Floresta: quanto custaria preservar?

Confira o artigo por Oberdan Pandolfi Ermita, economista, produtor rural e dirigente cooperativista

Aerial view of Beautiful footage of tropical Rainforest in Amazon, Amazon forest jungle in Brazil.
Aerial view of Beautiful footage of tropical Rainforest in Amazon, Amazon forest jungle in Brazil.

O Brasil possui 851.000.000 hectares de área, das quais pode-se considerar que 25% são florestas privadas, mantidas pelos proprietários de terras, por seu risco e ônus, que devem cumprir o código ambiental, conforme o bioma e as regras de transição de antropização.

Estas reservas privadas ocupam 851.000.000 x 25% = 212 milhões de hectares.

Se considerarmos um custo de oportunidade da atividade pecuária, segundo dados da Inttegra, um ganho médio de R$ 400/hectares/ano, remunerar esses 212 milhões de hectares, custaria anualmente entorno de US$ 16 bilhões de dólares.

Quanto representa, do ponto de vista dos serviços ambientais prestados, da mitigação de riscos e custos incorridos devido a questões de mudanças climáticas, quanto representa o ganho efetivamente econômico para a humanidade a preservação desses 212 milhões de hectares?

Preservar as florestas é tão caro assim?

Brasil lidera produção sustentável com efeito poupa-florestas
Foto: Agência Brasil

A simples dúvida que paira de que a supressão dessas áreas colocaria em risco o clima e a vida na terra, torna ínfimo esse valor de US$ 16 bilhões/ano. A título de comparação, o orçamento da guerra no mundo é estimado em 2,2% do PIB, em um PIB global de US$ 96,5 trilhões, algo como US$ 2,2 trilhões/ano.

Se a preservação das florestas no Brasil e na Amazônia evitará o armagedon, ao custo de 0,2% do PIB Global, certamente os serviços ambientais pela sua manutenção trariam ganhos certamente superiores a esse percentual.

Radicalismo

De forma resumida, existem dois extremos de percepção quanto quando se trata da questão amazônica, que acabam envolvendo também as fronteiras radicais da abordagem social e política.

Num lado, os defensores incongruentes da liberdade invocam princípios como propriedade privada, soberania, livre iniciativa, mas não aceitam cumprir o código ambiental. Naquilo que lhes convém, clamam pela Lei. A

rgumentam que a questão ambiental é mero protecionismo, e as mudanças climáticas um pano de fundo para o neocolonialismo.

No outro extremo, os ambientalistas neomalthusianos acreditam num cataclisma ambiental global e defendem uma Amazônia intocável, trazendo propostas cada vez mais restritivas.

Agro

produtor caprino ilpf
Foto: Sema

Não aceitam o código ambiental como um instrumento soberano e legítimo. Nutrem a polarização entre “agronegócio e agricultura familiar”. Ao questionarem a legitimidade da propriedade privada, inibem soluções como o pagamento por serviços ambientais.

É um falso simplismo. Também fazem parte desse jogo o embate filosófico e político que busca definir o que vem a ser liberdade e igualdade.

O diálogo e a conciliação se mostram cada vez mais desafiadores, porque a guerra cultural e a desinformação são potencializadas por algoritmos de redes sociais e de inteligência artificial, tornando cada vez mais rígido e impenetrável o encapsulamento desses grupos.

O produto da preservação de florestas, os serviços ambientais, são um bem público. Seus benefícios atendem a toda a sociedade brasileira e a humanidade, não apenas ao produtor,

Regularização ambiental e fundiária dos pequenos produtores e ao lado da vinculação do pagamento dos serviços ambientais nos projetos de transição tecnológica são as chaves para preservar a floresta.

Artigo por Oberdan Pandolfi Ermita, economista, produtor rural e dirigente cooperativista