“Se você não preservar, você não tem futuro.” A frase resume a filosofia de vida do seu Miguel e da dona Traute Reck, casal que há meio século compartilha a rotina, as decisões e os desafios da Fazenda Caruru, no interior de Mato Grosso. O casal é o vencedor do Prêmio Planeta Campo edição 2025, na categoria pequeno produtor.
Mais do que uma propriedade produtiva, o local se tornou um símbolo de respeito à terra, sustentabilidade e cooperação familiar. Juntos, eles administram uma fazenda modelo que alia rentabilidade à conservação ambiental e ao envolvimento da comunidade.
A história começou nos anos 1980, quando o pai de dona Traute decidiu buscar novas oportunidades em uma região com clima mais favorável à pecuária. A mudança trouxe também um sonho: oferecer melhores condições de vida e trabalho aos filhos, sem perder o vínculo com o campo e com os valores de quem vive da terra.
Hoje, a fazenda segue esses mesmos princípios — e inspira quem a visita. “Eu considero a dona Traute uma heroína. É esposa, mãe, avó e gestora exemplar. Nada aqui daria certo sem ela”, afirma Miguel, emocionado.
Produção sustentável e foco em resultados
Na Fazenda Caruru, o sistema é cria e recria. As vacas falhadas são engordadas e vendidas para o frigorífico, mantendo um ciclo produtivo eficiente.
A base genética é a raça brahman, com cruzamento industrial, e o rebanho é criado a pasto, com suplementação de sal mineral e proteinado durante a recria. Os dados de manejo, sanidade e desempenho são registrados e analisados constantemente, o que garante disciplina, metas claras e decisões baseadas em resultados.
A equipe técnica que acompanha o casal destaca o nível de organização da propriedade. “É uma fazenda que planeja, cumpre prazos e busca evoluir a cada safra. Há novos projetos em andamento e metas para duplicar a produtividade de forma sustentável”, reforça o extensionista que atua na região.
Educação ambiental e compromisso com o futuro
Mais do que produzir alimento, o casal decidiu investir na formação das novas gerações.
Em parceria com a escola estadual do município, criaram o programa “Adote uma Nascente”, que já envolveu cerca de 200 alunos em atividades de plantio de árvores, conservação de espécies nativas e recuperação de nascentes.
As crianças aprendem na prática sobre o ciclo da vida, o papel da floresta e a importância da água. “Os alunos não apenas plantam as mudas, mas voltam para monitorar e repor aquelas que não vingaram. Eles entendem o que é cuidar de verdade”, afirma dona Traute.
Muitos desses jovens são filhos de agricultores e levam o conhecimento para suas próprias propriedades, ajudando a construir uma cultura de sustentabilidade rural. “Preservar é garantir que as futuras gerações também tenham um bom proveito da terra. Ela é nossa mãe, é quem nos sustenta”, completa Miguel.
Planejamento, metas e legado
Com o olhar voltado para o futuro, o casal lançou o projeto Caruru Mil, que pretende dobrar a quantidade de vacas na mesma área em dez anos, sem aumentar a pressão ambiental.
O plano é ambicioso e segue três pilares: viabilidade econômica, justiça social e equilíbrio ambiental.
Para isso, contam com estudos técnicos, financiamento próprio gerado na fazenda e uma equipe engajada na inovação do sistema produtivo.
O trabalho e a dedicação renderam reconhecimento nacional. Mas, para Miguel, o maior prêmio é o compromisso de seguir evoluindo. “A homenagem aumenta nossa responsabilidade. Queremos fazer sempre melhor, porque a terra não é nossa, apenas estamos de passagem. Ela precisa continuar viva para quem vier depois.”
Com gratidão, o produtor dedica o sucesso à esposa, aos filhos e aos funcionários da fazenda.
“Eles fazem o dia a dia acontecer. Aqui, todos pensam juntos, discordam, planejam e constroem. O importante é produzir comida de qualidade, com respeito ao meio ambiente e às pessoas.”
*Sob supervisão de Luis Roberto Toledo
