Mudanças climáticas podem reduzir valor nutricional de alimentos
Por isso, há grande necessidade de um esforço conjunto na promoção de práticas agrícolas sustentáveis e uma alimentação mais consciente
Na última sexta-feira, a renomada bióloga Marta Vasconcelos, da Universidade Católica Portuguesa, trouxe à tona uma preocupante constatação durante a palestra “Mudança Climática, Nutrição de Plantas e Produção de Alimentos” na FAPESP. Segundo seus estudos, o aumento crescente do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera pode resultar em uma redução significativa de nutrientes essenciais em plantas alimentícias.
Ao se aprofundar na pesquisa, Vasconcelos revelou que o acúmulo de CO2 na atmosfera estimula as plantas a sintetizarem mais carboidratos, como glicose, em detrimento de outros nutrientes cruciais para a saúde humana, como proteínas, ferro e zinco.
Essa descoberta se mostrou pessoalmente desafiadora para a pesquisadora, que dedicou seu doutoramento ao estudo da biofortificação do arroz para aumentar o teor de ferro. Agora, ela busca soluções para preservar a qualidade nutricional dos alimentos em meio ao cenário de mudanças climáticas.
Liderando o Grupo de Ambiente e Recursos e o Laboratório PlanTech, na área de Nutrição Vegetal e Biotecnologia para a Sustentabilidade, no Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF), Vasconcelos e sua equipe têm se dedicado a promover alimentos ricos em nutrientes, baseados em plantas, visando sistemas agroalimentares mais sustentáveis.
Em seus estudos, a bióloga enfatizou o papel crucial das leguminosas no enfrentamento das mudanças climáticas. Ela destacou que essas plantas têm o potencial de fertilizar naturalmente o solo e promover a biodiversidade. No Brasil, onde o feijão é um alimento básico e o maior produtor mundial dessa leguminosa, a pesquisa de Vasconcelos mostrou que algumas variedades são mais resilientes e conservam melhor os nutrientes do que outras.
A palestra também abordou a realidade alimentar de Portugal, onde a importação de alimentos é elevada e o consumo excessivo de carnes, peixes e ovos prevalece. Vasconcelos apresentou o paradoxo das leguminosas na Europa, que valoriza alimentos não geneticamente modificados e a redução no consumo de carne, mas acaba importando leguminosas geneticamente modificadas para alimentação animal.
Para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas, a pesquisadora propôs três eixos principais.
O primeiro é a necessidade de proteger e restaurar ecossistemas, além de transitar para fontes de energia renovável, enquanto que no segundo eixo é essencial investir em inovação na produção agrícola, diversificar cultivos e adotar práticas regenerativas.
Por fim, o terceiro eixo está relacionado à mudança na alimentação. Vasconcelos defende que os consumidores devem demandar alimentos mais sustentáveis, locais e diversificados, além de reduzir o consumo de proteína animal produzida de forma inadequada.
As descobertas de Marta Vasconcelos alertam para a importância de se buscar soluções para preservar a qualidade nutricional dos alimentos diante das mudanças climáticas em curso.
Seus estudos oferecem perspectivas valiosas para cientistas, agricultores e consumidores, destacando a necessidade de um esforço conjunto na promoção de práticas agrícolas sustentáveis e uma alimentação mais consciente.
Por Agência FAPESP com edição de Guilherme Nannini