Embrapa vai comparar emissões da pecuária em diferentes sistemas de produção

Entidade renovou parceria com associações de Mato Grosso para avaliar o balanço de carbono na produção de proteína animal

Embrapa vai comparar emissões da pecuária em diferentes sistemas de produção

Nova pesquisa da Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop, MT) vai estudar qual sistema de produção pecuária é o mais eficiente para gerar saldo positivo no balanço de carbono. A entidade assinou nesta semana um novo contrato de cooperação técnica e financeira com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e a Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte). O documento dá continuidade a uma parceria iniciada em 2015 com pesquisas sobre produção e reprodução de bovinos de corte em sistemas integrados. Agora, o foco será em indicadores sobre balanço de carbono para analisar as emissões na pecuária.

O projeto de pesquisa com duração de um ano será coordenado pelo pesquisador Alexandre Ferreira do Nascimento e avaliará quanto carbono é retirado da atmosfera e estocado no solo e, no caso de sistemas silvipastoris, quanto é estocado nas árvores. Além disso, será feita a mensuração das emissões de óxido nitroso e metano pelo solo e serão avaliados os índices de ganho de peso dos novilhos nelore.

O estudo será feito no experimento instalado há dez anos na Embrapa Agrossilvipastoril, em quatro diferentes tratamentos: pecuária exclusiva, integração lavoura-pecuária (ILP), integração pecuária-floresta (IPF) e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O objetivo é comparar as diferenças no balanço de carbono entre os sistemas.

Em participação no programa Planeta Campo, Alexandre Nascimento falou sobre as diferentes possibilidades de otimizar o balanço de carbono na produção de proteína animal. “A gente avalia a capacidade do sistema de mitigar de três formas: pode ser mudar a alimentação do animal, ou seja, melhorar a qualidade da forragem, do alimento do animal, isso faz com que você diminua as emissões do gado; (…) também nós temos aí a capacidade do sistema em produzir mais, ou seja, diminuir o tempo de abate, isso melhora porque quanto menos o boi vive, menor a idade do abate, menos ele emite gases, então essa é uma outra forma (…); e a forma de retirar os gases ou diminuir as emissões oriundas aí dos sistemas é a árvore, que é uma bomba de retirar carbono da atmosfera. (…) O sistema sem árvores, os sistemas integrados [ILP], eles têm uma alta capacidade também e o sistema de pecuária solteira também tem essa capacidade, se bem feita. Então, justamente, se a gente tiver um solo bem corrigido, se tivermos um manejo da pastagem respeitando altura de pastejo, conforme recomendação da Embrapa, nós temos incrementos do carbono no solo”, detalhou o pesquisador.

Confira a participação do pesquisador da Embrapa, Alexandre Ferreira do Nascimento, no Planeta Campo:

Importância da pesquisa

“O contrato é importante e inovador, na medida em que as instituições buscam soluções para mudanças climáticas no sentido de mensurar qual a quantidade de carbono captado na atmosfera e aportado tanto em sistemas solteiros quanto nos sistemas integrados de produção agropecuária. Será importante também o fato de a informação gerada nesse projeto poder subsidiar certificadoras em um programa maior”, afirma a chefe-geral da Embrapa Agrossilvipastoril, Laurimar Vendrusculo.

Para a realização da pesquisa, a Acrimat aportará R$130 mil, que serão usados para custeio de mão-de-obra e insumos veterinários. “Precisamos estar alinhados sempre com o que está acontecendo no mundo. As cobranças externas são enormes para nosso setor, principalmente para nossa pecuária. Essa pesquisa poderá mostrar que a pecuária atual sequestra o carbono da atmosfera através das pastagens e das florestas preservadas em cada propriedade. Para nós é um motivo de orgulho poder dar continuidade a essa parceria com a Embrapa que já dura alguns anos”, afirma o diretor presidente da Acrimat Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior.

A Acrinorte, por sua vez, fornecerá 160 bezerros nelore para serem usados no estudo. Diferentemente dos anos anteriores, quando apenas poucos pecuaristas cediam o rebanho, neste ano a diretoria da associação optou por realizar uma campanha de doação entre seus associados, de modo a ampliar a participação e envolvimento dos criadores com a pesquisa.

“O produtor, o pecuarista, o homem do campo em geral, tem a missão de trabalhar duro e para garantir que o alimento chegue até a mesa de cada cidadão. Mas o que nós mais queremos é cuidar do meio ambiente. Queremos produzir, criar, mas com sustentabilidade. Com toda certeza vamos continuar apoiando as pesquisas que nos garantam a melhoria da produção e a garantia do cuidado da nossa terra”, afirma o presidente da Acrinorte Olvide Galina.

Resultados de pesquisas anteriores

Desde o início da parceria entre Embrapa Agrossilvipastoril, Acrimat e Acrinorte, pesquisadores obtiveram informações relevantes para o setor produtivo de Mato Grosso. Na primeira etapa, os trabalhos foram feitos com machos e focaram no desempenho animal e da pastagem.

Entre os resultados encontrados, estão informações que mostram a melhor produtividade em sistemas integrados e que comprovam o efeito do conforto térmico no maior ganho de peso, mesmo de animais nelore. A segunda fase das pesquisas utilizou novilhas nelore e avaliou índices de precocidade sexual em sistemas integrados. Entre os resultados encontrados está o maior ganho de peso e espessura de gordura na garupa nos animais que ficaram em sistemas ILP e a maior concentração sérica do fator de crescimento IGF-I naqueles que ficaram em sistemas silvipastoris. Além disso, os bezerros nascidos em sistemas integrados apresentaram cerca de dez quilos a mais, em média, em comparação aos filhotes de vacas que ficaram somente em pastagem.

 

*Com informações da Embrapa