Microrganismos triplicam a produtividade em meio a estresse hídrico
Plantas de milho reduziram a temperatura em até 4ºC quando submetidas a altas temperaturas
Uma pesquisa conduzida pelo Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC), uma iniciativa da Embrapa em parceria com a Unicamp e a Fapesp, demonstrou que a presença de uma comunidade sintética de microrganismos foi capaz de reduzir em até 4ºC a temperatura de plantas de milho submetidas à altas temperaturas, triplicando a produtividade em relação às lavouras comuns.
Os microrganismos são pequenos seres vivos compostos por uma única célula, que não podem ser vistos a olho nú. E Uliana Yassitepe, pesquisadora da Embrapa e do GCCRC, conta como os resultados do estudo foram obtidos. “Esses microrganismos foram isolados de cana-de-açúcar, de um experimento realizado em cana-de-açúcar, e a gente resolveu testar o efeito dele em milho, então a gente construiu comunidade sintéticas misturando alguns microrganismos e a gente inoculou em três híbridos comerciais de milho. Então a gente viu que durante o experimento a gente submeteu as plantas ao estresse hídrico e térmico, porque estava muito calor na casa de vegetação, e a gente viu que as plantas inoculadas conseguiam, elas tinham menos sintomas de estresse hídrico, a fisiologia delas era menos afetada pelo estresse quando as plantas tinham os microrganismos inoculados. A gente viu que a temperatura foliar era menor, então todo processo bioquímico e fisiológico dessas plantas eram mais preservados na situação de estresse hídrico e, no final, a gente viu que a produtividade dessas plantas era maior. Então as plantas inoculadas, quando submetidas a uma condição de estresse, produziram mais”, detalhou.
A descoberta chega em boa hora para muitos agricultores, que sofreram com a estiagem na região Sul do país. Em Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, por exemplo, um pequeno produtor foi bastante prejudicado com a seca. Na lavoura dele, de aproximadamente 10 hectares, no ano passado foram colhidas 160 sacas de milho, mas este ano ele teme que não passarão de 60 sacas. “É muito difícil a gente se manter na atividade, é muito lamentável isso”, se entristece o produtor.
Plataforma digital
Para a constatação da pesquisa, foi desenvolvida uma sofisticada plataforma de coleta de dados em tempo real, que reuniu mais de 50 milhões de pontos de dados, 60 mil fotos e analisou 500 plantas. Isso permitiu que os pesquisadores observassem de perto o desenvolvimento da fisiologia das plantas inoculadas. “A gente conseguiu observar que as plantas que toleraram mais o estresse hídrico, elas tinham uma temperatura foliar um pouquinho menor. Então mantiveram a temperatura foliar, se a gente tivesse analisado usando métodos comuns, corriqueiros, que era ir lá e analisar num determinado momento, provavelmente a gente não teria descoberto qual era o mecanismo, entendido por que aquelas plantas inoculadas produziram mais no final. Como a gente desenvolveu essa plataforma, onde a gente pode acompanhar em tempo real durante todo o ciclo a fisiologia da planta, a gente conseguiu entender que era por causa da temperatura foliar”, diz Uliana
Os pesquisadores destacaram que tanto as plantas que receberam o microrganismo, quanto as que não receberam têm as mesmas respostas diante da irrigação em condições normais. Mas quando o assunto é seca ou estresse hídrico, as que receberam os microrganismos têm uma produtividade três vezes maior.
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