Práticas sustentáveis abrem novo caminho para crédito rural
Segundo Pedro Lupion, presidente da FPA, o Brasil vive um problema muito sério em relação ao crédito e seguro agrícola
As práticas agrícolas sustentáveis, que priorizam o uso eficiente dos recursos naturais e o cumprimento das leis ambientais e trabalhistas, estão rapidamente se tornando critérios essenciais para a obtenção de crédito por parte dos produtores rurais.
A avaliação das instituições financeiras não se limita mais apenas a ter “o nome limpo na praça”, uma vez que questões relacionadas ao desmatamento e aos direitos humanos são consideradas riscos significativos que podem afetar profundamente as corporações.
De acordo com uma pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), 87% dos consumidores consideram esse compromisso socioambiental importante para a imagem e a avaliação de uma empresa. Nesse cenário, tanto as instituições financeiras como o poder público estão se preocupando em avaliar os compromissos socioambientais dos produtores, promovendo projetos e atividades que contribuam para o desenvolvimento sustentável por meio do direcionamento de capital.
Crédito rural é ponto-chave para o produtor
Um exemplo concreto dessa nova realidade é o Plano Safra 23/24. O programa foi lançado com taxas de juros reduzidas e diferenciadas para aqueles que investem em práticas sustentáveis na produção agrícola. Isso demonstra o compromisso do governo em incentivar a produção sustentável, recompensando os agricultores que adotam práticas amigáveis ao meio ambiente.
Conforme o Mapa, o crédito rural movimentou R$ 342,5 bilhões em 2022, o que representa um crescimento de 20,4% em relação ao ano anterior.
Segundo a Associação Brasileira das Instituições do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima), as operações de crédito rural sustentável atingiram R$ 30 bilhões em 2022, um crescimento de 55% em relação ao ano anterior.
Além disso, o Brasil também tem buscado recursos internacionais para investimentos sustentáveis. Essa captação de recursos reflete a crescente importância das boas práticas produtivas e ambientais como determinantes essenciais para o acesso ao crédito rural.
Durante o Fórum Planeta Campo 2023, que acontece nesta quinta-feira (9), em São Paulo, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), defendeu a estruturação de métricas específicas para a inclusão da agropecuária no mercado regulado de carbono.
“Queremos buscar as métricas necessárias para a inclusão da agropecuária no mercado regulado. O Brasil tem o potencial de ser protagonista no mercado de carbono, mas é preciso desenvolver metodologias para medir e certificar as emissões de gases de efeito estufa da agropecuária”, afirmou.
Segundo Lupion, o Brasil vive um problema muito sério em relação ao seguro agrícola.
“Criou-se uma grande expectativa dentro do setor produtivo já que o pedido para o seguro rural nesta safra, inicialmente, girava em torno de R$ 2 bilhões. Foram prometidos R$ 500 milhões e somos surpreendidos com a negativa da quantia”, disse.
O presidente da FPA defende que o crédito, especialmente o seguro, seja facilitado. “Não é um ano bom, não é um ano bom, e o produtor precisa da nossa força”, reforçou.
Segundo o assessor especial do Ministério da Agricultura, José Angelo Mazzillo, o agronegócio brasileiro é um setor com grande potencial de crescimento. “É um segmento fadado ao sucesso. O agronegócio brasileiro vai dar certo, podemos não saber quanto tempo pode levar, mas o Brasil vai cumprir o seu papel de alimentar o mundo”.
Na avaliação de Mazzillo cabe ao Estado e ao crédito rural o papel de ser indutor de boas práticas e valores. “É assim em todos os segmentos, com o agronegócio não é diferente. O que privado sozinho tem dificuldade, o Estado pode ajudar”, explicou.
Por fim, de acordo com o diretor de crédito financeiro do BNDES, Alexandre de Abreu, a sustentabilidade é uma exigência para o acesso a crédito no exterior. “E o produtor brasileiro é sustentável. Ele preserva. O Brasil precisa trabalhar para preservar o meio ambiente para manter o acesso a crédito e investimentos”, disse.