
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) será realizada em novembro de 2025, em Belém, e coloca o Brasil no centro das discussões climáticas globais. Para discutir os desafios e oportunidades do agronegócio nesse contexto, o Planeta Campo Talks recebeu Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal. Com vasta experiência no setor, Brito destacou a importância de governança, rastreabilidade e regulação fundiária para conciliar preservação ambiental, desenvolvimento econômico e inclusão social.
“A COP não é um evento do Brasil, mas sim um evento global sobre mudanças climáticas. Precisamos ajustar o foco para garantir que nossa participação traga avanços reais, e não apenas narrativas”, enfatizou Brito.
O papel do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal
Segundo Brito, o consórcio reúne os nove estados da Amazônia Legal e busca integrar as políticas públicas regionais para fortalecer o desenvolvimento sustentável. “O modelo individualizado de cada estado fracassou. Agora, buscamos uma abordagem conjunta, trazendo transversalidade nas ações”, explicou.
A ausência de governança efetiva e a ocupação irregular são desafios críticos para a região. “Não podemos continuar discutindo desmatamento ilegal em 2025. Isso é reflexo da falência da gestão pública, que não combate práticas ilegais como grilagem e ocupação irregular”, alertou Brito.
Agro e mudanças climáticas: o que o Brasil precisa demonstrar na COP 30
Um dos pontos centrais da entrevista foi a necessidade de o agronegócio brasileiro apresentar um balanço entre emissões e remoções de carbono. Brito criticou a falta de dados precisos sobre a contribuição do setor para a captura de carbono e reforçou que isso deve ser uma prioridade na COP 30.
“Medições de remoção de carbono pela agricultura ainda são escassas. Precisamos mostrar que o Brasil, com suas práticas sustentáveis, é líder na redução de impacto ambiental e não apenas rotulado como emissor”, afirmou.
O setor também precisa aproveitar a conferência para mostrar soluções como sistemas integrados de produção, restauração de pastagens degradadas e agricultura regenerativa. “A COP é uma vitrine, e temos que exibir nossa capacidade de produção com responsabilidade”, disse.
Bioeconomia e mercado de carbono: oportunidades para o Brasil
Outro tema abordado foi a bioeconomia e o potencial do Brasil para agregar valor à produção agropecuária. “Temos um estoque imenso de ativos ambientais que ainda não estão sendo monetizados de forma adequada. A Amazônia tem riquezas naturais que precisam ser desenvolvidas de maneira estruturada”, comentou.
Brito também falou sobre a lentidão na regulamentação do mercado de carbono no Brasil. “O potencial é enorme, mas falta conhecimento sobre como integrá-lo à realidade do setor agropecuário. A regulamentação precisa ser mais eficiente para atrair investimentos e criar um mercado competitivo”, destacou.
O futuro da Amazônia e do agro brasileiro
O entrevistado definiu uma meta ambiciosa para a Amazônia até 2035: “Desmatamento ilegal zero e Cadastro Ambiental Rural (CAR) 100% implementado. Isso permitiria avanços reais na regularização fundiária e na segurança jurídica para produtores”.
Por fim, Brito reforçou que a evolução do agro passa pela diversificação de produtos e mercados. “O Brasil precisa ampliar sua pauta de exportação para reduzir vulnerabilidades e consolidar sua posição como fornecedor global de alimentos sustentáveis”, concluiu.
A COP 30 é uma oportunidade única para o Brasil demonstrar sua capacidade de liderança global em sustentabilidade, desde que esteja preparado para apresentar dados concretos e soluções realistas. O agronegócio brasileiro tem um papel fundamental nesse contexto e precisa estar pronto para a vitrine mundial que será a conferência.