Agropecuária e conservação da floresta precisam trabalhar juntos, diz governador do Pará
Helder Barbalho ainda reforçou que a capital paraense está pronta para sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30) em 2025
A floresta como ativo da bioeconomia, a consolidação de um ambiente de legalidade, a valorização do conhecimento dos povos e comunidades tradicionais e o protagonismo das instituições e cientistas da Amazônia deram o tom do debate na “I Conferência para uma Amazônia que Queremos”, promovida pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA, da sigla em inglês), nessa quarta-feira (08), em Belém (PA).
O evento, que se estende até essa sexta-feira (10), foi aberto pelo governador do Estado, Helder Barbalho, e contou com a participação do chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos.
As discussões reúnem cientistas nacionais e internacionais, gestores públicos estaduais e federais e representantes da sociedade civil organizada e do mercado.
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“O Pará está disposto a construir e implementar soluções ambiental e socialmente sustentáveis para a Amazônia. Precisamos desfazer a lógica de que gente e floresta são conflitantes”, enfatizou o governador na abertura do evento.
O objetivo da Conferência é debater e levantar temas e ações prioritárias para o planejamento estratégico 2023-2025 do Painel Científico para a Amazônia (SPA). Lançado em 2019, o painel é uma iniciativa de mais de 200 cientistas brasileiros e estrangeiros que alertam para os efeitos irreversíveis do desmatamento, degradação e mudanças climáticas na Amazônia.
“É um momento de escuta para a agenda de desenvolvimento sustentável da região com foco em uma bioeconomia florestal para a Amazônia”, afirmou o cientista Carlos Nobre, da Universidade de São Paulo (USP).
Nobre e a cientista boliviana Marielos Peña-Claros, da Universidade de Wageningen (Holanda), co-presidentes do Painel Científico, apresentaram os principais resultados do trabalho e alertaram para os desafios que a proteção do bioma precisa superar, como o desmatamento, degradação florestal, garimpo, extração ilegal de madeira, fogo, entre outros.
“É preciso agir agora na busca pela moratória do desmatamento no sul da Amazônia, pelo desmatamento zero em toda a região até 2030, pela conservação e restauração da floresta em larga escala e por uma nova bioeconomia da floresta em pé”, alertaram os cientistas.
Bioeconomia da floresta
No painel de abertura “A Amazônia no Centro do Desenvolvimento Sustentável do Brasil”, o governador Helder Barbalho afirmou que o estado precisa trabalhar com uma lógica agregadora entre a produção agropecuária e a conservação da floresta.
“O Pará, que já tem o segundo maior rebanho bovino do país, pode intensificar a produção de proteína animal e de grãos sem derrubar uma árvore sequer”, afirmou. Ele citou a importância do trabalho da Embrapa, Emater e universidades na intensificação da produção agrícola no estado.
O chefe do executivo estadual enfatizou ainda que o Pará é o único estado brasileiro a ter um Plano Estadual de Bioeconomia, e reforçou que a capital paraense está pronta para sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30) em 2025.
“A bioeconomia movimenta no mercado brasileiro em torno de 170 milhões de reais, porém menos de 1% desse total é relacionado à biodiversidade da Amazônia. Temos que ver isso como uma oportunidade para ocupar esse espaço e tornar a floresta amazônica o principal ativo desse mercado”, declarou Helder.
Protagonismo local
Em sua participação no painel de abertura, Walkymário Lemos, chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, destacou a necessidade do fortalecimento das instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação da Amazônia para que sejam protagonistas das decisões sobre a região.
Ele enfatizou o papel da organização na agenda de desenvolvimento sustentável com foco no território e na busca da inclusão de povos e comunidades tradicionais.
“A Embrapa na Amazônia vem trabalhando com o conceito de bioeconomia inclusiva, que foca no resgate e valorização do conhecimento dos povos e comunidades tradicionais”, ressaltou o gestor.
Ele cita ainda que na agenda da bioeconomia, a pesquisa gera soluções que vão desde informações científicas para subsidiar políticas públicas até produtos e práticas agroflorestais.
Sobre a produção agropecuária no estado, Walkymário destacou que 60% das áreas já abertas no Pará estão associadas ao pasto e que a Embrapa atua na região com os sistemas integrados de produção, que promovem uma agricultura regenerativa para recuperar Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (Rls).
O gestor finalizou dizendo que “as decisões para a Amazônia devem ser tomadas para e com os amazônidas”.
João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), ressaltou a necessidade de estabelecer um ambiente de legalidade para atrair empresas e investimentos na região, combatendo o avanço predatório sobre a floresta e ainda “recuperar a integridade do Cadastro Ambiental Rural (CAR) como um instrumento de gestão territorial rural”, acrescentou.
Por fim, ele destacou o papel da ciência como geradora de informação segura para fundamentar políticas públicas.