DURANTE A COP30

'O Brasil é líder mundial no uso de bioinsumos, mas há espaço para crescimento', afirma Mariangela Hungria

Primeira mulher brasileira a vencer o 'Nobel da Agricultura', pesquisadora afirma que os biológicos representam 15% do agro, mas há potencial para superar 50%

Reprodução Canal Rural
Reprodução Canal Rural


A COP30, realizada em Belém (PA), começou nesta segunda-feira (10) com o objetivo de nortear os próximos passos da agricultura sustentável. Em entrevista à COP TV do Agro, a pesquisadora da Embrapa, Mariangela Hungria, primeira mulher brasileira a receber o Prêmio Mundial da Alimentação 2025, considerado o “Nobel da Agricultura”, comentou sobre a importância do evento e a relevância da COP para o avanço dos bioinsumos.

“Dediquei minha vida ao estudo dos biológicos, substituindo os químicos na agricultura. Por isso, eu digo que essa COP30 é a cara da implementação dos biológicos”, afirmou. Segundo Mariangela, o Brasil é líder mundial no uso de bioinsumos, mas ainda há espaço para crescer: “Hoje os biológicos representam, no máximo, 15% da agricultura, mas temos tecnologia validada para chegar a 50% ou mais. O que precisamos são ações que viabilizem essa implementação.”

Ela destacou o exemplo da fixação biológica de nitrogênio na soja, tecnologia desenvolvida pela Embrapa. “Cerca de 85% dos agricultores utilizam. Só na última safra, economizamos US$ 27 bilhões com a redução do uso de fertilizantes nitrogenados e evitamos a emissão de 260 milhões de toneladas de CO₂ equivalente”, explicou.

Mariangela defendeu que o próximo passo é expandir o uso de bioinsumos para pequenas propriedades e outras culturas, além da soja e do milho. “Temos soluções prontas e validadas para leguminosas, árvores e pastagens. Essa COP precisa ser o ponto de partida para implementar os biológicos onde eles ainda não chegam.”

Sobre suas pesquisas atuais, ela destacou os trabalhos voltados à recuperação de pastagens degradadas. “Foram quatro décadas dedicadas a feijão, soja e milho, mas sempre me incomodou ver tantas áreas degradadas. Com a integração lavoura-pecuária e o uso de microrganismos, estamos conseguindo recuperar o solo, aumentar a biomassa e melhorar o valor nutricional das pastagens”, explicou.

Segundo a pesquisadora, a recuperação de pastagens pode dobrar a produção agrícola nacional sem derrubar uma árvore. “Hoje temos 160 milhões de hectares de pastagens, e mais da metade está degradada. Se recuperarmos essas áreas, poderemos expandir a produção de alimentos de forma sustentável.”

Embrapa como referência

A pesquisadora também ressaltou o papel da Embrapa como referência mundial. “Viajo o mundo e é impressionante como todos conhecem e respeitam a Embrapa. É uma empresa pública que devolve à sociedade o investimento feito e trabalha pelo bem coletivo”, destacou.

Mulheres na linha de frente

O protagonismo feminino também foi tema da entrevista. “Fiz agronomia porque queria contribuir para que não houvesse fome no mundo. Segurança alimentar vai muito além da produção. As mulheres têm papel fundamental em todas as etapas: das hortas domésticas às pesquisas, da agricultura familiar às escolas”, afirmou.

Ela lembrou ainda o carinho recebido após ser reconhecida com o Prêmio Mundial da Alimentação. “Recebi muitas mensagens de mulheres dizendo: ‘Se você conseguiu, nós também podemos’. Isso é o mais gratificante: saber que sirvo de inspiração para meninas e pesquisadoras.”

Sobre o legado da COP30, Mariangela foi direta. “O tema principal nem é agricultura, mas o Brasil não pode deixar de mostrar sua força no agro sustentável. Temos tecnologias prontas, falta implementação. É preciso união entre setor público, privado e terceiro setor. E essa COP pode dar a visibilidade que o agro brasileiro sustentável merece”, concluiu.

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