Fertilizantes sustentáveis

Acordo pretende impulsionar a produção de cacau e incentivar práticas de baixo carbono

Yara e Barry Callebaut firmaram parceria para estender programa nutricional a produtores de cacau de quatro estados

Maior produtor de cacau no Brasil, a Bahia registra produtividade média de 200 a 300 quilos por hectare - Foto: Renato Medeiros
Maior produtor de cacau no Brasil, a Bahia registra produtividade média de 200 a 300 quilos por hectare - Foto: Renato Medeiros

A demanda mundial por chocolate cresce ano após ano, mas a oferta global enfrenta desafios. Quase 70% da produção de cacau vem da África Ocidental, região que sofre com clima seco, pragas, falta de investimentos e pouco apoio aos pequenos produtores.

Nesse cenário, o Brasil surge como um dos países com maior potencial para expandir a produção e conquistar espaço no mercado internacional.

Para atender a esse desafio e fomentar uma cacauicultura mais produtiva e sustentável, a Yara, empresa global de soluções nutricionais, e a Barry Callebaut moageira de cacau e fabricante de chocolates, anunciaram uma parceria estratégica.

O objetivo é oferecer nutrição de alta eficiência, assistência técnica especializada e tecnologia de ponta a produtores da Bahia, Pará, Espírito Santo e Rondônia — estados que concentram áreas importantes de produção.

Potencial para crescer

Apesar de ser o maior produtor nacional, a Bahia ainda não explora todo o seu potencial. Hoje, a produtividade média nas lavouras baianas gira entre 200 e 300 quilos por hectare, número considerado baixo frente às possibilidades da cultura. Segundo especialistas, mais de 70% dos solos nas regiões produtoras sofrem com deficiência de nutrientes, o que limita o desempenho das plantações.

Durante a Expocacau, a parceria entre Yara e Barry Callebaut foi anunciada como uma aposta para mudar esse cenário. O projeto leva ao campo soluções nutricionais inovadoras, fertilizantes de baixa pegada de carbono, agricultura de precisão e recomendações personalizadas para cada área de produção.

“A Barry Callebaut tem uma capilaridade muito grande no mercado de cacau e propósitos que se conectam com os da Yara. Queremos aumentar a produtividade, gerar rentabilidade ao produtor e fazer tudo isso de maneira sustentável. Nosso objetivo é cultivar um futuro alimentar positivo para a natureza”, afirma Guilherme Schmitz, vice-presidente de Marketing e Agronomia da Yara.

Sustentabilidade no centro da estratégia

A busca por um cacau de baixo carbono é um dos pilares do projeto. A Yara tem desenvolvido fertilizantes com menor impacto ambiental, que ajudam a preservar a matéria orgânica do solo e contribuem para a descarbonização da cadeia produtiva.

Os resultados iniciais já chamam atenção. Em lavouras demonstrativas instaladas durante a fase piloto na Bahia, o aumento médio de produtividade chegou a 30%. Com o uso de tecnologia, manejo adequado e recomendações nutricionais precisas, o potencial de ganho ao longo dos anos é ainda maior.

“Testamos, vimos que os produtores aderiram e agora estamos ampliando para mais regiões (…) A ideia é acessar mais agricultores, melhorar a qualidade do solo e permitir que o Brasil volte a ser protagonista no mercado mundial de cacau”, destaca Thiago Teodoro Santos Xavier, diretor de Sustentabilidade da Barry.

Tecnologia para decisões mais rápidas

Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos produtores era receber recomendações nutricionais em tempo hábil para planejar a compra de insumos e fazer a aplicação correta. Com base em um banco de dados atualizado e ferramentas digitais, o programa já elaborou mais de 2.000 recomendações personalizadas para as áreas atendidas.

A solução agiliza o processo entre a análise do solo e a aplicação dos produtos, permitindo um uso mais eficiente dos insumos. Com decisões de manejo mais precisas, os nutrientes são aplicados na medida certa, evitando desperdícios e garantindo melhor aproveitamento dos investimentos.

“Se a gente não tiver uma nutrição adequada, a gente vai ter uma limitação de produtividade e o solo vai se esgotando cada vez mais”, explica Francielle Bertotto, gerente de Cadeia de Alimentos & Sustentabilidade.

Rumo ao cacau carbono zero

A procura por cacau sustentável cresce globalmente, e a parceria aposta em tecnologias capazes de atender essa demanda. Com o uso de fertilizantes sustentáveis já é possível produzir cacau com 39% menos pegada de carbono, e a expectativa é que, na próxima safra, esse número chegue a 66%.

Essa mudança não beneficia apenas o meio ambiente, mas também abre novas oportunidades comerciais para os produtores brasileiros, que passam a atender mercados mais exigentes e consumidores atentos à origem e ao impacto ambiental dos alimentos que consomem.

“Precisamos trabalhar uma agricultura mais resiliente diante das mudanças climáticas dos últimos anos, tratando o solo com mais cuidado e utilizando produtos de baixa pegada de carbono que ajudem a desenvolver e preservar a matéria orgânica”, conclui Thiago Teodoro.

Marcius Ariel
Repórter do Planeta Campo, do Canal Rural. Produz conteúdo multiplataforma sobre sustentabilidade, com trabalhos realizados nos seis biomas do Brasil.
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