Carne Orgânica do Pantanal: saiba como a produção acontece
Adoção de boas práticas resulta em mais rentabilidade, além de promover a preservação ambiental e o bem-estar animal no bioma
O bioma Pantanal possui, ao todo, mais de 3,8 milhões de cabeças de gado e na região há um forte incentivo à participação dos produtores no Programa Carne Sustentável e Orgânica do Pantanal.
Em vigor desde 2019, o projeto já investiu R$ 5 milhões na criação de 55 mil animais, sendo que apenas no ano passado foram 39 mil bovinos classificados como orgânicos e sustentáveis.
Renato da Silva Lopes é um dos pantaneiros que trabalha na Fazenda Santa Fé do Corixinho, propriedade que atua com pecuária orgânica e possui 5 mil cabeças de gado em 11 mil hectares. A propriedade fica localizada na região de Nhecolândia.
Sendo assim, Renato conta sobre as características da criação de gado no local, que acontece respeitando as condições de alagamento da região. “Eu acho que nós somos meio cúmplices do Pantanal, sabe? Porque a gente é bem acostumado já com esse sistema e é muito bom para gente isso”.
Outro colaborador da propriedade, Rodrigo Ramires Sandim, fala sobre como a atividade se relaciona com o meio ambiente. “Eu acho que o sustentável hoje aqui na fazenda é o nosso carro-chefe, viabilizando a gente cuidar da natureza, cuidar do bem-estar animal, para a gente produzir um animal com mais qualidade, animais dóceis, um animal fácil de ser conduzido (…). Então a nossa ideia é projetar o bem e não importa quem. Então graças a Deus está dando muito certo”.
Protocolo de produção
A pecuária orgânica e sustentável do Pantanal começou com a formação da Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO).
A entidade elaborou um protocolo de produção baseado em conceitos de qualidade e sustentabilidade social, ambiental e econômica sob gestão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
“A gente usa rastreabilidade, como sistema oficial temos o Sisbov, utilizamos planos de manejo, todo o processo de manejo dentro da propriedade é registrado, anotado e submetido a essa certificadora. A gente tem todas as questões, as legislações sendo amplamente atendidas e respeitadas, desde a trabalhista, a fiscal, a ambiental, tudo isso é muito observado e está contido dentro do nosso protocolo”, detalha Eduardo Cruzeta, presidente da ABPO.
A adoção das boas práticas resulta em mais rentabilidade e sustentabilidade, explica Cruzeta. “[A gente usa] as práticas de nutrição que buscam trazer maior eficiência para o processo produtivo e técnicas sanitárias disponíveis também, tudo em busca de ter melhor eficiência. E ganham os nossos sistemas produtivos, mas respeitando a questão do ambiente no Pantanal”.
Pastagem ecológica
Para estimular ainda mais a pegada sustentável, além da genética, a Fazenda Santa Fé do Corixinho adotou um modelo inovador e menos impactante ao meio ambiente: a chamada pastagem ecológica.
“Nós fazemos a introdução das gramíneas no Cerrado sem fazer enleiramento, sem haver queima de material lenhoso, sem haver revolvimento do solo. Tudo isso faz com que você não tenha a emissão de carbono nesse processo de formação do pasto”, conta o presidente da ABPO.
A prática traz resultados positivos para a produção. “Esses animais ganham mais peso por cabeça e mais peso por área também (…) Tudo isso faz com que a gente tenha uma produtividade muito maior nessa área e produza uma carne com teor de carbono menor, menos carbono emitido por quilo de carne produzida”.