
“O pecuarista tradicional não era especializado em produção, ele dependia da natureza”, foi com essa reflexão que o agropecuarista Luís Paulo Jardim avaliou a atividade na região de Rosário do Sul, município gaúcho de mais de 36 mil habitantes. O produtor abriu as porteiras da propriedade em uma visita técnica para mais de 100 pessoas durante o terceiro dia da Caravana rede ILPF edição RS.
Proprietário de uma fazenda responsável pela produção de bois comerciais com animais padronizados e precoces, Luís atribui seu sucesso a um fator principal: a integração Lavoura- Pecuária. “Hoje, a pecuária brasileira se desenvolveu muito, graças a esses sistemas integrados. Isso aí inverteu a oferta de boi gordo, que no inverno é maior do que no verão. Se pegarmos antigamente, isso era impossível”, explicou.
O produtor conta que, pelo clima frio do Rio Grande do Sul, só existia lavoura de verão. “Tu planta soja, arroz ou milho, a partir de setembro e a colheita vai até abril, maio. Então, esse é o ciclo”, disse.
Lavoura de verão para ter alimento no inverno
Jardim comentou ainda que é a lavoura de verão proporciona a comida no inverno porque a terra já está feita. “Muitas pessoas nem adubam porque o solo já tem tudo, tem adubo, correção de solo, Então, simplesmente faz a pastagem e tem um bom uso dela nesse período que seria entressafras, observou.
O responsável técnico pela propriedade do Luís é o médico veterinário João Carvalho. O especialista conta que há 5 anos ininterruptos trabalha com o sistema integrado lavoura pecuária.
“Na fazenda temos soja, milho ou arroz no período de primavera- verão; e no inverno, que seria uma dificuldade na região pelo clima e por todos os fatores, a gente tem uma integração com azevém, plantio direto de aveia”, disse.
Pastagens tropicais perenes
O pesquisador da Embrapa trigo, Renato Fontaneli, explica que nessa lógica de manejo a inserção das pastagens tropicais é importante porque a lavoura de soja e milho são muito atrativas. “Para manter os animais, é necessário uma alta capacidade de suporte, uma alta lotação ou seja, menor espaço possível para manter o gado; Durante o inverno nós temos muitas áreas ociosas. Pastagens menos produtivas mas há oferta e poucas alternativas competitivas para geração de renda. O nosso problema passou a ser o verão”, observou.
Como o próprio nome diz, as pastagens perenes não precisam ser semeadas anualmente e chegam a produzir por décadas, desde que sejam bem implantadas e manejadas. Com raízes profundas e palhada acumulada sobre o solo, elas favorecem a infiltração de água, ajudam a reduzir a erosão e melhoram a fertilidade do solo.
Essas plantas têm potencial de produção de 20 a 35 toneladas de matéria seca por hectare/ano, enquanto as pastagens anuais variam entre 6 e 12 toneladas. Com mais pasto disponível, o pecuarista precisa de menos silagem, feno e ração para alimentar os animais, reduzindo os custos de produção.
O veterinário João Carvalho conta que foram várias alternativas que deram novo rumo ao planejamento forrageiro da empresa. “Nós aumentamos a forragem no inverno e isso fez aumentar também a lotação de animais; Receita que vai interessar para todo produtor”, justificou.
Definindo o sistema integrado
A Integração Lavoura Pecuária ou ILP pode ser compreendida como um sistema onde se produz grãos, pasto, silagem, carne, leite, lã e outros alimentos, na mesma área, com alternância ou rotação temporária de pastagens e culturas ao longo do tempo.
E quais as vantagens desse sistema? Fontaneli, explica que a ILP tem como principais vantagens a diversificação de renda nas propriedades, melhor aproveitamento dos efeitos residuais de corretivos e fertilizantes, além de se minimizar a utilização de agroquímicos, aumentar a eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão de obra. “Desta forma é possível aumentar a eficiência nas escalas agrícolas, gerando emprego, renda e melhorando as condições sociais no meio rural”, observou.
Segundo dados da Embrapa, na região sul-brasileira é tradicional o uso de sistemas integrados, sendo que nos estados do RS e SC, aproximadamente 20% da área cultivada anualmente com culturas produtoras de grãos, principalmente com soja, milho, arroz e cereais de inverno, o faz com integração, perfazendo mais de dois milhões de hectares e, destes a modalidade de integração lavoura-pecuária (ILP), ocupa cerca de 80% da área, ou seja cerca de 1,6 hectares.
Vantagens para o produtor
Do ponto de vista econômico o aumento da capacidade de suporte da propriedade por meio da ILP é uma das grandes vantagens, onde as áreas de lavoura dão respaldo à pecuária, por meio da produção de alimento para os animais, na forma de grãos, silagem, feno ou pastejo.
O João Carvalho, médico veterinário da propriedade do Luís, confirma os benefícios do sistema no campo. “Aumentou a rentabilidade das áreas e hoje a gente tem um know-how no assunto! Sem dúvida nenhuma, a gente não vê solo descoberto na propriedade, tem um aumento de matéria orgânica no solo. Podemos dizer que o solo que tinha lavoura, antes ficava descoberto, a geada acabava matando a vegetação. Hoje, não se vê mais isso . A gente tem planta., a gente tem vida no solo o ano inteiro”. Comprovação de que é possível rentabilidade na produção pode andar de mãos dadas com a Sustentabilidade!