Produção de fertilizantes no Brasil pode ser sustentável?
Engenheiro agrônomo do Imaflora defende produção integrada com bioinsumos e agricultura regenerativa
A ministra da agricultura, Tereza Cristina, anunciou em uma live nesta quinta-feira (3) que o governo federal vai lançar ainda neste mês de março um plano nacional de fertilizantes para ampliar a produção de insumos no país, já que o Brasil importa 80% desses produtos. O plano se mostra bastante urgente, principalmente em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia, que ameaça ainda mais a oferta de substâncias como nitrogênio, fósforo e potássio.
No entanto, uma das dificuldades para a produção de insumos no Brasil são os licenciamentos ambientais necessários para desenvolver a mineração, uma vez que a matéria-prima está em meio às florestas, algumas delas, inclusive, em reservas indígenas. Mesmo assim, visto a necessidade do projeto, até mesmo a Fundação Nacional do Índio (Funai) tem sido favorável a proposta, desde que as comunidades sejam indenizadas.
Em participação no Planeta Campo, Lisandro Inakake, engenheiro agrônomo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) também falou sobre a diversificação dos processos de produção. “A gente tem que olhar para o plano nacional de fertilizantes de maneira integrada, existem formas de trabalhar, de produzir, de fazer a agricultura e a agropecuária que não sejam dependentes totalmente dos insumos consolidados, que são os químicos e sintéticos. Então acho que ele é importante para trazer perspectivas de manutenção de uma capacidade produtiva e até na sua expansão, mas também é importante buscarmos a diversidade”, afirmou ele.
Apesar da agricultura ainda ser bastante dependente dos insumos químicos, o engenheiro agrônomo chama a atenção para a alternativa de utilizar produtos biológicos, além da adoção de práticas produtivas agroecológicas, que podem diminuir a necessidade de fertilizantes tradicionais. “Olhando para o agronegócio como se estruturou e evoluiu nos últimos 20 e 30 anos, a gente hoje nota que há uma transição de uma série de insumos para os biológicos. Você vê que tem uma infinidade de oportunidades sendo trabalhadas, mesmo assim ainda não dá para trocar os insumos e defensivos agrícolas para controlar pragas e doenças. A nutrição ainda depende bastante dos fertilizantes químicos, mas eu trago como alternativa aqueles sistemas produtivos agroecológicos, que a gente chama hoje de agricultura regenerativa, que é você trazer o sistema agroecológico para uma forma de escala. Existem alternativas e muitos exemplos na produção da agricultura familiar e também você tem empresas grandes, como uma usina no estado de São Paulo que produz açúcar para exportação e o sistema dela é biodinâmico, ou seja, a gente tem alternativas. É importante a gente ter neste plano nacional de fertilizantes, trazer esses elementos para dentro, que tem potencial de ser explorado”, concluiu Lisandro Inakake.
Confira o programa Planeta Campo com a participação de Lisandro Inakake: