Bioinsumos são tendência no agro para 2024
Na safra de 2021/22, o setor viu um crescimento de 67% em um ano de vendas de bioinsumos, de acordo com relatório do Farm Trak, estudo divulgado pela Kynetec
Soluções mais ecologicamente sustentáveis estão entre as tendências do agronegócio para 2024. O cuidado com a redução de impacto ambiental já é muito observado e valorizado em exportações, e agora também no mercado interno com uma crescente preocupação. Uma das soluções encontradas para o setor é o uso de bioinsumos, ou insumos biológicos, ao invés de químicos para proteger lavouras.
Já na safra de 2021/22, o setor viu um crescimento de 67% em um ano de vendas de bioinsumos, de acordo com relatório do Farm Trak, estudo divulgado pela Kynetec. Especialistas apontam esse momento como “de experimentação” dos produtores, e até a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura tem estimulado seu uso, como fator relevante para solução da crise global de alimentos a longo prazo.
O que são os bioinsumos?
Os bioinsumos são microrganismos usados para combater pragas, insetos e fungos. Onde antes seriam usados defensivos químicos (cada vez mais combatidos, com países proibindo seu uso), são implantados agentes biológicos que não deixam resíduos nem tem passivos ambientais. A redução de químicos tem importantes impactos ambientais.
“As aplicações de biológicos na agricultura são diversas”, comenta o engenheiro de bioprocessos Eduardo Leite.
“Temos no mercado produtos usados como biofungicidas, bionematicidas, bioinseticidas promotores de crescimento, entre outros. Os bons resultados atraem cada dia mais produtores: segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), em 2023 foram registrados 15 novos produtos biológicos para agricultura”.
O Brasil conta hoje, segundo o Mapa, com mais de 100 matrizes fabricantes de bioinsumos registradas.
“O que observamos no mercado atual é a busca por novos produtos sempre priorizando a eficiência no campo”, afirma Leite. São Paulo lidera o ranking com 47, seguido pelo Paraná, com 18, e Minas Gerais com 13. E é também nesses estados que outro mercado relacionado tem mostrado significativo crescimento: o de engenharia.
Projetos que levem em consideração o uso de agentes biológicos têm sido mais frequentes. “Já desenvolvemos muitos layouts industriais em áreas como fertilizantes e defensivos químicos”, explica José Carlos Gerolin, diretor técnico da mineira Gerolin Engenharia, citando os produtos químicos usados para combater pragas das plantas. “É relativamente recente, mas significativa, a busca por projetos pensados para fábricas que utilizarão agentes biológicos”, complementa.
Desafios
Por ser recente, o setor de insumos agrícolas biológicos ainda tem pouca legislação. São necessários cuidados específicos no trato de bioinsumos, porque seu uso indevido pode levar a desequilíbrios ambientais. Alguns projetos de lei estão em tramitação na Câmara dos Deputados, por exemplo, demonstrando o avanço do setor – e os diferentes cuidados necessários.
“Como estamos falando de microrganismos, temos um grande cuidado em relação à biossegurança, e nosso layouts são pensados em cima disso”, explica Gerolin.
As grandes empresas precisam criar novos padrões de sanitização, limpeza, processo e segurança, diferentes do que se faz hoje para os agentes químicos, seguindo as necessidades particulares dos bioinsumos.
“Todo nosso trabalho é baseado em reduzir ao máximo a chance de contaminação dos bioprocessos, então temos projetos, por exemplo, com salas limpas nas quais estão instalados filtros de até 0,22 micras, dispostos em um layout otimizado com barreiras de segurança biológica”, destaca o engenheiro citando os equipamentos de retenção de partículas contaminantes.
Uma das tendências é o “on farm”, no qual os bioinsumos são produzidos na própria estrutura agrícola em que será utilizado.
Porém, esse formato requer uma atenção especial dos fornecedores de inóculos e meio de cultura para as unidades ‘on farm’, para o monitoramento do desenvolvimento dos microorganismos, assim como suas concentrações ideiais. José Carlos destaca ainda que esse formato de produção, sem os cuidados e acompanhamento de um profissional habilitado não é o mais indicado, uma vez que pode apresentar mais riscos de contaminação.
Existem poucas empresas no Brasil fornecedoras de bioinsumos para produções “on farm” que possuem capacidade técnica para produzir e monitorar o desenvolvimento biológico nas propriedades. Por isso, as diferentes etapas de proteção de um layout são necessárias, e as formas mais seguras ainda são as de buscar outros formatos diferentes para a produção “on farm” que assegure a eficiência de uso.
Questões legais serão decisivas para o avanço tanto dos bioinsumos quanto da engenharia especializada no setor. “O Ministério da Agricultura e Pecuária ainda trata muitos bioinsumos como se fossem defensivos químicos, mas existe uma diferença enorme entre um produto com microrganismos e um defensivo convencional”, completa o engenheiro.