
O biochar — um carvão vegetal especial produzido a partir de resíduos agrícolas — está ganhando força como solução para aumentar a produtividade das lavouras e reduzir emissões de gases de efeito estufa. No Planeta Campo Talks, o CEO da NetZero Brasil, Pedro de Figueiredo, explicou como o modelo de economia circular adotado pela empresa vem transformando a forma de produzir no campo e ajudando agricultores a reduzir custos, aumentar colheitas e preservar o meio ambiente.
O produto, inspirado em práticas milenares dos povos indígenas da Amazônia, é obtido por um processo de pirólise rápida que garante alta estabilidade no solo, sequestrando carbono por milhares de anos. Segundo Pedro, o diferencial da NetZero é tornar o biochar economicamente viável, subsidiado por créditos de carbono, permitindo que o agricultor pague até dez vezes menos que o valor praticado no mercado internacional.
De resíduos agrícolas a ganhos de produtividade
Para garantir rastreabilidade e sustentabilidade, a NetZero utiliza apenas resíduos agrícolas como casca de café, palha de milho, casca de arroz, bagaço de cana e outros materiais ricos em carbono. Assim, evita-se a emissão de CO₂ e metano, gases que seriam liberados naturalmente na decomposição.
Pedro explica que o processo é 100% integrado com o produtor: “Nós não vendemos biochar. Instalamos plantas próximas às regiões produtoras, recolhemos os resíduos e devolvemos o biochar já subsidiado. É uma parceria em que todos ganham: o agricultor, o meio ambiente e a produtividade”.
Com plantas já em operação em Minas Gerais e Espírito Santo, e novas unidades previstas para entrar em funcionamento nos próximos meses, a NetZero expande sua atuação para culturas como cana-de-açúcar, milho e arroz, adaptando a tecnologia às necessidades regionais.
Reconhecimento internacional e próximos passos
O trabalho da NetZero Brasil ganhou destaque global ao conquistar o primeiro lugar no prêmio XPrize, apoiado pela Fundação Elon Musk, na categoria de projetos de sequestro de carbono para agricultura sustentável. O reconhecimento rendeu um aporte de US$ 15 milhões (cerca de R$ 86 milhões) para ampliar a capacidade de produção e chegar a novas cadeias produtivas.
Entre as metas para o futuro estão a instalação de plantas nas principais regiões canavieiras, aproveitando a palha e o bagaço, e a consolidação de projetos-piloto no sul do Brasil com resíduos de arroz. A ideia é ampliar o impacto positivo na redução do desmatamento, já que o aumento de produtividade com biochar permite produzir mais alimentos em áreas menores.
Um projeto com impacto social e ambiental
Para Pedro de Figueiredo, a missão da NetZero vai além da tecnologia: “Queremos melhorar a qualidade de vida de quem produz no campo e garantir que as próximas gerações possam continuar cultivando com sustentabilidade”. Ele reforça que a adesão ao modelo depende do engajamento de produtores, empresas e consumidores, criando uma cadeia agroindustrial mais responsável e alinhada às metas globais de clima.
Com um pé no passado, ao resgatar um conhecimento ancestral, e outro no futuro, usando ciência e economia circular, o biochar surge como uma das tecnologias mais promissoras para um agronegócio de baixo carbono — e o Brasil tem tudo para liderar essa transformação.