Agricultura de precisão e ILP podem reduzir riscos climáticos nas lavouras

Estudo da Embrapa identifica áreas de baixa produtividade e as relaciona com variáveis climáticas para ajudar produtor na tomada de decisão

Agricultura de precisão e ILP podem reduzir riscos climáticos nas lavouras

Por meio do uso de tecnologias de precisão é possível detalhar o impacto dos riscos climáticos até dentro das áreas de cultivo de uma mesma fazenda. Para isso, um mapa de colheita pode ajudar, identificando as áreas de baixa produtividade e relacionando-as com variáveis climáticas e resultados econômicos ao longo dos anos.

Esse procedimento pode auxiliar na tomada de decisão do produtor, em relação às áreas a serem cultivadas ou não, reduzindo o impacto da baixa umidade no solo. Ampliando essa perspectiva, o conceito de zonas de manejo foi utilizado no estudo para abordar a variabilidade espacial da produção dentro das áreas agrícolas.

Estudo, conduzido por cientistas da Embrapa, deduziu que a utilização de zonas de manejo, definidas com base nos mapas de produtividade de soja, que relacionam a produtividade com a posição geográfica precisa, permite o estabelecimento de um plano estratégico para minimizar os impactos dos anos secos, incluindo a substituição dos cultivos de maior risco.

“O estudo mostra que a gente pode analisar através dos anos o efeito dos riscos climáticos para condução de lavouras de verão. Aqui no Sul do Brasil, a gente tem, basicamente, a possibilidade, devido a distribuição de chuvas, de ter a lavoura durante o verão e a pastagem durante o inverno. Só que durante o verão o que a gente nota é que pelos efeitos de estiagem, que podem ser detectados com o mapa de colheita, ou seja, as automotrizes [colheitadeiras] quando vão fazer a colheita dos grãos posicionam de uma forma no espaço, através das coordenadas geográficas, a quantidade que se está colhendo em cada uma das pequenas parcelas, por exemplo, em um talhão da cultura de grãos. Com o acúmulo desse conhecimento, com o histórico e os efeitos de anos mais chuvosos ou anos com incidência de estiagem, a gente pode perceber as diferentes zonas de produtividade. Então embora a gente tenha uma média de produtividade por talhão, a gente vai ter áreas que a gente está colhendo mais e áreas que a gente está colhendo menos. (…) Então isso quer dizer que apesar do resultado médio daquela área cultivada ser positivo, existem frações daquela área que estão puxando a produtividade e o resultado econômico para baixo. Então com isso, ao identificar essas zonas, a gente pode, inclusive, escolher cultivar com outros tipos de pasto, por exemplo, ao invés de grãos”, explicou Naylor Perez, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, em entrevista ao programa Planeta Campo.

Confira o programa Planeta Campo com a participação de Naylor Perez:

O que motivou o estudo foi que os bons preços da soja nos últimos anos levaram à expansão das lavouras no Sul do Brasil e pressionam pela redução da pecuária, que historicamente se adaptou à vegetação local, solo e condições climáticas. Na região da Campanha, do Rio Grande do Sul, na última década, a área de soja cresceu 600%, enquanto o rebanho bovino reduziu 13%. Apesar da tendência de aumento da área cultivada, a produtividade da soja na região apresenta elevada oscilação relacionada, sobretudo, à deficiência hídrica no solo, influenciada pelo efeito dos fenômenos “La Niña e EL Niño”.

“Analisamos os desempenhos produtivo e econômico de três sistemas: a monocultura de soja, o sistema lavoura-pecuária com soja no verão e pastagem de azevém no inverno e o sistema lavoura-pecuária composto por soja e capim-sudão no verão e pastagem de azevém no inverno, obtido por meio de uma simulação, com a substituição da cultura da soja pelo capim-sudão em zonas de baixa produtividade de soja”, explica o pesquisador Naylor Perez, da Embrapa Pecuária Sul, que conduziu os trabalhos com o pesquisador Marcos Neves, da Embrapa Meio Ambiente.

As zonas de manejo foram definidas em função dos mapas de colheita de soja (mapas de produtividade) relativos aos seis anos anteriores, resultando em 3 zonas, uma zona que sempre foi a mais produtiva, outra com produtividade variável ao longo dos anos e uma terceira, de baixa produtividade.

Para a análise comparativa dos sistemas, foi calculado o lucro operacional para as três situações, usando os dados reais do sistema ILP implantado na área e os dados de literatura para o capim-sudão da variedade BRS Estribo. Os resultados mostraram que o sistema com o monocultivo de soja teve rendimento financeiro insatisfatório em 2 dos seis anos avaliados, sendo um deles negativo.

Já o lucro operacional do sistema ILP (soja e azevém), mostrou que a pecuária aumentou os rendimentos, deixando o sistema com resultados sempre positivos nos anos analisados. O terceiro sistema, com soja/capim-sudão e azevém, mostrou uma melhora perceptível de cerca de 24% em relação ao segundo sistema ILP no período mais seco, mostrando rendimentos similares ao segundo sistema ILP nos demais anos.

O impacto positivo do sistema ILP com soja e capim-sudão, durante o verão e azevém, no período frio, se dá pela substituição do cultivo de soja na zona de manejo de baixa produtividade, pelo capim-sudão, que no caso do estudo representava 13% da área total.

Portanto, explica Perez, além dos resultados numéricos serem uma referência para avaliar o uso prático das zonas de manejo, eles também servem para ilustrar a relevância da identificação da variabilidade das parcelas agrícolas dentro de uma mesma área, na definição das áreas de cultivo.

Conforme o pesquisador Marcos Neves, da Embrapa Meio Ambiente, “a utilização da estratégia de plantar o capim-sudão nas zonas de baixa produtividade funciona como um seguro contra os impactos financeiros negativos nos anos mais secos. Estratégias mais elaboradas podem ser definidas em função de previsões meteorológicas confiáveis para os próximos meses, onde a escolha do que plantar e em qual zona, pode variar em função desta previsão”, acredita o pesquisador.

Os experimentos foram conduzidos na Embrapa Pecuária Sul, Bagé, RS, em 13 ha, cultivados com soja durante o verão e pastagem de azevém durante o inverno, numa área anteriormente tomada pela planta invasora capim-annoni. Ao longo dos anos, a área tem sido monitorada por meio de equipamentos embarcados com GPS e sensores que permitem analisar a produtividade em cada ponto.

Com isso traça-se um mapa onde é possível identificar a variabilidade da produtividade e relacioná-las com as características de solo e clima nos diferentes anos. O monitoramento do sistema, com o acompanhamento dos custos e rendimentos é realizado desde 2011 e está incluído na Rede de Pesquisa de Agricultura de Precisão.

 

*Com informações da Embrapa