Estações trocadas? Entenda por quê as mudanças climáticas tem a ver com o ‘calorão’ no inverno
Os extremos climáticos no campo podem representar uma ameaça significativa à segurança alimentar
O calor intenso que atingiu o Brasil nesta semana durante o inverno não é um evento isolado. É apenas mais um exemplo das consequências da instabilidade climática que afeta não apenas o Brasil, mas todo o planeta.
O meteorologista Arthur Muller, do Canal Rural, aborda as altas temperaturas e os extremos climáticos que vêm ocorrendo e como eles têm afetado não só a agricultura, como todo o mundo.
O que são extremos climáticos?
Os extremos climáticos em áreas rurais, referem-se a condições meteorológicas ou climáticas fora do padrão que têm um impacto significativo na agricultura e nas áreas rurais. Esses eventos podem incluir:
- Secas: Períodos prolongados de falta de chuva que podem prejudicar as safras, reduzir a disponibilidade de água para irrigação e afetar o abastecimento de água potável para comunidades rurais.
- Inundações: Chuvas intensas, enchentes de rios ou tempestades que resultam na inundação de campos agrícolas, destruição de culturas e infraestrutura agrícola, bem como deslocamento de comunidades rurais.
- Temperaturas Extremas: Ondas de calor prolongadas ou geadas severas podem danificar plantações, prejudicar a produtividade e afetar a saúde do gado e de outros animais de criação.
- Eventos Não Habitualmente Intensos: Isso pode incluir granizo fora de temporada, tornados ou ventos fortes, que podem causar danos substanciais às colheitas, edifícios agrícolas e equipamentos.
- Mudanças Súbitas e Drásticas de Clima: Oscilações climáticas imprevisíveis podem dificultar o planejamento agrícola e a gestão de recursos naturais, tornando a agricultura mais arriscada.
- Escassez de Água: A diminuição das fontes de água, como rios e lençóis freáticos, devido às mudanças no tempo e à exploração excessiva, pode afetar a irrigação e o fornecimento de água potável em áreas rurais.
Esses extremos climáticos no campo podem representar uma ameaça significativa à segurança alimentar, à subsistência das comunidades rurais e à economia agrícola. Eles também estão intrinsecamente ligados às mudanças climáticas globais, que estão aumentando a frequência e a intensidade desses eventos extremos.
Para lidar com esses desafios, os agricultores, comunidades rurais e governos estão adotando uma série de medidas, incluindo a implementação de práticas agrícolas mais resistentes ao clima, sistemas de alerta precoce para desastres naturais, programas de adaptação climática e esforços para mitigar as mudanças climáticas. A pesquisa científica e a conscientização pública também são fundamentais para entender e enfrentar os extremos climáticos no campo.
A Instabilidade climática global
As altas temperaturas e o aumento da instabilidade climática são preocupações crescentes para cientistas e especialistas em meteorologia.
Arthur Muller apresenta um mapa do Copérnico do Centro Europeu que mostra a temperatura da superfície do mar em todo o mundo. As linhas representam a temperatura medida ao longo dos anos, com destaque para a tendência de aumento nas temperaturas.
“Isso é particularmente alarmante devido às implicações do aquecimento dos oceanos, que resultam na evaporação de mais água para a atmosfera, tornando-a cada vez mais instável” ressalta.
A mudança nos oceanos
O mapa apresentado destaca uma linha de temperatura da superfície do mar nos últimos meses que se destoa das demais, indicando oceanos mais quentes. Esse aumento nas temperaturas dos oceanos é uma média global e tem sérias implicações, como a intensificação de eventos climáticos extremos, como o “calorão”.
O calor excessivo dos oceanos resulta na evaporação de mais vapor de água para a atmosfera, alimentando tempestades e chuvas intensas. Esse fenômeno é evidenciado por eventos recentes, como as chuvas na Líbia, que causaram inundações devastadoras e perdas significativas.
Reflexos do calor no hemisfério sul
O aquecimento global não afeta apenas o hemisfério norte, mas também o hemisfério sul. Um exemplo recente disso foi um ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul, causando chuvas volumosas, ventos fortes, granizo e até mesmo geada em algumas áreas.
“Os impactos desses eventos afetam diretamente a agricultura e podem causar prejuízos significativos aos produtores”, segundo Muller.
Tendências e alertas
O meteorologista destaca que a tendência é que as temperaturas continuem aumentando, com a média global registrando um aumento de aproximadamente 0,7°C. Isso resultou nos 30 meses mais quentes já registrados na história. O mês de agosto deste ano foi o segundo mais quente, com uma média global de 16,8°C, perdendo apenas para julho, que registrou quase 17°C.
“A preocupação persiste, pois o El Niño e outros fatores podem aumentar a ocorrência de eventos climáticos extremos, como o ciclone no sul do Brasil. Produtores e comunidades devem permanecer alertas e preparados para lidar com a instabilidade climática e seus impactos, que podem se tornar mais frequentes no futuro”, finaliza.
Em resumo, as altas temperaturas, o aquecimento dos oceanos e os extremos são fenômenos que estão afetando o Brasil e o mundo de forma cada vez mais intensa. A compreensão desses eventos e a adoção de medidas para mitigar seus impactos são essenciais para enfrentar os desafios impostos pela mudança climática global.