Soja de baixo carbono deve ganhar selo de qualidade da Embrapa
Entidade planeja reconhecer grão produzido de acordo com boas práticas de manejo sustentável
Em breve, a soja produzida com baixa emissão de gases de efeito estufa sob um manejo sustentável pode ganhar um selo de qualidade registrado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Em participação no programa Planeta Campo, o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique De Biasi, deu mais detalhes sobre o projeto. “Nós estamos conduzindo duas fases do programa simultaneamente. Nesse momento, por um lado nós estamos criando uma metodologia que se trata de um protocolo para medir as emissões de gases causadores de efeito estufa em sistemas de produção de soja, então isso está em andamento. Já foi elaborada uma proposta e essa proposta será discutida em oficinas com a participação de diversos especialistas com intuito de criar uma metodologia que seja aceita internacionalmente e que não seja, como se fala por aí, uma ‘jabuticaba brasileira’. Ao mesmo tempo, nós estamos buscando parcerias com o setor privado, com empresas de diferentes segmentos, para financiar o projeto através da criação de uma rede de parcerias, mas não só para financiar o projeto como também para nos dar suporte técnico e garantir a adoção depois que ele for criado”, explicou.
Alguns requisitos relacionados a boas práticas de manejo, cientificamente comprovadas na mitigação das emissões, deverão ser cumpridos por quem quiser obter o selo. “Por exemplo, já está na pré-proposta a necessidade do uso do sistema de plantio direto, levando em consideração todo o arcabouço tecnológico desse sistema. Ou seja, um sistema de plantio direto de qualidade com ausência de revolvimento, rotação de culturas, uso de culturas de cobertura, porque esse sistema além de aumentar a eficiência de uso dos fertilizantes, por exemplo, impactando positivamente no uso racional e assim numa menor emissão de gases, ele permite o acúmulo de carbono no solo, sequestrando esse carbono atmosférico”, ressaltou o pesquisador.
Ele também falou de outras práticas que devem ser realizadas. “Também está previsto como requisito o uso de tecnologias como a fixação biológica do nitrogênio, que permite uma grande economia de emissões de CO2. Para quem está nos assistindo nesse momento ter uma ideia, a cada quilo de nitrogênio economizado na produção de soja pelo uso da fixação biológica, isso representa basicamente 10 kg a menos de gás carbônico emitido na atmosfera”, exemplificou Henrique.
“Claro que para atingir essa eficiência tem que ter uma série de boas práticas de inoculação e é isso que está previsto ser monitorado nessas áreas do protocolo. Outras tecnologias também vão entrar como o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas. Práticas para o uso eficiente de fertilizantes e nós sabemos que todas essas práticas, ao mesmo tempo que elas reduzem as emissões de carbono, elas mantêm ou aumentam a produtividade e reduzem custos. Então são práticas que, uma vez que são adotadas, se ganha nas duas pontas. Se ganha em termos de viabilidade econômica e se ganha também em termos de redução dos impactos ambientais”, resumiu o pesquisador da Embrapa Solos.
Quanto ao prazo para conclusão do protocolo, Henrique diz que o projeto deve ser concluído nos próximos anos e explica como deve funcionar. “Nossa previsão é dentro de dois anos termos o protocolo pronto e disponível para ser utilizado pelos produtores ou mesmo por instituições que o representem, como, por exemplo, cooperativas, associações e assim por diante. É importante que fique claro que o papel da Embrapa nesse processo vai ser desenvolver o protocolo e creditar certificadoras para que utilizem o protocolo e atribuam o selo. Evidentemente, nós estamos criando uma plataforma. Essa plataforma ainda não está definida se vai ser conduzida pela Embrapa somente ou através de uma parceria com alguma outra instituição, mas nessa plataforma vai haver uma interação entre as empresas certificadoras da Embrapa e os clientes interessados. E um dos papéis da Embrapa certamente vai ser treinar os técnicos e os produtores em relação às boas práticas que levam a gestão das emissões de carbono”.
Outro ponto importante é que o selo seja reconhecido também fora do país. “Uma questão bem importante e que, digamos assim, é a base para essa tecnologia ser aceita internacionalmente, é que a Embrapa cria o protocolo, ela é responsável pela atualização do protocolo, mas a certificação vai ser voluntária, privada e de terceira parte, ou seja, vão ser instituições credenciadas que vão fazer esse trabalho”, concluiu Henrique De Biasi.
Confira abaixo o programa Planeta Campo:
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