CARAVANA REDE ILPF RS: Benefícios do Componente Florestal da ILPF na Pecuária de Leite do RS
Segundo a Embrapa, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área.
“A gente foi atrás de informações por causa de uma seca que aconteceu no ano 2019. A gente começou a pesquisar algo que pudesse suprir as nossas necessidades, poderia ser a implantação de construções e galpões, alimentação. Mas como essas opções teriam custo alto e a nossa família não teria como suprir essas necessidades, então a gente começou a ir em busca de outra maneira. Foi então que encontramos o sistema Silvipastoril que a gente está colocando em prática até hoje”, relembra Ederson Gehrcke, produtor de leite do município gaúcho de Augusto Pestana. O pecuarista participou do quarto dia da Caravana Rede ILPF edição Rio Grande do Sul.
A oportunidade para a mudança veio através de um desafio como a seca. A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) está redefinindo os padrões de produtividade e sustentabilidade na produção leiteira. O produtor conta que o sistema foi implantado na propriedade em dois meses. “Nós precisávamos de sombra para os animais. Teria que ser uma coisa rápida, pois eles estavam sofrendo. Cada ano que passa está mais quente. Em poucos meses plantamos os eucaliptos. Praticamente em dois meses estava pronto”, disse.
Princípios da pecuária leiteira em sistemas de ILPF
Segundo a Embrapa, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área. Pode ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades. Esta forma de sistema integrado busca otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade, diversificando a produção e gerando produtos de qualidade. Com isso reduz a pressão sobre a abertura de novas áreas.
Com a inclusão do componente florestal, essa abordagem não apenas promove a diversificação das atividades agrícolas, mas também oferece uma série de benefícios tangíveis para os produtores de leite.
- Proteção Ambiental e Conservação do Solo: As árvores plantadas dentro dos sistemas ILPF desempenham um papel fundamental na conservação do solo, prevenindo a erosão e melhorando sua estrutura física. Essa proteção ambiental não só preserva os recursos naturais, mas também contribui para a manutenção da fertilidade do solo ao longo do tempo.
- Bem-Estar Animal e Qualidade do Leite: A presença de árvores proporciona sombra natural para o gado, reduzindo o estresse térmico e melhorando o bem-estar dos animais. Esse ambiente mais confortável pode levar a uma produção de leite mais consistente e de maior qualidade, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores.
- Diversificação da Renda e Resiliência Econômica: Além da produção de leite, as árvores dentro dos sistemas ILPF oferecem oportunidades de diversificação da renda. A produção de madeira, frutas e outros produtos florestais secundários pode gerar receitas adicionais para os agricultores, tornando suas operações mais resilientes às flutuações do mercado.
- Sequestro de Carbono e Mitigação das Mudanças Climáticas: A presença de árvores nas propriedades agrícolas contribui para o sequestro de carbono atmosférico, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Isso não apenas beneficia o ambiente local, mas também posiciona os produtores de leite como agentes ativos na luta contra o aquecimento global.
- Promoção da Biodiversidade e Conservação da Fauna: As áreas florestadas nos sistemas ILPF servem como refúgio e habitat para uma variedade de espécies da fauna silvestre. Essa promoção da biodiversidade não só enriquece os ecossistemas locais, mas também contribui para o equilíbrio ecológico das regiões rurais do Rio Grande do Sul.
Componente Florestal e bem-estar animal
Os sistemas de integração com árvores levam à melhoria do conforto térmico ao fornecer sombra para o gado pois proporcionam um ambiente com temperatura mais amena, melhoria do valor nutricional da pastagem e possibilidade de suplementação alimentar para os animais.
Na propriedade do Ederson, antes da implantação do ILPF, os animais viviam em semiconfinamento, com uma alimentação diferenciada e de alto custo. “ Hoje é praticamente a metade do concentrado que era fornecido para animais. Os animais consomem muito mais pasto. 22 horas por dia o animal está consumindo pasto. Isso automaticamente se converte em leite”, explicou.
O engenheiro Florestal da Emater- Santa Rosa, Gilmar Vione, explica que a região gaúcha é quente no verão. Como a maioria dos produtores de gado leiteiro cria raças europeias, como a Jersey e Holandesa, os animais sentem a diferença de temperatura. “Esse animal sofre muito estresse térmico, que se reflete na diminuição da produção leiteira. Isso porque ele para de se alimentar, além de diminuir a qualidade do leite, pois acaba acontecendo uma acidez metabólica”, detalhou.
O produtor comenta ainda que, na sombra, os animais consomem mais pasto porque eles se sentem confortáveis. Ali dentro do sombreamento se cria um microclima. Assim, as temperaturas ficam baixas no verão e aumentam no inverno. Isso para o animal é essencial”, constatou.
O especialista da Emater- Santa Maria alerta para a necessidade de planejamento e assistência técnica nas propriedades rurais. Além de ressaltar as três vertentes sustentáveis dos sistemas integrados: ambiental, financeiro e social. “O animal por estar num ambiente mais agradável, vai ficar mais tempo pastando e não vai se estressar tanto. Isso se reflete na melhoria da produtividade, da qualidade do leite e da produção. No final das contas, vai ter mais sustentabilidade ambiental, social e financeira”, concluiu.
Conhecimento Técnico
Os benefícios que o produtor Ederson percebeu na sua propriedade foram compartilhados durante encontro que aconteceu na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), evento que fez parte da agenda do quarto dia da Caravana Rede ILPF, edição Rio Grande do Sul.
Para o professor da Universidade e secretário de desenvolvimento rural do município de Ijuí, Emerson André Pereira, é uma oportunidade de formar novos profissionais capacitados para implantar os sistemas integrados e desenvolver, ainda mais, o cenário do campo. “A gente consegue então formar novos profissionais com uma visão e uma experiência muito grande que vai ajudar no dia a dia do produtor para transformar a realidade da propriedade”, finalizou.