Agro sul-americano deve ser prejudicado pelo El Niño

Secas, inundações e temperaturas acima do normal devem afetar a atividade agropecuária

Um relatório científico apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), em Dubai, indica que a América do Sul deve registrar um verão com alta probabilidade de eventos meteorológicos extremos, devido ao El Niño.

As informações apontam para chuvas acima do normal, aumento dos rios que podem provocar inundações e tempestades extremamente fortes na Grande Bacia do Prata, que inclui a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e o sul do Brasil.

Situação oposta ocorrerá no Norte e o Nordeste do Brasil, onde se esperam secas intensas e severas. Em boa parte do território chileno, entretanto, as previsões indicam que serão registradas temperaturas superiores às habituais.

Agro será prejudicado?

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Foto: Runway

Os impactos serão diferenciados. Na zona do altiplano, esperam-se precipitações menores do que o normal entre dezembro e março, que habitualmente representam a maior proporção de oferta hídrica da região.

Na Bacia do Prata há probabilidade de alagamentos e inundações por efeito de chuvas intensas e transbordamentos de rios e córregos, o que pode afetar áreas rebaixadas, setores litorais ou ribeirinhos, campos baixos e áreas vulneráveis, inclusive zonas baixas de uso agrícola ou pecuário.

Embora a oferta de pastos e pastagens se recupere, o gado de carne e de leite poderá sofrer estresse pelas altas temperaturas. Na região dos Pampas, espera-se uma maior disponibilidade de água.

Entretanto, a produtividade será prejudicada no Norte e Nordeste do Brasil pela falta de chuvas, o que aumentará o risco de incêndios florestais e reduzirá o caudal dos rios, especialmente se o fenômeno de El Niño se intensificar.

No Grande Chaco e no Pantanal brasileiro, é provável a ocorrência de chuvas normais ou, inclusive, superiores, o que aumentará a disponibilidade de água em todos os agroecossistemas e repercutirá positivamente no alimento para o gado.

As informações, que confirmam que o setor agropecuário é vítima da mudança do clima e deve extremar seus esforços coletivos para ser resiliente, foi apresentada por Cecilia Gianoni, secretária executiva do Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (Procisur).

“Promovemos a participação ativa da agricultura regional nessa cúpula climática global, pois os produtores são guardiões da natureza e devem estar no centro de todas as decisões tomadas, as quais devem ser baseadas na ciência”, disse na nota o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.

Os ministros e altos funcionários de agricultura da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai, que integram o Conselho Agropecuário do Sul (CAS), se reuniram na COP28 para discutir a importância de adotar medidas para mitigar os impactos do El Niño na atividade agropecuária.

O encontro resultou em um documento que reafirma o compromisso dos países com a sustentabilidade e a adaptação às mudanças climáticas.

Por Estadão Conteúdo