ENTREVISTA

CNA destaca avanço do agro na discussão climática e aponta frustrações na COP30

Vice-presidente da CNA avalia atuação do setor e aponta entraves nas negociações sobre financiamento climático e agricultura tropical

Muni Lourenço, CNA, COP30
Foto: Reprodução/Canal Rural

A participação do agronegócio brasileiro na COP30 foi um dos pontos fortes da conferência, segundo Muni Lourenço, vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e presidente da Comissão de Meio Ambiente da entidade. Em entrevista à COP TV do Agro desta sexta-feira (21), ele avaliou a presença do setor e os possíveis legados do encontro para o país.

Lourenço diz que o legado pode ser analisado em dois eixos: o que o agro deixa para a COP e o que a COP deixa para o agro.

Força do agro brasileiro na conferência

Para o dirigente, o agronegócio teve uma participação “contundente” e “robusta” na COP30. Ele destacou a atuação da AgriZone — a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa instalada na conferência — como peça central para apresentar dados científicos atualizados sobre a produção brasileira.

Lourenço citou a divulgação da nova edição do estudo de uso da terra da Embrapa Territorial, apresentada no primeiro dia da conferência. Segundo o levantamento, 65,6% do território nacional mantém cobertura vegetal nativa, e 29% dessa área está preservada dentro de propriedades privadas, o que reforça, afirmou, a contribuição direta dos produtores rurais.

Para ele, trazer a produção de alimentos ao centro das discussões foi um ganho importante da participação brasileira.

Expectativas não atendidas

Porém, o segundo eixo — o legado da COP para o agro — ainda não se concretizou. Neste sentido, o representante da CNA apontou dois pontos considerados fundamentais no posicionamento oficial da entidade, mas que não avançaram até o último dia de debates.

O primeiro é o financiamento climático, que enfrenta impasses entre países e, segundo ele, um travamento por parte das nações desenvolvidas, que teriam responsabilidade ampliada pelo Acordo de Paris.

O segundo ponto é a criação de um mandato específico para a agricultura tropical, proposta defendida pela CNA para que a produção em clima tropical seja tratada com métricas próprias. Lourenço afirmou que não há indicações de que esse mandato sairá de Belém.

Ele explicou que muitos parâmetros globais são baseados em modelos de agricultura de clima temperado, o que distorce a compreensão sobre a produção brasileira.

Cooperação internacional e papel do Brasil

Com a Turquia confirmada como sede da COP31, também localizada em região de agricultura tropical, Lourenço afirma que cresce o espaço para o Brasil compartilhar experiências. Durante a conferência, representantes de diversos países e organizações procuraram a CNA e a Embrapa para discutir cooperação internacional.

Além disso, o dirigente reforçou que o Brasil, mesmo sendo um país em desenvolvimento, é uma “potência agroambiental e energética” e parte da solução global para as mudanças climáticas. Também destacou o papel estratégico do país na segurança alimentar mundial.

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