Empresas que adotam práticas ESG tem lucro 615% maior que o Ibovespa
A sustentabilidade vem sendo reconhecida, gradativamente, como um diferencial competitivo dentro das empresas
“Demanda coragem”. Essa foi uma das falas de Pedro Paro, pesquisador de doutorado da USP e CEO e fundador da Humanizadas, empresa de avaliação multistakeholder em ESG com uso de Inteligência de Dados, para a apresentar a mais nova pesquisa “Melhores para o Brasil” com dados inéditos sobre boas práticas e sustentabilidade nas organizações empresariais brasileiras.
O relatório tem como proposta extrapolar os indicadores existentes no mercado, que se limitam a olhar resultados restritos e sem base ESG, trazendo diversos apontamentos sobre como andam a cultura e clima organizacional, meio ambiente, conscientização de lideranças, relacionamento com clientes, parceiros e fornecedores.
Foram 198 empresas avaliadas (entre, Arezzo, Mercur, Banco BV, Special Dog, Dengo, Magalu, Elo7, etc), que juntas somam R$ 221 bilhões em faturamento, empregam 108 mil pessoas e impactam 51 milhões de clientes e 232 mil fornecedores e parceiros.
“As Melhores para o Brasil são apenas 1,6% do nosso PIB, mas já criam um retorno positivo de valor para todos os stakeholders. Precisamos ter consciência da nossa força, das ações, mas ainda precisamos ampliar o impacto das Melhores para o Brasil, pois temos muitas empresas que têm medo de ouvir pessoas”, afirma.
Paro ainda afirma que o mercado brasileiro revela crises na relação com seus públicos de interesse, dos acionistas ao consumidor final, de governança, liderança e significado. Enquanto isso, as Melhores Para o Brasil revelam um novo modelo de gestão e geram um valor compartilhado em cadeia, além de possuírem um retorno financeiro 615% superior a índices tradicionais como o IBOV (antigo Ibovespa) no longo prazo” , complementa Paro.
O estudo mostrou que dentre os cinco níveis de maturidade existentes (1 – Sobrevivência; 2 – Regulação; 3 – Reputação; 4 – Sustentabilidade e 5 – Regenerativo), o Brasil ainda está entre os três primeiros níveis, enquanto as empresas que já adotaram boas práticas, alcançaram os níveis 4 e 5.
Pessoas são quem fazem a empresa
O principal ponto trazido pelo relatório foi sobre pessoas. O mundo está cada vez mais flexível e adaptável a mudanças, com novas e antigas gerações todos os dias debatendo questões importantes sobre qualidade de vida, carreira, meio ambiente e problemas sociais.
“A organização se propõe a se desafiar o tempo todo a partir das pessoas. Quando você contrata, não contrata um dress code e sim uma pessoa como ela é, ou seja, com seu físico, história, habilidades, competências e tudo isso faz parte da pessoa e reconhecer e valorizar essa integralidade e o que permite às pessoas aportarem o melhor do seu potencial”, afirma Fabiano Rangel, Head de Desenvolvimento Organizacional da Leão ™.
“Antigamente se pensava que era possível educar um colaborador dentro de uma empresa com advertência ou suspensão. Mas as lideranças evoluíram. Hoje devemos fazer a autogestão e dar autonomia às pessoas, ter integralidade e cuidado nas relações. As pessoas são capazes de dar o melhor delas quando se cria confiança”, completa Lívia Zappa, Diretora de Gente e Gestão da CPI Tegus.
Fabiano ainda chama a atenção para o fato de estarmos, como membros de uma sociedade, cada vez mais próximos e não com a “dupla personalidade” de achar que após passar a porta da empresa somos uma outra pessoa.
“A família tem mais contato com a empresa nos dias atuais e ela tem um grande peso na tomada de decisão”.
Para João Paulo Figueira, gerente de desenvolvimento sustentável da Special Dog, a sustentabilidade vem sendo reconhecida, gradativamente, como um diferencial competitivo.
“Hoje, entre os principais players do mercado petfood, qualidade do produto é um parâmetro bem estabelecido e que não difere significativamente as marcas – é um padrão de mercado que precisa ser atendido. Então qual o novo diferencial que nós acreditamos? Atributos de sustentabilidade. É a relação harmoniosa e o impacto positivo que aquela empresa e seus produtos têm com o meio ambiente, o bem-estar animal e a vida das pessoas – é fazer negócios com valores. E essa mudança só é possível através da construção de um novo mindset – ético, consciente, empático e inovador”.
Em resumo, não importa o tamanho de uma empresa ou quantos anos de existência tenha, e sim a mentalidade que ela põe em cima das situações. De forma objetiva, Pedro Paro resume bem a linha de raciocínio do ESG: “quanto maior o problema da sociedade e do planeta que uma empresa resolve, mais nós precisamos dessa empresa”.