Agro: estudo revela falhas nas métricas da ONU para emissões em países tropicais
Padrão internacional para o cálculo das emissões da agropecuária não refletem a realidade da produção brasileira
O Brasil ocupa uma posição estratégica no debate climático mundial devido à sua biodiversidade, com destaque para a Amazônia, e à influente agropecuária do país. Neste contexto, o cálculo adequado do balanço das emissões de gases de efeitos estufa (GEE) é essencial para o direcionamento das políticas de clima e também para o posicionamento geopolítico do Brasil.
Embora a agricultura represente uma das principais fontes de emissões de gases no Brasil, práticas como a fixação biológica de nitrogênio e a rotação de culturas demonstram a capacidade do país de reduzir impactos climáticos.
Porém, os padrões internacionais de mensuração das emissões do agro, como os do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas (ONU), muitas vezes não refletem a realidade específica da agricultura tropical brasileira. Isso pode resultar em estimativas imprecisas, como observado nas emissões calculadas para a soja e a pecuária bovina do país.
Essa realidade foi demonstrada no estudo “Quantificação das Emissões de GEE no Setor Agropecuário: Fatores de Emissão, Métricas e Metodologias”, coordenado por Eduardo Assad, pesquisador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Cálculo das emissões da agricultura e pecuária
Pelas métricas da ONU, as emissões da produção de soja podem estar superestimadas em até três vezes, por exemplo. Isso acontece, principalmente, porque técnicas como o plantio direto e a utilização da fixação biológica de nitrogênio no solo, que reduzem significativamente as emissões e são amplamente adotadas no país, não são consideradas pelas réguas internacionais de medição.
Outro exemplo prático vem da pecuária. Aqui no Brasil as diferenças de idade dos animais e a qualidade das pastagens são consideradas no cálculo das emissões. Um bezerro de até um ano emite cerca de 32kg de CO2, enquanto indivíduos com dois anos emitem cerca de 52kg. Mas essas diferenças também não entram nos cálculos do IPCC.
Os padrões internacionais de mensuração das emissões também não levam em consideração fatores geográfico que interferem nas medições, já que o Brasil é um país tropical e que possuí um clima diferente em cada estado. Um bezerro criado no Piauí não pode ser igualado ao bezerro criado no Rio Grande do Sul, destaca o estudo, e o índice do IPCC faz uma análise genérica para toda a América Latina.
Essas divergências tornam as estimativas internacionais distantes da realidade tropical.
Liderança na agropecuária sustentável
Para abordar esses desafios, o estudo da FGV demonstra que o Brasil pode liderar a produção da agropecuária sustentável, adaptando as métricas internacionais ao contexto tropical e investindo em pesquisa de qualidade.
A comunicação transparente e a representação eficaz em fóruns internacionais também são fundamentais para garantir que as particularidades do país sejam consideradas nas diretrizes globais.