Aumento da aridez global: impactos e soluções para o Brasil

Relatório da ONU alerta para o avanço das áreas áridas no mundo, com destaque para o Brasil, que já registra sua primeira região nessa condição. O meteorologista Arthur Müller explica o cenário e propõe soluções para o agronegócio enfrentar o desafio.

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório alarmante sobre o avanço das áreas áridas em escala global. Segundo o meteorologista Arthur Müller, 78% da superfície terrestre enfrentou períodos de seca entre 1990 e 2020, com um aumento de 7,6% nas áreas classificadas como áridas. O Brasil, que até recentemente não possuía regiões com essas características, registrou o surgimento de sua primeira área árida no norte da Bahia, destacando a urgência de medidas de mitigação.

“O planeta está aquecendo, e isso eleva a evapotranspiração do solo, tornando-o mais seco. Sem chuvas para compensar, a tendência é que o clima fique cada vez mais árido em diversas regiões,” explica Müller. Ele reforça que esse fenômeno, além de impactar a disponibilidade de terras agricultáveis, pode afetar diretamente a segurança alimentar global, considerando que, até 2050, o mundo deverá alimentar uma população de 10 bilhões de pessoas.

Impactos no Brasil e no Agronegócio

O avanço das áreas áridas no Brasil preocupa especialistas. “A região do norte da Bahia já apresenta características de aridez, e, se não houver planejamento, esse fenômeno pode atingir áreas estratégicas como o MATOPIBA nos próximos 10 a 15 anos,” alerta Müller. Essa região abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, considerada um dos polos mais importantes para a produção agrícola nacional.

Além disso, chuvas extremas, como as registradas recentemente no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, reforçam a necessidade de adaptação às condições climáticas. Enquanto algumas áreas enfrentam enchentes e deslizamentos, outras lidam com períodos prolongados de seca. “O desequilíbrio climático é uma realidade que o agronegócio precisa enfrentar com urgência,” pontua o meteorologista.

Soluções Sustentáveis

Müller destaca que ainda há tempo para adiar ou evitar um cenário mais crítico. Entre as soluções propostas, estão o monitoramento contínuo das áreas propensas à aridez e a adoção de práticas sustentáveis, como:

  • Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF): promove a conservação do solo e maior eficiência no uso da terra.
  • Investimentos em eficiência hídrica: sistemas de irrigação por gotejamento e o reaproveitamento de água no agronegócio.
  • Captação e armazenamento de água da chuva: infraestrutura para reter e utilizar a água de forma eficiente em períodos de escassez.

O Brasil também pode desempenhar um papel de liderança global durante a próxima COP 30, que será realizada em Belém, no Pará, em 2025. “Temos muito a ensinar ao mundo em práticas de manejo sustentável e soluções climáticas,” afirma Müller.

Previsões para o Sul do Brasil

Em relação ao Sul do país, o meteorologista informa que as chuvas intensas dos últimos dias, que superaram a média mensal, dão uma trégua. No entanto, a região deve se preparar para um ciclone extratropical que pode trazer granizo e ventos fortes, especialmente no Rio Grande do Sul.