Recomposição florestal no Brasil enfrenta desafio da baixa variedade de mudas nativas

Evento em Amparo (SP) discute a questão e busca desenvolver padrão global de biodiversidade para as florestas do país

A baixa variedade de mudas de espécies nativas disponíveis para plantio é um dos principais desafios para a recomposição florestal no Brasil. Essa dificuldade pode comprometer a perpetuação das áreas reflorestadas, pois reduz a biodiversidade, segundo especialistas.

O problema é agravado pelo fato de que muitos projetos de reflorestamento no país estão mais preocupados em cumprir as leis ambientais, garantindo rápida cobertura vegetal, ou simplesmente em fixar carbono no solo. A biodiversidade de espécies acaba ficando em segundo plano.

“Isso pode comprometer a perpetuação da floresta, pois em vários casos o que se faz, por exemplo, é um plantio predominantemente de espécies pioneiras, que têm crescimento rápido, porém vida curta”, explica Guaraci Diniz, educador ambiental e diretor do Araribá Jardim Botânico (AJB), de Amparo (SP).

“As espécies clímax, que, em ambiente natural, surgem na mata quando já há cobertura garantida pelas pioneiras – elas gostam de ambiente sombreado – acabam sendo introduzidas em quantidade aquém do ideal.”

Um viveirista de mudas nativas, que não quis se identificar, confirma que a “lei do mercado” impera no setor.

“Muitas espécies clímax são de difícil reprodução e multiplicação de sementes; há algumas, por exemplo, que, para se conseguirem apenas 2 mudas viáveis, têm de se plantar até 20 sementes”, diz.

“Logicamente essas mudas são mais caras e por isso preteridas em projetos de reflorestamento com espécies nativas, em favor de espécies mais baratas, o que reduz a biodiversidade desses projetos.”

O viveirista conta ainda que, mesmo que o projeto de reflorestamento dê preferência à biodiversidade e a espécies mais caras, também é difícil, a depender do tamanho da área a ser recomposta, obter quantidade suficiente dessas mudas.

Evento em prol das florestas

Desmatamento, Brasil, Floresta, Mata Atlântica

Foto: IAT

Para discutir a questão da falta de biodiversidade na recomposição florestal com espécies nativas, o Araribá Jardim Botânico, em parceria com a ONG britânica Botanic Gardens Conservation International (BGCI), está promovendo, a partir de segunda-feira (22) até o dia 2 de fevereiro, em Amparo (SP), o segundo encontro internacional para formulação do Padrão Global de Biodiversidade (GBS, na sigla em inglês, ou Global Biodiversity Standard).

O evento contará com palestras, workshops e treinamentos em torno do tema Padrão Global de Biodiversidade, além de exercícios práticos sobre sensoriamento remoto e parâmetros indicadores das condições da biodiversidade da fauna, flora, solo e água. Compreenderá também visitas à mata da RPPN Duas Cachoeiras, em Amparo, e ao Parque das Neblinas, no município de Suzano (SP).

O GBS é um padrão internacional de biodiversidade que busca garantir que projetos de reflorestamento e conservação florestal atendam a critérios ESG (social, ambiental e de governança). A ideia final é que projetos que de fato atendam a todos os critérios do GBS recebam a “certificação GBS”.

“O GBS é uma ferramenta importante para garantir que a recomposição florestal no Brasil seja feita de forma sustentável e que preserve a biodiversidade”, avalia Diniz. “É fundamental que o setor produtivo, o poder público e a sociedade civil se envolvam no desenvolvimento e na implementação do GBS.”

Por Estadão Conteúdo