Plano Nacional de Fertilizantes: dificuldades e alternativas sustentáveis
Entenda os entraves com relação a extração em reservas indígenas e algumas alternativas ao uso de produtos químicos
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou o Plano Nacional de Fertilizantes nesta sexta-feira, dia 11, para aumentar a produção do insumo agrícola no Brasil e reduzir a importação. O lançamento era bastante esperado e está saindo do papel em um momento crítico, devido ao risco iminente da escassez dos produtos.
A produção nacional de fertilizantes é importante para o Brasil, mas o projeto tem tópicos referentes a necessidade de licenças ambientais que podem dificultar a implementação. Por isso, o Planeta Campo conversou com Eduardo Gonçalves, gerente de cadeias agropecuárias do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), para analisar as alternativas e dificuldades relacionadas ao projeto.
Exploração em terras indígenas
Quanto às licenças ambientais envolvidas na proposta, Eduardo ressalta que, apesar de ainda não ter tido acesso ao Plano Nacional de Fertilizantes por completo, a extração mineral em terras indígenas necessita de muitos esforços que talvez não compensem devido à baixa disponibilidade de potássio nessas áreas. “A gente teve acesso a alguns estudos, alguns documentos, [dizendo] que existe uma parte muito pequena, principalmente de potássio, em terras indígenas. Então, aparentemente, não vale a pena o esforço de você ter o licenciamento ambiental, [fazer a] consulta com as comunidades, tudo que a legislação exige, além de ter uma imagem internacional [abalada] referente aos direitos dos indígenas, eu acho que compromete um pouco a agricultura brasileira e a agropecuária, que está caminhando nos termos do ESG e da sustentabilidade. Então, a gente tem opções, segundo esses estudos que a gente teve acesso, em Minas, em São Paulo e até no Amazonas, várias áreas que estão em avaliação. Menos de 5% [do potássio] está dentro de terra indígena, então, aparentemente, não há sentido. Então é quase inviável você fazer isso dentro de terra indígena sem necessidade”, esclareceu.
Alternativas sustentáveis
Gonçalves também falou sobre as alternativas para oferecer nutrientes ao solo sem a necessidade, ou pelo menos, com a redução significativa do uso de fertilizantes. “A gente vem observando e trabalhando com produtores de várias cadeias. Então, estima-se que no Brasil existem mais de 2 milhões de hectares implantados com tecnologias de remineralização, utilizando o pó de rocha, bioinsumos. Na cafeicultura do Cerrado mineiro, por exemplo, nós temos muitos exemplos de produtores que até pararam de aplicar defensivos. E é óbvio que esse processo não é rápido, então é um processo relativamente lento, mas que, com certeza, várias tecnologias que nós temos atualmente, várias startups do agro, enfim, e a experiência dos próprios produtores com agricultura regenerativa, por exemplo, com certeza vão conseguir reduzir muito a utilização, tanto dos defensivos quanto dos adubos”, afirma ele.
No entanto, apesar da adoção de novas tecnologias que reduzem a dependência de fertilizantes exigirem um certo tempo para dar resultados, esse é o momento ideal para começar a utilizá-las. “É um momento muito oportuno para a gente fazer os investimentos. Agora a gente está com a faca e o queijo na mão, haja vista que as nossas reservas minerais de potássio, o custo de extração delas, tanto ambiental quanto mesmo o custo logístico, são muito altos. Até por isso que até hoje a gente tem poucas explorações, não vale a pena. Sempre valeu a pena importar esses produtos, financeiramente falando, e agora, com o aumento do valor dos fertilizantes, do potássio e do próprio fósforo, que o Brasil também não é autossuficiente, (…) então é uma baita oportunidade”, defendeu Eduardo Gonçalves.
Confira o programa Planeta Campo com a participação de Eduardo Gonçalves: