Transição da agropecuária passa por mecanismos financeiros
O projeto CONSERV, mecanismo privado, de adesão voluntária, que compensa médios e grandes produtores rurais por conservarem o excedente de vegetação nativa, é uma dessas soluções para a agropecuária
A transição para uma agropecuária baixo carbono passa pela criação de instrumentos financeiros que possibilitem dar escala às atividades baseadas na sustentabilidade e mecanismos criativos que valorizem a vegetação nativa.
O projeto CONSERV foi apresentado como uma dessas soluções no painel “Instrumentos financeiros para a transição da agropecuária”, da COP28, em Dubai, e realizado no Espaço Brasil nesta segunda-feira (11).
O CONSERV é um mecanismo privado, de adesão voluntária, que compensa médios e grandes produtores rurais por conservarem o excedente de vegetação nativa. Desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com o Woodwell Climate Research e com o EDF (Environmental Defense Fund), o projeto possui 22 contratos firmados no Estado de Mato Grosso e um no Pará, somando 20.707 hectares de vegetação protegida que poderia ser legalmente suprimida.
A iniciativa apresenta uma oportunidade de escalabilidade. Só o estado do Mato Grosso possui imóveis rurais que guardam 3,2 milhões de hectares de vegetação nativa, que correspondem a aproximadamente 134 milhões de toneladas de carbono estocado, e que por lei podem ser suprimidos.
Uma segunda fase da iniciativa está sendo iniciada, desta vez em parceria com o setor privado. Além de remunerar produtores por seus excedentes de vegetação nativa, o projeto irá, em parceria com a Produzindo Certo, avaliar as áreas para apoiar na melhoria da produtividade na agropecuária.
“Precisamos trabalhar com mecanismos financeiros inovadores de diferentes fontes de recurso, canalizar esses recursos, e apoiar a intensificação da produção em áreas já abertas para reduzir a pressão sobre a floresta”, afirmou Gabriela Savian, diretora adjunta de políticas públicas do IPAM, durante o painel.
O papel das instituições financeiras na promoção do agro sustentável
A discussão também girou em torno do papel das instituições financeiras ao direcionar recursos para atividades que visem a descarbonização. Julia Dias, representante do IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), falou sobre o trabalho que sua organização realiza em analisar os maiores bancos comerciais brasileiros de acordo com critérios socioambientais e fazer recomendações para implementação de boas práticas.
“Muitas vezes essas instituições consideram os riscos dos financiamentos, mas excluem os riscos para as pessoas e para a natureza”, explicou Dias. João Adrien, diretor de sustentabilidade do ItaúBBA, afirma que o maior desafio para garantir que o crédito concedido por bancos não está financiando ilegalidades seria a integração de dados.
Sandra Bonetti, secretária de Meio Ambiente da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares), trouxe a necessidade de pensar em créditos diferenciados para os produtores de pequeno porte de modo que eles possam ter acesso a recursos.
“52% das propriedades agropecuárias têm menos de 10 hectares de terra, mas observamos que não há equidade para o desenvolvimento da agropecuária. É importante ter um olhar especifico para essa parcela pois nossas necessidades também são específicas”.