando estamos falando de nutrição de plantas, falando dos inoculantes, os custos, os preços do produto final, são bastante competitivos, não passa de R$ 10 ou R$ 20 por hectare. Na pior das hipóteses chega nos R$ 50 por hectare. Então é preciso avaliar cautelosamente se faz sentido montar uma própria estrutura e, se decidir montar uma própria estrutura, a gente tem algumas recomendações, como, por exemplo, adquirir apenas microorganismos que já são reconhecidos pelo Ministério da Agricultura, que tem eficácia e que são seguros para uso na agricultura. E [também] que procure minimamente uma assistência técnica para fazer essa multiplicação e não que simplesmente passe a produzir tendo estruturas sedimentares, como caixas d’água, acreditando que vai ter uma coisa de qualidade, porque não vai ter, infelizmente”, conclui Jerri Zelli.
Confira o programa Planeta Campo com a participação de Jerri Zelli: