Boas práticas de manejo são essenciais para a fertilidade do solo
Primeiro dia da live Agropecuária do Futuro abordou inovações e técnicas para melhorar a qualidade do solo
O primeiro dia da série de lives Agropecuária do Futuro foi dedicado a debater tecnologias que vão transformar o uso da água e do solo. E a análise de solo é um dos pilares para verificar as necessidades da terra a ser cultivada.
Para explicar como o procedimento é essencial para a agricultura, Pedro Vendrame, que é professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), fez um paralelo com os diagnósticos médicos. “Nós estamos acostumados a todas as vezes que a gente vai ao médico, por exemplo, a primeira coisa que ele faz é consultar, é pedir alguns exames para depois ele dar ali um medicamento que possa te curar. No solo não é diferente, na agricultura não é diferente. A gente precisa conhecer para depois poder entrar com alguma tecnologia que possa auxiliar o produtor”, exemplificou.
Pedro também falou sobre os diferentes tipos de análise de solo que existem atualmente. Há três principais, que são as análises com fins de adubação e calagem, que analisam se o solo tem condições de oferecer os nutrientes necessários para as plantas; as análises físicas, utilizadas para conhecer a textura do solo, como a quantidade de argila que o solo tem; e as análises biológicas, que determinam a atividade enzimática e dão indicadores da qualidade do solo.
No entanto, mesmo sendo uma ferramenta importante, o procedimento ainda é caro e precisa de mais adesão dos produtores. “Normalmente o que a gente tem para análise de solos são reações químicas ou processos que tem um misto de parte física e parte química e isso tem um alto custo, gera resíduo. Então, hoje em dia, às vezes fica difícil fazer esse tipo de mapeamento”, explica Débora Milori, pesquisadora da Embrapa Instrumentação.
Débora também comentou sobre um foto sensor desenvolvido pela instituição para baratear e facilitar o processo de análise do solo. “O que a gente faz é utilizar luz para fazer esse tipo de análise, a gente usa uma técnica com laser que permite a gente fazer tanto a parte de análise de fertilidade, a gente pode quantificar carbono, como também a gente pode fazer a parte de textura de solos. Então a gente consegue com uma única medida das amostras de solo levantar esses parâmetros e fornecer para o produtor esse mapa do que está acontecendo no solo”, explicou ela.
Plantio Direto
Se a análise de solo é essencial para fazer o diagnóstico das necessidades da terra, o Sistema de Plantio Direto é o tratamento que vai garantir a saúde do solo a longo prazo.
Rodrigo Alessio, que é vice-presidente da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp), ressaltou que para ser bem sucedido, todos os pilares da técnica devem ser seguidos. “A gente planta quase 40 milhões de hectares no sistema de plantio direto, então foi um sistema desenvolvido que teve um impacto muito grande na agricultura. Mas se nós não respeitarmos os fundamentos, não adianta a gente ficar com muitas técnicas isoladas, achando que aquela prática por si só vai resolver”
O Sistema de Plantio Direto é baseado em três práticas principais: mínimo revolvimento do solo; manter o solo coberto com palhada; e fazer a rotação de culturas. Sendo assim, Alessio acredita que uma agricultura bem feita é baseada muito mais em processos do que em práticas isoladas.
Fixação biológica de nitrogênio
Fixação biológica de nitrogênio
Outra prática já conhecida no Brasil é a fixação biológica de nitrogênio no solo. “A soja no Brasil, por exemplo, há décadas, desde sempre, não carece da aplicação de fertilizantes minerais nitrogenados para ter esse sucesso, essa pujança de produtividade em quase 40 milhões de hectares no Brasil”, afirmou José Carlos Polidoro, que é pesquisador da Embrapa Solos.
Nosso desafio é expandir essa técnica no país. De acordo com o pesquisador, estudos vêm sendo conduzidos há anos para aprimorar esse processo em outras culturas também, como feijão, milho e cana-de-açúcar. Essa última, inclusive, já acumula 30% do nitrogênio que utiliza por fixação biológica.
Polidoro também explicou que a fixação biológica de nitrogênio acontece ao capturar esse nutriente do ar, onde ele está disponível em sua forma mais abundante, e transformá-lo em uma molécula aproveitável pelos seres vivos com o auxílio de bactérias.
E além de ser importante para a saúde do solo, a fixação biológica de nitrogênio também promove o sequestro de carbono da atmosfera, o que pode garantir aos produtores a possibilidade de ingressar no mercado de créditos de carbono no futuro.
“Primeiro eu queria dizer uma frase que eu escutei há pouco tempo de um CEO de um dos maiores frigoríficos do mundo que atua no Brasil. Ele estava fazendo um projeto focado em carbono porque daqui a 10 anos ele não mais venderia carne, ele venderia carbono e isso tem um fundamento muito grande. (…) Isso vai se tornar realidade em pouco tempo e isso tem muito a ver com carbono no solo, esse é o grande reservatório, é o mais seguro, é o caixa-forte de carbono na superfície da terra”, afirmou o pesquisador da Embrapa Solos.
Confira o painel dedicado aos debates sobre preservação do solo no primeiro dia do evento Agropecuária do Futuro:
A série de lives Agropecuária do Futuro continua nesta quarta-feira, dia 23, falando sobre os caminhos para a redução do metano na pecuária. Então, acompanhe ao vivo pelo site do Canal Rural, a partir das 17 horas.
Confira o primeiro dia do evento na íntegra: