Brasil lidera produção sustentável com efeito poupa-florestas

Pesquisa do Ipea mostra que área poupada é maior do que a efetivamente utilizada na agropecuária brasileira

Aerial view of Beautiful footage of tropical Rainforest in Amazon, Amazon forest jungle in Brazil.
Aerial view of Beautiful footage of tropical Rainforest in Amazon, Amazon forest jungle in Brazil.

O Brasil está no centro da produção agropecuária sustentável em todo o mundo e tem muito a contribuir para a oferta global de alimentos e energia, diante da preocupação global com a agroinflação, a segurança alimentar, os efeitos da pandemia de Covid-19 e a crise gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia no mercado global. Esta é a principal conclusão da nota técnica que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou na última semana, durante o seminário Agricultura, Pecuária, Energia e o Efeito Poupa-Florestas: Um Comparativo Internacional, que mostra o Brasil à frente de outros países agroexportadores em termos de crescimento da produtividade baseada em ciência e tecnologia e em produção por unidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

O evento analisou a posição do Brasil em diversos indicadores de sustentabilidade frente a sete grandes agroexportadores: Argentina, Canadá, China, França, Alemanha, Índia e Estados Unidos. Dois indicadores tiveram destaque na apresentação de José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, coordenador de Estudos em Sustentabilidade Ambiental do Ipea e autor do estudo: o efeito poupa-florestas, que busca apontar a extensão de terras poupada devido às mudanças tecnológicas e técnicas na produção agropecuária, e a emissão de gases de efeito estufa por unidade de produção.

“O efeito poupa-florestas no Brasil é o maior entre os países comparados”, disse o pesquisador, ao ressaltar que esse indicador alcançou 43,2% do território nacional em 2020. “A área poupada é maior do que a efetivamente utilizada na agropecuária brasileira, enquanto Alemanha e França sempre pouparam pouco em seus territórios”, explicou. Depois do Brasil, o país com melhor desempenho nesse indicador é a Índia, com 34,5%. No entanto, o desempenho indiano esteve associado exclusivamente à produção agrícola. Já o brasileiro se deve aos ganhos de produtividade na agricultura e pecuária.

Em participação ao vivo no programa Planeta Campo, José Eustáquio explicou com mais detalhes o efeito poupa-florestas. “Se a gente pegar a produção agropecuária atual com a tecnologia e a produtividade do passado, quanto de área excedente, sejam agricultáveis ou de pastagem, a gente precisaria? E a resposta para essa pergunta é a quantidade adicional de terra incorporada à produção, ou seja, seria aquela parcela de florestas que não seriam desmatadas. Em resumo é o seguinte, se eu tenho hoje uma tecnologia moderna eu vou precisar de X hectares para plantar alimentos e produzir alimentos. Agora se eu pegar a tecnologia do passado para produzir o mesmo tanto que eu tenho hoje a gente tem que expandir a terra, então eu precisaria de X + Y, o Y é o que eu chamo de efeito poupa-florestas” (…). Eu posso dizer o seguinte, o efeito da poupa-florestas oferta mais alimentos e tem um impacto direto na redução do desmatamento, porque se eu aumento a produção dentro de um hectare plantado eu preciso desmatar menos no final, é isso que a gente está avaliando”.

Confira a participação de José Estáquio no Planeta Campo:

Produção de baixo carbono

A produção brasileira por unidade de emissão de GEE tem crescido continuamente, entre outros fatores, devido ao avanço da mudança tecnológica e aos investimentos em produção de baixo carbono. A economia brasileira é a que apresentou a melhor taxa de crescimento do indicador baseado na produção agropecuária por emissões totais de gases estufa entre 1990 e 2020, de acordo com o estudo – 3,92% na pecuária e 3,93% na agricultura. Segundo Vieira Filho, os resultados evidenciam que um quilo de alimento produzido hoje gera menos emissões, e o Brasil lidera esta corrida mundial por uma produção mais sustentável.

Na abertura do seminário, o presidente do Ipea, Erik Figueiredo, lembrou que a imprensa divulgou recentemente que o Brasil seria questionado na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) por práticas na agricultura contrárias à preservação ambiental. “A informação era de que Alemanha e França apresentaram boas práticas. Nossa pesquisa mostra que as boas práticas estão ocorrendo no Brasil, que se tornou referência no mundo em equilíbrio ambiental e de produção de alimentos”, afirmou Figueiredo.

O diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea, Nilo Luiz Saccaro Junior, disse que a nota técnica reuniu dados de qualidade e uma abordagem bastante clara e sintética, em duas versões, português e inglês. “Nas últimas cinco décadas, o Brasil conseguiu uma transformação produtiva acelerada, que muitos países não conseguiram fazer, baseada em tecnologia com manutenção da cobertura vegetal”, disse.

Vieira Filho também expôs dados comparativos sobre a matriz energética do Brasil, geração de eletricidade e produção de biocombustíveis. “O investimento em fontes de energia renovável está moldando as políticas em todo o mundo. O Brasil está à frente de seus principais competidores”, concluiu.

 

*Com informações do Ipea